Apelos do junho verde

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A Campanha Junho Verde significa um avanço à Política Nacional de Educação Ambiental, pois contribui para um entendimento cada vez mais qualificado sobre a importância da conservação dos ecossistemas naturais, com a proteção de todos os seres vivos. Instituída a partir da lei federal 14393/2022, a Campanha Junho Verde é iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em diálogo com o Congresso Nacional. A união de todos é fundamental para que seja alcançada a inadiável meta de controlar a poluição e a degradação dos recursos naturais. Sublinhe-se que a lei federal 14393/2022 amplia a responsabilidade do poder público federal, estadual, distrital e municipal, que deve trabalhar em parceria com escolas, universidades, igrejas, empresas, comunidades tradicionais, populações indígenas e outros segmentos para uma necessária reação: urge consolidar novos estilos de vida, em contraponto às ações e opções predatórias em relação ao meio ambiente.

Evoca-se a importância de lutar para que sejam efetivadas políticas públicas e legislações capazes de barrar a voracidade do extrativismo e enfrentar a hegemonia da lógica do lucro a todo custo. Esse extrativismo e essa lógica deixam consequências terríveis. Por isso, a sociedade precisa investir na consolidação de posturas coerentes com a salvaguarda do meio ambiente, sob pena de sofrer, de modo cada vez mais grave, as consequências de crimes ambientais, que não raramente levam cidadãos e cidadãs à morte. A Campanha Junho Verde é, pois, uma iniciativa educativa e política de especial importância, convocando todos para a adoção de um novo estilo de vida, capaz de preservar a casa comum.

Na Campanha Junho Verde é observado o conceito de ecologia integral, que sublinha o indissociável vínculo entre a dimensão social e os diferentes desafios ambientais. O conceito de ecologia integral possibilita essa compreensão mais adequada graças às riquezas herdadas da Carta Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, sobre o cuidado com a casa comum. As orientações do Pontífice, ao mesmo tempo que inspiram nova mentalidade para lidar com a natureza, têm força para alavancar mudanças nos cenários sociais. À luz do princípio da ecologia integral, pode-se reconhecer que há, por exemplo, uma relação entre o grave problema da fome que massacra milhões de brasileiros com a predatória mineração que contamina o meio ambiente.

Tenha-se presente a interpelante afirmação do Papa Francisco, em referência ao planeta Terra: “Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou”. Assim, é significativo e esperançoso convocar a sociedade, envolvendo órgãos governamentais, para reconhecer os fundamentos da ecologia integral e, consequentemente, buscar reverter dinâmicas que levam ao esgotamento dos recursos naturais. A pauta da ecologia integral não pode ser simplesmente bandeira da militância política e ambiental. Deve ser compromisso também vinculado à autêntica vivência da espiritualidade, pois quem professa a fé cristã deve reagir a tudo que leva à deterioração humana e social. Nesse sentido, a Campanha Junho Verde alimenta reações, com o reconhecimento de que a crise ecológica atual tem raiz humana.

O Papa Francisco profetiza sobre a existência de um modo desordenado de conhecer a vida e a ação do ser humano. Para constituir, pois, um horizonte luminoso e qualificado é importante acolher, especialmente, as ricas interpelações do capítulo quarto da Carta Encíclica Laudato Si’, que detalha o conceito de ecologia integral, evidenciando o vínculo entre as dimensões ambiental, econômica e social. Ao enfrentar os problemas contemporâneos, deve-se reconhecer que tudo está interligado. O Papa Francisco sublinha a importância de melhor compreender a ecologia da vida cotidiana, ao explicar o que significa um progresso autêntico: investir na melhoria global da qualidade de vida do ser humano. Para isso, são necessários investimentos na construção de diálogos e de políticas públicas.

A união de todos para a defesa do meio ambiente e a promoção do desenvolvimento integral pede que cada pessoa assuma a sua responsabilidade na construção de um forte sentido de comunidade. Pede ainda uma especial capacidade de solicitude e uma criatividade mais generosa, um amor apaixonado pela própria terra. Conforme indica o princípio da ecologia integral, é urgente promover transparência e diálogos nos processos decisórios, superando a corrupção motivada pela busca do lucro, que esconde o verdadeiro impacto ambiental de diferentes projetos. Ao lado da adequada abordagem sociopolítica do conceito de ecologia integral, deve estar a dimensão espiritual, fonte que alimenta a solidariedade e permite superar exclusões. Os apelos da Campanha Junho Verde sensibilizam para a necessidade de uma busca comum pela defesa da vida no planeta, um compromisso cidadão e cristão com a justiça social, uma indispensável plataforma para a prática da amizade social.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte (MG)

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