“Quando uma empresa se torna “família”, em que a administração se preocupa com o fato de que as condições de trabalho estejam sempre a serviço da comunidade, os trabalhadores, por sua vez, tornam-se “fonte de enriquecimento”, ressalta o Papa.
O Papa Francisco enviou recentemente uma mensagem aos participantes do 26° Congresso Mundial da União Internacional de Associações de Diretores Católicos (Uniapac), realizado em Lisboa, Portugal, de 22 a 24 deste mês.
Segundo o texto, o Pontífice convida as empresas a construírem uma sociedade mais humana e fraterna que possa “tornar os bens deste mundo mais acessíveis a todos”.
A Uniapac foi fundada, em 1931, como Conferência Internacional de Associações de Empresários Católicos entre as federações de Holanda, Bélgica e França e com observadores da Itália, Alemanha e República Tcheca.
O seu nascimento ocorreu por ocasião do 40º aniversário da Encíclica “Rerum Novarum” de Leão XIII. Depois da II Guerra Mundial, a Uniapac expandiu-se para outros países da Europa e América Latina e em 1949 mudou seu nome para a versão francesa “Union Internationale des Associations Patronales Catholiques”. Em 1962, a Uniapac tornou-se uma associação ecumênica com a nova denominação “International Christian Union of Business Executives”, mantendo suas iniciais.
Princípios da Doutrina social cristã
Segundo o Papa, “desde suas origens, cerca de 80 anos atrás, esta federação procurou traduzir os princípios e diretrizes da Doutrina social cristã em termos econômicos e financeiros à luz da mudança dos tempos. O atual contexto de globalização da atividade econômica e do comércio influenciou profundamente as perspectivas, objetivos e formas de conduzir o comércio. A sua decisão de refletir sobre a vocação e a missão dos líderes econômicos e empresariais é essencial e necessária mais do que nunca. Com a intensificação dos ritmos de vida e trabalho (…) os objetivos dessa mudança rápida e constante não são necessariamente orientados ao bem comum e ao desenvolvimento humano, sustentável e integral, mas torna-se preocupante quando se muda em deterioração do mundo e da qualidade de vida de grande parte da humanidade”(Laudato Si’, 18).
Centralidade da pessoa humana
“Na vida profissional encontram-se muitas vezes situações de tensão em que é necessário tomar decisões práticas importantes de investimento e gestão. Pode ser útil recordar três princípios existentes no Evangelho e no ensinamento social da Igreja. O primeiro, é a centralidade de cada pessoa, com as suas capacidades, aspirações, problemas e dificuldades. Quando uma empresa se torna “família”, em que a administração se preocupa com o fato de que as condições de trabalho estejam sempre a serviço da comunidade, os trabalhadores, por sua vez, tornam-se “fonte de enriquecimento”. Eles são incentivados a colocar seus talentos e capacidades a serviço do bem comum, sabendo que sua dignidade e suas circunstâncias são respeitadas e não simplesmente exploradas”.
Regra do bem comum
“No exercício desse discernimento econômico”, prossegue o Papa, os objetivos a serem fixados devem sempre ser guiados pela regra do bem comum. Este princípio fundamental do pensamento social cristão ilumina e, como uma bússola, orienta a responsabilidade social das empresas, sua pesquisa e tecnologia, e seus serviços de controle de qualidade, para a construção de uma sociedade mais humana e fraterna que possa “tornar os bens deste mundo mais acessíveis a todos” (Evangelii Gaudium, 203). O princípio do bem comum indica o caminho para o crescimento equitativo, onde “as decisões, programas, mecanismos e processos são especificamente orientados para uma melhor distribuição de renda, a criação de emprego e uma promoção integral dos pobres que vá além de uma simples mentalidade assistencial” (Evangelii Gaudium, 204).
Valor moral e econômico do trabalho
No terceiro ponto, o Papa Francisco ressalta que nunca devemos perder de vista o valor moral e econômico do trabalho, nosso meio de colaborar com Deus numa “criação permanente”, que acelera a vinda do Reino de Deus, promovendo a justiça e a caridade social e respeitando as duas dimensões individual e social da pessoa humana. A nobre vocação dos líderes empresariais será evidente na medida em que toda atividade humana se torna testemunha de esperança para o futuro e um estímulo a uma maior responsabilidade social e preocupação, através do uso sábio dos talentos e habilidades de cada um. Como a primeira comunidade de apóstolos, escolhidos para acompanhar Jesus ao longo do seu caminho, vocês também, como diretores e empresários cristãos, são chamados a empreender um caminho de conversão e testemunho com o Senhor, permitindo-lhe inspirar e guiar o crescimento de nossa ordem social contemporânea”.
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