Aprendei com os sinais dos tempos

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Estamos no penúltimo Domingo do Ano Litúrgico. Nesse 33º Domingo do Tempo Comum, a pedido do Papa Francisco, que criou esse dia, comemoramos o Dia Mundial das Pobres. O tema de sua mensagem para este dia é “este pobre clama e o Senhor o escuta”. É a chegada de uma semana de intensas atividades no campo da solidariedade.

No Domingo próximo, a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo iniciará a semana que encerrará este ano da Igreja, ou seja, o ano litúrgico. Nestas últimas semanas do atual ano litúrgico e nas primeiras do próximo, a liturgia via nos questionar sobre as últimas verdades e a questão da escatologia e Parusia.

Pois bem, neste 33º domingo a Palavra de Deus, nos recorda que, como o ano, também a nossa vida passa, e passa veloz. Assim, o Senhor nos convida à vigilância e nos exorta a que não percamos de vista o nosso caminho neste mundo e o destino que nos espera. Nossa vida tem um rumo, o mundo e a história humana têm uma direção!

Hoje, a Palavra de Deus adverte: tudo estará debaixo do senhorio de Cristo! Por isso, numa linguagem de cores fortes e figuras impressionantes, Jesus diz que a criação será abalada pela sua Vinda: “O sol vai escurecer e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas” (cf. Mc 13,24-25). Que significa isso? Que toda a criação será palco dessa Revelação da glória do Senhor, toda a criação será transfigurada e alcançará a plenitude no parto de um novo céu e uma nova terra onde a glória de Deus brilhará para sempre! O Senhor afirma ainda que também a história chegará ao fim e será passada a limpo. Cristo fala disso usando a imagem da grande tribulação, isto é, as dores e contradições do tempo presente, que vão, em certo sentido se intensificando neste mundo. Por isso mesmo, a primeira leitura  (cf. Dn 12,1-3), do Profeta Daniel, fala em combate e em tempo de angústia. É o nosso tempo, este tempo presente, que se chama “hoje”.

Essas leituras são atuais e consoladoras, sobretudo nos dias atuais, quando vemos o Cristo enxovalhado, o cristianismo perseguido e desprezado, a santa Igreja Católica caluniada. Não é de hoje que a Igreja sofre e que os cristãos são perseguidos, ora aberta, ora veladamente. Já no longínquo século V, Santo Agostinho afirmava que a Igreja peregrina neste tempo, avançando entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus! O perigo é a gente perder de vista o caminho, perder o sentido do nosso destino, esfriar na vigilância, perder a esperança, abandonar a fé.

Caminhamos para o Senhor como celebramos no início deste mês de novembro com a festa de todos os santos e a comemoração dos fiéis defuntos. O mudo vai terminar no Cristo, como um rio termina no mar; a história vai encontrar o Cristo, tão certo quanto a noite encontra o dia; nossa vida estará diante do Senhor, tão garantido quanto o vigia cada manhã está diante da aurora! Por isso mesmo, é indispensável vigiar e trazer sempre no coração a bendita memória do Salvador, a firme esperança nas suas promessas, a segura certeza da sua salvação! Vede bem: na Manifestação do nosso Senhor, ele nos julgará! Na sua luz, tudo será posto às claras: se é verdade que sua Vinda é para a salvação, também é verdade que todos quantos se fecharam para ele, perderão essa salvação. Nosso destino é o céu, mas estejamos atentos: o inferno, a condenação eterna, a danação sem fim, o fogo que devora para sempre, são uma real possibilidade! Haverá um Juízo de Deus em Jesus Cristo: “Muitos dos que dormem no pó da terra despertarão, uns para a vida eterna, outros para o opróbrio eterno. Nesse tempo, teu povo será salvo, todos os que se acharem escritos no Livro”.

Não brinquemos de viver, não vivamos em vão, não sejamos fúteis e levianos, não corramos à toa a corrida da vida! É o nosso modo de viver agora que decidirá nosso destino para sempre! Por isso mesmo, Jesus nos previne: “Em verdade vos digo: esta geração não passará até que tudo isto aconteça!”(cf. Mc 13,30) Em outras palavras: não importa quando ele virá – ele mesmo diz: Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai”(cf. Mc 13,32); importa, sim, que estejamos atentos, importa que vivamos de tal modo que, quando ele vier no momento de nossa morte, estejamos prontos para comparecer diante dele e diante dele estar no último Dia, quando tudo for julgado! O juízo que nos espera é um processo: começa logo após a nossa morte, quando, em nossa alma, estaremos diante do Cristo e receberemos nossa recompensa: o céu ou o inferno! E no final dos tempos, quando Cristo se manifestar em sua glória, nosso destino também será manifestado com toda a criação e o nosso corpo, ressuscitado no fim de tudo, receberá também a mesma recompensa de nossa alma: o céu ou o inferno, de acordo com o nosso procedimento nesta vida.

A segunda leitura ensina que: “Todo sacerdote se apresenta diariamente para celebrar o culto, oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, incapazes de apagar os pecados. Cristo, ao contrário, depois de ter oferecido um sacrifício único pelos pecados, sentou-se para sempre à direita de Deus”(cf. Hb 10,11-12). O livro da vida (cf. Ap 20,12), no qual fomos inscritos pelo Batismo, após Jesus “ter oferecido um sacrifício único pelos pecados” (Cf. Hb 10,12) de todos nós, nos lembra que tudo nesta vida passa, menos Cristo Ressuscitado.

Portanto, palavras deste mundo não podem descrever o que pertence ao mundo que há de vir. O que a Escritura deseja é nos alertar a que vivamos na verdade, vivamos na fé, vivamos na fidelidade ao Senhor… vivamos de tal modo esta nossa vida, que possamos, de fé em fé, de esperança em esperança, alcançar a vida eterna que o Senhor nos prepara, vida que já experimentamos hoje, agora, nesta santíssima Eucaristia, sacrifício único e santo do nosso Salvador que, à Direita do Pai nos espera como Juiz e Santificador. A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém! (Via CNBB)

Foto:Divulgação

Autor: Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)

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