A dureza da guerra não pode ser subestimada, afirma Papa Francisco a líderes religiosos

O Papa Francisco participou nesta segunda-feira nos Emirados Árabes Unidos de um encontro inter-religioso no qual assinalou que a fraternidade humana exige “banir toda a nuance de aprovação da palavra guerra” e restituí-la “à sua miserável crueza”.

Este foi o primeiro discurso do Papa em sua visita aos Emirados Árabes Unidos. Durante o evento, Francisco também foi reconhecido pelo governo por seu compromisso em difundir a paz e assinou uma declaração sobre a fraternidade humana com o Grande Imã, Ahmed Muhammad Ahmed el-Tayeb.

Após os discursos do Príncipe Herdeiro, Xeque Mohammed bin Zayed Al Nahyan, e o Grande Imã de Al-Azhar, Dr. Ahmed Muhammad Ahmed el-Tayeb, no qual pediu para não instrumentalizar religiões, o Santo Padre recordou que “neste delicado momento histórico, talvez como nunca antes, uma tarefa que não se pode adiar mais: contribuir ativamente para desmilitarizar o coração do homem”.

“A corrida aos armamentos, o alargamento das respectivas zonas de influência, as políticas agressivas em detrimento dos outros nunca trarão estabilidade. A guerra nada mais pode criar senão miséria; as armas nada mais, senão morte!”, expressou o Papa.

O encontro aconteceu no Memorial dos Fundadores de Abu Dhabi e participaram cerca de 700 representantes de doze religiões.

Em seu discurso, o Papa recordou os conflitos no Iêmen, Síria, Iraque e Líbia e disse que “fraternidade humana impõe-nos, a nós representantes das religiões, o dever de banir toda a nuance de aprovação da palavra guerra. Restituamo-la à sua miserável crueza”.

O Papa Francisco quis também se dirigir a todas as nações da Península Arábica, às quais enviou “uma saudação cordial com respeito e amizade”.

Além disso, o Pontífice agradeceu ao Senhor pelo oitavo centenário do encontro entre São Francisco de Assis e o sultão al-Malik al-Kamil e disse que aceitou esta oportunidade para visitar este país “como crente sedento de paz, como irmão que procura a paz com os irmãos. Desejar a paz, promover a paz, ser instrumentos de paz: para isto, estamos aqui”.

“O ponto de partida é reconhecer que Deus está na origem da única família humana. Criador de tudo e de todos, quer que vivamos como irmãos e irmãs, morando nesta casa comum da criação que Ele nos deu”, recordou o Papa e destacou que “todos temos igual dignidade, pelo que ninguém pode ser dono ou escravo dos outros”.

Nesta linha, o Papa destacou que “não se pode honrar o Criador sem salvaguardar a sacralidade de cada pessoa e de cada vida humana: cada um é igualmente precioso aos olhos de Deus. Com efeito, Ele não olha a família humana com um olhar de preferência que exclui, mas com um olhar de benevolência que inclui” e alertou sobre o “inimigo” da fraternidade “que é o individualismo”.

Por outro lado, o Papa expressou sua gratidão “pelo compromisso deste país em tolerar e garantir a liberdade de culto, contrapondo-se ao extremismo e ao ódio”. Em sua opinião, “promove a liberdade fundamental de professar o próprio credo, exigência intrínseca na própria realização do homem, vela-se também para que a religião não seja instrumentalizada e corra o risco de, admitindo violência e terrorismo, se negar a si mesma”.

No entanto, o Pontífice recordou a importância da liberdade religiosa que “não se limita à mera liberdade de culto, mas vê no outro verdadeiramente um irmão, um filho da minha mesma humanidade, que Deus deixa livre e, por conseguinte, nenhuma instituição humana pode forçar, nem mesmo em nome d’Ele”, insistiu.(ACI Digital)

Papa Francisco com o Grande Imã de Al-Azhar em Abu Dhabi. Foto: Vatican Media

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