Uma dor sem limites

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Foi uma surpresa geral, daquelas que nunca esquecemos. Cada um de nós sabe dizer com precisão onde estava e o que estava fazendo na manhã do dia 24 de agosto passado. A notícia da tragédia na Baía de Todos os Santos imediatamente virou notícia nacional e internacional.

Depois da surpresa, vieram as perguntas: Como aconteceu? Era inevitável que acontecesse? Poderá acontecer novamente? Surgiram explicações de técnicos e autoridades, e multiplicaram-se reportagens da Imprensa. Num ponto, todos estão de acordo: trata-se de um fato de gravidade grandiosa demais, triste demais para poder ser avaliado profundamente em tão pouco tempo.

Momentos como esse têm o dom de nos fazer testemunhar gestos de amor e solidariedade que não vemos no dia a dia. Em meio a tanta notícia de assassinatos e roubos, consola-nos ver que as pessoas têm um tal potencial de bondade que faz renascer em nós a esperança no ser humano. Tomamos consciência, também, de que o homem moderno, responsável por tantas descobertas, não consegue inventar uma máquina que cure as feridas do coração.

O que a fé nos ensina sobre isso?  Qual o olhar de Jesus sobre o que aconteceu na Baía de Todos os Santos? Que respostas nós, seus discípulos, temos para oferecer às famílias atingidas pela tragédia?

Começo pelo que é fundamental: Deus não quer o sofrimento de ninguém. Seria um absurdo dizer que o que aconteceu é da vontade de Deus. Deus é amor! Seu Filho Jesus desejou que sua alegria estivesse em nós, e a nossa fosse completa. Mas, então, onde encontrar uma explicação para tanto sofrimento? É preciso levar em conta que há sofrimentos causados pela natureza: a ação de um tsunami, a erupção de um vulcão, a devastação de um tufão… Contra isso, pouca coisa podemos fazer, embora, por vezes, eles aconteçam por desequilíbrios que o próprio homem causou à natureza. Há sofrimentos que nascem de descuidos: a mão da criança que se queima porque ninguém percebeu que ela brincava com fogo. Há sofrimentos que nascem do coração humano, que premeditadamente quer fazer o outro sofrer ou morrer, e faz. E há sofrimentos que nascem de omissões ou irresponsabilidades. Não fizemos o que deveríamos ter feito, ou o fizemos de forma errada. No caso em questão, isso é o que precisa ser apurado por quem tem obrigação de fazê-lo, para que uma tragédia como essa não se repita.

O apóstolo Paulo lança uma luz sobre o que estamos vivendo: “Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28). “Tudo” – também, pois, os sofrimentos que nasceram aqui perto de nós, na manhã do dia 24 de agosto, na Baía de Todos os Santos, e que deram origem a uma dor sem limites. Que Deus nos ajude a tirar lições disso!

Autor:Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Arcebispo de São Salvador da Bahia – Primaz do Brasil

Fonte:Arquidiocese de Salvador

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