O BOTE DA COBRA

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Texto: Padre Joacir S. D´Abadia

Eu via a própria cobra dar bote em sua sombra, espreitar sobre si mesma; correr, voltar para si. Rastejar! Outra vez voltar, de novo. Seguir! Mas lá estava a mesma cobra, sempre espreitando sobre si mesma: contorcia, remexia, virava, colocava-se ao contrário, voltava de novo, e continuava lá.

Continuava sendo a cobra que dá bote em si mesma. Eu vi, vi mesmo aquela cobra que se contorcia, mas entendi que aquela cobra se chamava sociedade que quer picar-se, uma sociedade que dá bote em si mesma, uma sociedade que quer picar-se, excluindo dos seus ditames os valores primordiais da humanidade, do próprio ser humano rasgando em si o aquilo que se chama leis, destruindo o próprio ser do homem com falácias, palavras falatórias,  que não dizem nada, que não remetem àquilo que é a sua existência de ser.

Eu estava lá, vendo aquela cobra que se chama sociedade maltratando seus filhos, destruindo carcomidos, e aqueles inúteis, os quais ela tinha. Isso mesmo, eu vi uma sociedade dando bote em seus próprios súditos, sem ter amigos, sem ter esperança estava lá, mais do que nunca, viva, rodeada como que sobre uma espiral, rodeada do palácio, da câmara, todas essas vespas que chegavam picando todos os cidadãos, que de vez em quando sentia que existia a sociedade, quando então aparece essa cobra que espreita seus súditos.

Ela se apresenta… Oh, como não!

Olha o que direi! Vou dizer. Essa sociedade se apresenta a cada dois anos, em uma palavra que se chama “urna”, mas, no entanto, esse mesmo local é onde ela se vira para picar ferozmente, para picar a cada um desses que chamamos de humanos, sim, somos humanos.

Vivendo nessa sociedade e tendo que enxergar dia após o outro dia e outro mais, outros tantos, essa mesma cobra se voltar para si mesma, voltaria contra seus subservientes e estaria sendo rodeada de não princípios, mas que se exclui da responsabilidade de ser o que é: defensora desses mesmos seres humanos fracassados que acreditam em uma democracia totalmente defasada, isso mesmo estou vendo, continuo enxergando, vejo ainda mais essa cobra que se chama sociedade, vejo essa cobra dando bote em seus próprios súditos, nós, os cidadãos, eu vejo.

 Padre Joacir S. D´Abadia – Pároco de Alto Paraíso de Goiás. Filósofo. Escritor. Articulista. Especialista em Docência do Ensino Superior. Membro da Academia de Letras e Artes do Nordeste Goiano (ALANEG) e da Casa do Poeta Brasileiro -Seção Formosa – GO. Colunista filosófico das revistas Xapuri e Bem-Viver, e do jornal Alô, Vicentinos.

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