Filhas da Misericórdia: “Para elas, uma surpresa. Para nós, uma grande graça”

Dom Joel, monsenhor Jan Kaleta, cônego Robert, as irmãs Christofora Jagta, Hieronima Kuta, Solange Dias Pereira, padre Jan Flig, madre Petra Kowalczyk, Dom Orani, Dom Roberto e padres Jan Sopicki, Ricardo Barkiewicz e Tiago Blaszczyk

Para os devotos da Divina Misericórdia, o dia 22 de fevereiro é considerado uma data singular, porque marca o encontro místico entre Santa Faustina e Jesus Cristo, numa cela do convento da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora Mãe da Misericórdia, em Plock, na Polônia. Nesse dia, o Senhor pediu para que fosse pintada uma imagem, exatamente da maneira que a jovem religiosa via: a imagem de Jesus Misericordioso, jorrando sangue e água viva.

A data também se tornou especial para a Arquidiocese do Rio de Janeiro porque, na manhã desta quarta-feira, 22 de fevereiro, houve a celebração de instalação canônica da primeira comunidade da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora Mãe da Misericórdia no Brasil, a mesma da qual Santa Faustina fez parte. A celebração aconteceu no Educandário Gonçalves de Araújo, em São Cristóvão.

De acordo com o arcebispo do Rio, Cardeal Orani João Tempesta, a missão da congregação será destinada, inicialmente, ao trabalho e evangelização de crianças. Porém, mesmo agora, já existem jovens que desejam ingressar e realizar uma experiência vocacional na congregação.

“A congregação exerce uma atração muito grande para as vocações. Já havia pedidos de muitas jovens que gostariam de fazer essa experiência. Além disso, elas possuem um trabalho muito importante com crianças. Surgiu, assim, a necessidade de uma instituição com um trabalho destinado às crianças, então convidamos as irmãs. Elas vão cuidar do Educandário Gonçalves de Araújo, junto à Irmandade do Santíssimo Sacramento da Candelária e, ao mesmo tempo, de todas as jovens que estão interessadas em consagrar-se a Deus, no carisma dessa congregação”, afirmou o arcebispo.

A Congregação das Irmãs de Nossa Senhora Mãe da Misericórdia tem como carisma o trabalho com a misericórdia, ajudando pessoas que se perderam um dia na vida, trazendo-as, novamente, a Jesus Cristo. Na Polônia, o trabalho é realizado principalmente com meninas em situação de vulnerabilidade social.

Além das cidades polonesas, a congregação possui casas em outros seis países: República Tcheca, Eslováquia, Itália, Jerusalém, Estados Unidos e Cuba. Ao todo, cerca de 400 irmãs fazem parte da congregação.

Recepção

Para a missão que será realizada no Rio, foram enviadas três religiosas da Polônia: as irmãs Hieronima Kota e Christofora Jagla, ambas polonesas, e a irmã Solange Diniz, carioca, que faz parte da congregação há 20 anos. Elas vieram acompanhadas da madre-geral Petra Kowalczyk. No dia 19 de fevereiro, elas foram recepcionadas no Galeão por uma multidão de devotos da Divina Misericórdia e pelo vigário episcopal para a Vida Consagrada, Dom Roberto Lopes. No dia seguinte, as religiosas foram recebidas no Palácio São Joaquim, na Glória, pelo Cardeal Tempesta, os bispos auxiliares Dom Joel Portella Amado e Dom Luiz Henrique da Silva Brito, e também por diversos sacerdotes poloneses que trabalham no Rio de Janeiro.

Diversidade de carismas

Para o vigário episcopal para a Vida Consagrada e delegado arquiepiscopal para a Causa dos Santos do Rio de Janeiro, Dom Roberto Lopes, a vinda das religiosas vai contribuir para a diversidade de carismas da arquidiocese, uma vez que várias instituições se dedicam a viver a misericórdia.

“Creio que as irmãs que vão permanecer conosco serão uma grande riqueza para nossa realidade. Elas vêm justamente para colaborar com nossa arquidiocese e com a diversidade de carismas, sendo este um tão querido pelo povo, não só da Arquidiocese do Rio, mas do Brasil. Atualmente temos vários segmentos na Igreja, como movimentos, novas comunidades, institutos apostólicos, fraternidades, que seguem e vivem os ensinamentos deixados por Santa Faustina. Agora, precisamos dar todo o apoio e rezar pedindo a Deus para que as abençoe, pois para nós é uma grande alegria”, destacou.

As religiosas

Segundo a irmã Solange Diniz, o retorno ao Brasil para fundar a congregação é a realização de um desejo que ela carrega desde o dia em que embarcou para a Polônia para viver de acordo com os ensinamentos deixados por Santa Faustina.

“Quando ingressei na congregação, na Polônia, em 1997, já sentia o desejo de trazê-la ao Brasil, fundando uma casa no Rio de Janeiro. Esse desejo existe há 20 anos. Ainda não consigo acreditar no que está acontecendo, tudo ainda é muito novo. Sinto uma grande alegria em realizar essa missão, tendo a  oportunidade de difundir a mensagem de Jesus Misericordioso diretamente da fonte, de onde nasceu. Apesar de toda sua simplicidade, Santa Faustina foi escolhida para relembrar ao mundo inteiro uma verdade muito antiga, presente nas Sagradas Escrituras: a misericórdia é maior que a justiça”, destacou.

A madre-geral da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora Mãe da Misericórdia, Petra Kowalczyk, com sede em Varsóvia, na Polônia, afirmou que a vontade de Deus está sendo realizada através do sim da congregação para a missão no Rio de Janeiro.

“Sinto uma alegria muito grande. Esse já era um desejo da irmã Solange e que agora se concretiza. Também está sendo realizada a vontade de Jesus Cristo que, através de Santa Faustina, transmite essa mensagem ao mundo inteiro ao realizar essa missão através da palavra, da oração e de um trabalho com crianças”.

Mesmo sem muita familiaridade com a língua portuguesa, as religiosas Hieronima Kota e Christofora Jagla, também relataram a alegria em servir na missão. Irmã Hieronima ressaltou que aprender português será fundamental para que ela possa servir ao povo.

“Estou feliz por estar nesse país lindo. Mas para conhecê-lo melhor, preciso saber a língua portuguesa, porque ainda não a conheço. Acredito que vou conseguir aprender para, assim, poder entrar no clima do país, para que eu possa servir as pessoas no Brasil”, relatou.

Já a irmã Christofora afirmou gostar do sol e, por isso, se alegrou com o clima tropical da cidade. Segundo ela, conhecer a cultura do povo no dia a dia fará com que essa cultura se torne dela também.

“Estou muito alegre em estar aqui. Acredito que esse é o desejo de Jesus Misericordioso. Gosto de sol, por isso, fico muito contente com o clima do Rio e também gosto muito da fraternidade dos brasileiros. Isso me ajuda muito a me aprofundar mais. Fico muito feliz por conhecer a cultura, a qual vou aprender mais no dia a dia, para que essa cultura se torne minha também”, completou.

O convite

Com a necessidade de congregações com trabalhos voltados para crianças e tendo em vista os pedidos de muitas jovens para a realização de uma experiência vocacional, o Cardeal Orani fez um pedido oficial para a instalação de uma casa na Arquidiocese do Rio.

“A primeira intenção era que as religiosas chegassem para a Jornada Mundial da Juventude, em 2013, no Rio. Porém, como já se sabia que a próxima Jornada seria realizada na Polônia, terra de Santa Faustina e de São João Paulo II, os planos foram adiados por quatro anos, de acordo com a vontade de Deus”, disse Dom Orani.

Unidade

Para monsenhor Jan Kaleta, que também é polonês e foi responsável por levar o convite à madre-geral Petra Kowalczyk, a chegada das religiosas o fará relembrar do início de sua missão no Brasil. Segundo ele, é preciso se contextualizar e mergulhar na realidade da região, o que não é fácil.

“Para elas, foi uma surpresa. Para nós, nós uma grande graça. Tenho certeza de que a missão delas, tantoFilhas_da_Misericrdia1_22022017114901 na Arquidiocese do Rio quanto no Brasil, será muito importante para a Igreja. Com a chegada das irmãs, talvez eu me recorde de meus primeiros passos aqui na arquidiocese, porque não é fácil. É preciso se colocar dentro da nova situação, dos contextos culturais, sociais e até religiosos, eu diria. Mas, a nossa fé é a mesma. Não existe nenhuma fronteira entre a fé polonesa e a brasileira. As irmãs possuem a consciência desta nova missão. Creio que Deus esteja vendo os trabalhos realizados por elas com bons olhos, sob as bênçãos de Santa Faustina e São João Paulo II”, concluiu.

A “secretária da misericórdia”

Esse foi o apelido que Helena Kowalska, mais conhecida como Santa Faustina, recebeu do próprio Deus durante uma de suas visões místicas. Ainda criança, aos sete anos, ela já sentia o desejo pela vida consagrada. Mas foi durante uma festa, aos 19 anos, após uma visão de Jesus chagado que ela decidiu abandonar tudo e seguir para Varsóvia, apenas com a roupa do corpo e sem a permissão dos pais, para seguir a vontade de Deus.

A jovem tentou ingressar em vários conventos, mas em todos foi recusada. Até que a madre da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora Mãe da Misericórdia a aceitou, sob a condição de que ela pagaria pelo próprio enxoval. Santa Faustina trabalhou em casa de família durante um ano para conseguir pagar. Assim que foi aceita no convento, recebeu o nome de Maria Faustina do Santíssimo Sacramento. Devido à baixa escolaridade, uma vez que era de família muito humilde, suas funções sempre foram relacionadas à cozinha, limpeza e jardinagem.

Santa Faustina teve muitas experiências místicas nas quais Jesus, através de suas aparições, foi recordando à humilde religiosa o grande mistério da Misericórdia Divina. Um dos seus confessores, padre Miguel Sopocko, exigiu que ela escrevesse as suas vivências em um diário espiritual. Desta forma, não por vontade própria, mas por exigência de seu confessor, ela escreveu suas vivências místicas, que ocupa algumas centenas de páginas.

Por conta dos grandes jejuns aos quais se submetia, ela sofreu muito por causa da tuberculose que a atacou. Os dez últimos anos de sua vida foram particularmente atrozes. No dia 5 de outubro de 1938 sussurrou à irmã enfermeira: “Hoje o Senhor me receberá”. E assim aconteceu.

Beatificada em 18 de abril de 1993 pelo Papa João Paulo II, Santa Faustina, a “Apóstola da Divina Misericórdia”, foi canonizada pelo mesmo Sumo Pontífice no dia 30 de abril de 2000.(Arqrio)

Fotos: Carlos Moioli e Gustavo de Oliveira

Por: Priscila Xavier

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