A jornada intermitente do pensamento

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Qual seria o significado deste perder tempo consigo mesmo e com seus ideais? Com seus ideais! Vivendo, assim, quase que o tempo passa despercebido. Isto feito, eu posso recordar que a companhia de uma pessoa pode ser dada de diversos modos: tão somente ela seja companhia de si mesma. Constatar que apenas o contrário do que se diz é aquilo que poderia ser dito, torna a pessoa tão insensível quanto ela própria diante de uma música, sem que a mesma pessoa chore, sorria ou grite. Outro sim de uma pessoa é a companhia de si próprio.

Enquanto se está em companhia de si próprio, os ideais e tudo aquilo que vem à mente não passam de realidades bubônicas. Você pode tocar uma parede lisa, mas de igual modo, pode tocar nos seus próprios ideais através dos seus pensamentos. Ou, até mesmo caminhando de um lado para o outro, pode ser companhia para si mesmo.

Ora os passos são traiçoeiros, ora por outra um passo amedrontado, cambaleia tocando um outro. Mas o que diria quando se está em um local cheio de possibilidades de coisas que se possa fazer através de diversos tipos de atividades? Diante dessa companhia, vê-se frustrada, malcriada sobre os obstáculos impostos pela própria vida.

Não seria, de longe, o amparo de se buscar refúgio através dos saberes, porque a companhia certa, cabal, terminantemente próxima de si, quando se está em um relacionamento de intimidade com o seu conhecimento, este relacionamento é justamente o imperativo que busca, de qualquer forma clara e lógica, a companhia de um livro. Companhia certa é a de um livro. Sem sombra de dúvidas, o livro é uma companhia perfeita.

Dos livros se detém a sabedoria; mas da mente, o que se extrai é tão somente o desejo de que a vida, na incerteza que ela é, possa renascer com o amanhecer de um novo dia. Vem a força, esta salutar espera que em nuvens se faz rodopiar o conhecimento que outrora malograva no interior de um ser. Daqui se pode entender que os filósofos tinham como companhia seus pensamentos férteis, os quais voavam sobre qualquer tema e em disparada, se alcançavam os mais belos discursos.

O discurso de um filósofo pode ser entendido como uma nova logo porque o discurso dele se dá até mesmo entre quatro paredes, de frente para um papel em branco com as mãos postas em um lápis ou até mesmo no tique-taque do teclado de um computador. O tique-taque do relógio, da batida do coração, do cicio da cigarra. Tudo disposto em suas mãos pode facilitar o intento e o evento de um saudoso discurso.

As borboletas que voam sem ter onde pousar são como os pensamentos que saem da mente de um pensador e vão ganhar norte, tomando forma até repousarem em um coração displicente e sem muita perspectiva, mas usado ao extremo para se permitir ao menos a interpretação do disposto. Agora mais ainda, frente ao que fora dito, a companhia do filósofo antes fosse apenas seu externo, é justamente o contrário, pois onde menos se espera, ali se encontra um filósofo com seus amigos, a companhia do dia dia: seus pensamentos.

Onde o filósofo se encontra? Folheando página por página, livro e mais livros. Os passos até seriam os mesmos se não fosse o cambalear das ideias que vêm e vão como uma criança no balanço preso numa corda. Assim é o pensamento de um filósofo: ora pensar e refletir temas elevadíssimos, noutras vezes, no entanto, e na maior parte do tempo, ele está iniciando o seu balancear. É justamente nessa calmaria do relance que se inicia a jornada intermitente do pensamento do filósofo.

Uma busca, portanto, que tenta chegar até ao extremo, o cume dos seus obstáculos, sem objetividade e até, em último sentido, repousando nas descobertas que o pensar propõe. Nítida essa companhia que o filósofo contenta ter: o seu relacionamento com o saber. Não há vício que se possa igualar ao desejo de se ter sabedoria. É uma busca incessante, a qual emerge, flui e vem de dentro, do interior do homem que se propõe pensar. Por isso que esta companhia do pensador não é agradável a todos os homens, não que ela faça exclusão de alguém, mas porque alguns homens a exclui.

Padre Joacir d’Abadia, filósofo, autor de 15 livros, Especialista em Docência do Ensino Superior, Bacharel em Filosofia e Teologia, Licenciando em Filosofia, Professor de Filosofia Prática. Acadêmico: ALANEG, ALBPLGO, AlLAP, FEBACLA e da “Casa do Poeta Brasileiro – Seção Formosa-GO”_Contato: (61) 9 9931-5433 | Segue lá no Instagram:  https://www.instagram.com/padrejoacirdabadia  

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