Visita santa: há 40 anos, Papa João Paulo II pisava, pela primeira vez, em Salvador

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Entre as autoridades eclesiásticas, civis, militares e religiosas, uma chamou muita atenção: o Anjo Bom da Bahia recepcionou o Papa João Paulo II no aeroporto – Foto: Divulgação.

Emoção e ansiedade. Com certeza esses eram os sentimentos mais comuns entre os soteropolitanos em julho de 1980. Na Base Aérea, localizada no Aeroporto Dois de Julho (atual Aeroporto Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães), estava tudo preparado para o desembarque, às 13h20 do dia 6, do Papa João Paulo II, o primeiro pontífice que visitava o Brasil. Contudo, um pequeno atraso no voo que saía de Curitiba e seguia para a capital baiana fez com que os fiéis aguardassem mais de uma hora para, finalmente, ver a aeronave tocar o solo.

Aclamado pelo povo que o esperava e cantava “a bênção, João de Deus, nosso povo te abraça. Tu vens em missão de paz, sê bem-vindo e abençoa este povo que te ama”, o Papa foi recepcionado pelo então Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Cardeal Dom Avelar Brandão Vilela, bem como por autoridades civis e militares, e pela freira Irmã Dulce, que anos mais tarde seria elevada, como Santa, à honra dos altares.

Da Base Aérea, o pontífice seguiu para a Catedral Metropolitana Transfiguração do Senhor (Catedral Basílica), localizada no Terreiro de Jesus. O percurso foi realizado de papamóvel, pela Orla, passando por bairros como São Cristóvão, Itapuã, Boca do Rio, Pituba, Amaralina, Rio Vermelho, Ondina, Barra, Campo Grande e Piedade. Por toda a cidade, fiéis aguardavam a passagem e acenavam para o Papa, que lhes retribuía o carinho.

Visita santa

Padre José Abel serviu pela primeira vez como diácono na Missa presidida pelo Papa João Paulo II, no CAB, em 6 de julho de 1980 – Foto: arquivo pessoal do padre Abel.

No segundo dia da visita pontifícia (7 de julho), o Papa João Paulo II teve compromissos importantes na capital baiana. Um deles foi a Missa presidida no Centro Administrativo da Bahia (CAB). Entre os padres e diáconos presentes, um guardou este momento, para sempre, no coração. Atual pároco da Catedral Basílica, padre José Abel Carvalho Pinheiro havia sido ordenado em 29 de junho de 1980, portanto, um dia antes da chegada do pontífice ao Brasil. “Imagine a emoção: o meu primeiro exercício do Ministério Diaconal foi na Missa do Papa. Eu me ordenei dia 29 de junho; uma semana depois, dia 7 de julho, fui eu o diácono da Missa. Eu fui escolhido para servir nesta missa, porque os outros dois colegas que se preparavam para o sacerdócio junto comigo foram escolhidos para serem ordenados pelo Papa no Rio de Janeiro, no Maracanã. Por isso, eu fiquei aqui e fui servir ao Papa nesta Missa”, recorda o padre Abel.

Entre os muitos detalhes daquele dia, alguns ficaram mais fortes na memória do então diácono José Abel. “Eu estava na sala que foi transformada em sacristia, onde tinha uma mesa com os paramentos que o Papa deveria vestir. Em outro lugar tinha uma bacia com uma jarra, toalha e sabonete, além de outros objetos da liturgia. Só adentrava nesta sala o diácono, que era eu, os acólitos da Missa, monsenhor Hamilton, a religiosa que era responsável pelos paramentos e algumas outras pessoas. Quando o Papa entrou na sala, ele disse só uma frase: ‘Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!’, nós respondemos: ‘Para sempre seja louvado!’. O Papa se prostrou de joelhos ao chão, no silêncio profundo. Nós não podíamos nem respirar tamanho era o impacto daquele momento! Ele ficou em oração com as duas mãos no queixo. Quando terminou, ele novamente disse: ‘Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!’. Fomos para a Missa e eu segurei o Evangeliário para o Papa. Eu tremia por dentro, claro. Eu guardo isso na minha memória!”, recorda.

Padre Abel lembra, ainda, da chuva torrencial que caía sobre Salvador naquele dia de inverno e do momento no qual Irmã Dulce foi ovacionada pelos fiéis que ali estavam. “Esse dia foi único para mim, foi maravilhoso! Outra coisa que eu não posso esquecer foi quando o padre Luna chamou o Anjo Bom da Bahia. Irmã Dulce foi subindo os degraus até chegar no altar. Estava chovendo muito, tinha lama, era incalculável o número de pessoas. Irmã Dulce subiu, o povo a aplaudiu e ela se lançou nos braços de João Paulo II. Foi uma maravilha”, conta.

Paróquia Nossa Senhora dos Alagados (atual Paróquia Nossa Senhora dos Alagados e São João Paulo II) foi escolhida para ser visitada pelo pontífice, em 7 de julho de 1980 – Foto: arquivo da paróquia.

Outro compromisso importante foi conhecer a Matriz da Paróquia Nossa Senhora dos Alagados (atual Paróquia Nossa Senhora dos Alagados e São João Paulo II), no bairro do Uruguai. O local foi escolhido pelo Cardeal Dom Avelar Brandão Vilela, mais de um ano antes da chegada do Papa e levou esperança aos moradores do bairro: ruas foram aterradas, criou-se a avenida principal, uma Igreja foi erigida no alto da colina.

É importante ressaltar que, também, no ano anterior, o Papa João Paulo II pediu à Madre Teresa de Calcutá (agora Santa Teresa de Calcutá) que visitasse Salvador e iniciasse um trabalho no bairro do Uruguai, que ele visitaria. Em obediência ao Papa, Madre Teresa viajou para Salvador e fundou, em 1979, a creche das Irmãs Missionárias da Caridade, que ficava aos pés da colina onde hoje está a Igreja Matriz. Neste período aconteceu o primeiro encontro entre duas futuras santas: madre Teresa e Irmã Dulce.

Esta paróquia criada para acolher o Papa João Paulo II, anos mais tarde, em 27 de abril de 2014 – mesmo dia da canonização do pontífice – foi a primeira paróquia do mundo a ser dedicada a ele.

No coração

Padre José Carlos dos Santos Silva, pároco da Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, foi um dos 75 sacerdotes brasileiros ordenados pelo Papa João Paulo II no estádio do Maracanã (Rio de Janeiro) – Foto: arquivo pessoal do padre José Carlos.Texto:Sara Gomes

Nesta passagem do Papa João Paulo II pelo Brasil, quem também recorda com carinho e gratidão no coração é o padre José Carlos Santos Silva, que atualmente é o pároco da Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, em Salvador. Padre Zeca, como é conhecido, foi um dos 75 padres ordenados pelo Papa João Paulo II, no dia 2 e julho de 1980, no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. “Conversando com Dom Avelar sobre o diaconato que iria receber no dia 13 de abril de 1980, perguntei se poderia receber a ordenação pelas mãos do Papa e o Cardeal aceitou. No Rio de Janeiro, com os demais ordenandos, me senti muito feliz e, ao mesmo tempo, senti a responsabilidade que estava assumindo ao ser ordenado sacerdote e mais ainda por ser pelas mãos do Santo Padre”, rememora padre José Carlos.

Sobre o dia da Ordenação Presbiteral, padre José Carlos destaca o momento da imposição das mãos. “Ele impôs bem devagar e depois pressionou. Foi o momento de maior emoção, pois, a partir daí me tornei sacerdote”, conta.

 

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