Ungidos para ungir: uma convocação para a Semana Santa

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Amados irmãos e irmãs em Cristo,

Ao adentrarmos a Semana Santa, somos tocados por um chamado profundo à conversão e à renovação de nosso compromisso com o Evangelho. A Igreja, com sabedoria maternal, nos convida a reviver os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo, do Domingo de Ramos ao Tríduo Pascal, passando pela cruz e chegando ao esplendor da ressurreição. É neste tempo forte da liturgia que precisamos redescobrir quem somos: ungidos para ungir.

Recordo aqui as palavras do Papa Francisco em sua exortação apostólica Evangelii Gaudium, quando nos exorta a não sermos “cristãos de vitrine”, mas discípulos missionários, cheios do Espírito, apaixonados por Jesus, capazes de levar sua presença onde houver dor, dúvida, abandono ou escuridão. Isso nos desafia a uma mudança de mentalidade: não basta sermos ungidos para nós mesmos, não basta buscarmos consolo e bênção apenas para nossa vida. A unção que recebemos nos consagra para servir, curar e consolar os outros.

Muitos de nós nos aproximamos da Igreja buscando ser curados, tocados, libertos — e isso é justo e necessário. No entanto, não podemos permanecer apenas como receptores. A unção, por sua natureza, transborda. O óleo do Espírito não é para ser guardado em frascos, mas para derramar-se sobre os que sofrem, sobre os que não conhecem Deus, sobre os que perderam a esperança. É tempo de rompermos a espiritualidade da estagnação e assumirmos a missão viva de evangelizar com alegria, coragem e compaixão.

“Deus nos unge para que unjamos”, diz o coração desta reflexão. A unção do batismo nos fez filhos. A unção da crisma nos tornou soldados da fé. A unção da eucaristia nos alimenta e envia. E muitos são também ungidos pelo sacramento da ordem, pelo matrimônio e até pela unção dos enfermos. Mas, de que serve tanta unção se ela não alcança o irmão que está caído à beira do caminho?

Ser cristão é viver como canal da graça. Nesta Semana Santa, cada celebração deve ser uma renovação do nosso “sim” ao Cristo Servo. Cada gesto, cada palavra, cada oração deve ser uma oferta viva a Deus, para que nossa vida se torne resposta à dor do mundo. O grito dos pobres, o silêncio dos marginalizados, o desespero dos jovens sem sentido — todos eles clamam por cristãos que deixem de viver voltados apenas para si e se tornem verdadeiros ungidores da alma humana.

A Igreja precisa de batizados que tenham “cheiro de ovelha” e o “perfume de Cristo”. Precisamos de famílias que abençoem, de profissionais que evangelizem com o exemplo, de ministros e agentes de pastoral que levem a unção da Palavra e da presença ao povo ferido das periferias existenciais. O mundo não precisa de mais teorias, mas de cristãos inflamados de amor. Como diz São João da Cruz: “No entardecer da vida, seremos julgados pelo amor”.

Peçamos, pois, ao Espírito Santo que nos renove nesta Semana Santa. Que Ele nos cure da estagnação, nos tire da zona de conforto e nos empurre para o coração das pessoas. Que sejamos, como Maria, vasos humildes mas cheios de Deus, dispostos a levar Jesus a todos os lugares, como ela levou a Isabel. Que a nossa unção não seja apenas uma experiência pessoal, mas uma missão permanente de ungir o mundo com o Evangelho da Alegria.

Deixemo-nos, então, converter. Que não seja uma Semana Santa a mais, mas a Semana em que o Senhor nos ungirá com novo ardor para que sejamos sal e luz, bálsamo e presença, mãos estendidas e corações abertos.

A todos, desejo uma Santa Semana cheia da unção de Deus. E que, ao final dela, possamos sair como verdadeiros missionários do Ressuscitado, levando vida nova a todos os que cruzarem nosso caminho.(CNBB)

Dom Jailton de Oliveira Lino
Bispo de Itabuna (BA)

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