Com a convicção de que os jovens são um tesouro precioso para a sociedade, a Igreja Católica realiza, nesta semana, a 15ª edição da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, Portugal. A celebração da Jornada Mundial reaviva as dimensões do desafio que interpela a Igreja. Sem a presença das juventudes, com sentido de pertencimento aprofundado e sem inserção comprometida, desenha-se um futuro sombrio, sem força de renovação e competência para novas respostas. A consciência deste desafio acompanha a Igreja por um considerável tempo, em todos os lugares da sua presença servidora, estampando uma situação preocupante. Verifica-se no contexto contemporâneo uma avalanche de mudanças socioculturais, configurando a exigência urgente de se intuir, permanentemente, novas respostas para não se chegar, como muitos analistas afirmam, à perda das juventudes. Perdê-las é um prejuízo incalculável e recuperá-las, para o âmbito vivencial da instituição, um esforço hercúleo encharcado de específica sabedoria.
O desafio não é só para a Igreja Católica, mas afeta instituições outras da sociedade, particularmente as educacionais e não menos fortemente as famílias. Estes esforços incidem sobre a competência de cada jovem na condução da vida, nos desafios peculiares das escolhas vocacionais e profissionais. Não menos relevante é a participação cidadã juvenil no mundo da política e na reconstrução de cenários sociais. Este sentido social e político é um desafio, exigindo das instituições e segmentos todos da sociedade, particularmente da educação, religiosos e familiares, um investimento específico e pedagogicamente assertivo.
A realidade mutante na contemporaneidade indica a necessidade permanente de diálogos e escutas das juventudes, iluminados por estudos científicos e pesquisas de relevância, abordagens qualificadas e interpelantes. Assim, a Jornada Mundial da Juventude é oportunidade para reavivar a prioridade dos jovens no contexto da sociedade mundial e, especialmente, na Igreja. É urgente e indispensável entender o que se passa com a juventude. Não é um simples entendimento desta complexa realidade, mas a determinação firme de construir caminhos novos, de diálogos, participação e pertencimento. A Igreja Católica sabe o tamanho do desafio de sua opção preferencial pelos jovens, interpelada também pela opção preferencial pelos pobres. A configuração social excludente é um peso para a juventude, afetando suas famílias e levando a sociedade a sérias perdas, a ponto de haver prejuízos irreversíveis. A opção preferencial pelos jovens é, assim, atual desafio à Igreja, em questão o seu futuro, o comprometimento de sua missão e a prioridade no seu cumprimento. O ouro e a prata a ser oferecido e assumido pelos jovens estão na experiência do encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, seduzindo as juventudes ao magnífico da condição discipular no seguimento do Mestre e Senhor da vida.
Atenta aos desafios contemporâneos, à velocidade mutante pelos avanços tecnológicos e científicos, atuando com abertura na consideração das diferenças, a Igreja sabe da preciosidade que pode e precisa com urgência oferecer e proporcionar aos jovens. Não se trata de uma simples, ainda que luminosa ideia, mas da experiência do encontro, conhecimento e seguimento da pessoa de Jesus Cristo, com força de experiência, e assim ter propriedades para mudar critérios de juízos e escolhas, alimentando a bravura na participação da reconstrução da sociedade e conquista cidadã de lugares, em uma ambiência de igualdade e solidariedade. A razão maior e iluminadora é o cultivo da cidadania do Reino de Deus. Por isso, a Igreja elege como tarefa missionária e prioritária dar oportunidade ao jovem de conhecer e experimentar o discipulado no seguimento de Jesus Cristo, uma alegria genuína e incomparável.
Tudo o que se promove com os jovens e para os jovens, como uma Jornada Mundial, celebrações outras, peregrinações, festas, até a singeleza significativa das catequeses, especialmente familiares, tem como propósito primordial garantir a formação, com força de assimilação de critérios que redirecionem a vida no horizonte único e inspirador do Evangelho de Jesus. Aqui reside o desafio de adequada pedagogia, em sintonia com os processos de mudanças contemporâneas, tendo em conta o inegociável do Evangelho e a competência para saber alcançar os corações, com a força desta singular alegria de ser discípulo e discípula de Jesus. O compromisso é com uma espiritualidade trinitária do encontro com Jesus Cristo, iluminando largo horizonte para o entendimento da vida plena, incluindo o comprometimento com a promoção incondicional da amizade social, o entendimento da solidariedade como princípio na construção de uma sociedade justa e o engajamento na luta pela preservação do meio ambiente, convencendo a todos de um novo estilo de vida, sustentável em favor dos pobres da terra.
Ora, o encontro com Jesus Cristo é o início deste sujeito novo, desse novo estilo de vida, discípulos e discípulas do Mestre. Este encontro há de ser proporcionado, um desafio enfrentado, que precisa de respostas e resultados mais concretos. Este é o ouro do Cristianismo com força de grandes mudanças e renovações culturais, com incidências sociais e políticas em uma existência que se nutre do vigor do encontro com Cristo. A história comprova este movimento. Agora é a hora de encontrar o jeito e o caminho, desobstruindo dinâmicas com o próprio do tesouro das juventudes, para a Igreja cumprir sua missão e jovializar-se. Este é um enorme desafio e, ao mesmo tempo, uma aposta decisiva de revigoramento.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte(MG)
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