A estátua de São Miguel sobre o Castel Sant’Angelo
Porém com um particular: uma grande estátua de São Miguel Arcanjo. A iconografia é profundamente diferente da canônica. A colocação do corpo é estática, não exprime a energia dinâmica que estamos acostumados, como por exemplo nas pinturas de Rafael ou Guido Reni. O anjo não está agindo, mas está parado antes de agir. Chegou há pouco e aos seus pés não há o maligno contraído e vencido. São Miguel tem o braço levantado, instantes antes de voltar a colocar a espada na cintura. Um gesto de paz e de misericórdia.
A peste de 590 em Roma e São Gregório Magno
Gregório Magno sucedeu Pelágio II em setembro do ano 590, que morrera devido à terrível pestilência vinda do Egito no ano anterior. A chamada lues inguinaria que causou inúmeras mortes e parecia não cessar.
Então o Papa decidiu organizar uma ladainha septiforme, isto é, uma procissão dividida em sete cortejos aos quais participaram todas as ordens do clero e toda a população de Roma. Eles atravessaram as ruas da cidade, para levar até a Basílica de São Pedro a imagem de Maria Salus Populi Romani, conservada na Basílica de Santa Maria Maior e pintada pelo evangelista Lucas.
Sim, exatamente o ícone tão amado pelo Papa Francisco, que ele visita todas as vezes que deve viajar. Recordemos que também a visitou no domingo passado (15), durante a sua primeira etapa de peregrinação para invocar o fim da pandemia.
Gregorio de Tours no Historiae Francorum (liber X, 1) e Iacopo de Varazze, na Legenda Aurea, narram o memorável prodígio de modo premente e fervoroso. Durante a procissão, em apenas uma hora morreram oitenta pessoas, mas Papa Gregório não deixava de encorajar e ir adiante com fé. À medida que o cortejo se aproximava da Basílica de São Pedro, o ar tornava-se mais leve e salubre. Ao chegarem na ponte que ligava a cidade ao Mausoléu de Adriano, na época chamado Castellum Crescentii, de improviso desceram do céu fileiras de anjos que cantavam orações que depois se tornariam o Regina Caeli, a antífona que no tempo pascal substitui o Angelus: “Regina Coeli, laetare, Alleluja – Quia quemmeruisti portare, Alleluja – Resurrexit sicut dixit, Alleluja!”.
São Gregório respondeu: “Ora pro nobis rogamus, Alleluja!”. Os anjos pairavam mais baixo quase sobre a cabeça dos presentes e por fim circundaram a pintura de Maria. Gregório olhou para cima e viu sobre o cume do castelo a grande figura armada do arcanjo enquanto enxugava o sangue da espada e a recolocava na cintura. A peste tinha acabado.
Para recordar o milagre uma grande estátua do Arcanjo Miguel
A estátua que hoje podemos admirar no alto do mausoléu é obra do escultor flamingo Peter Anton Verschaffelt, que venceu o concurso convocado pelo Papa Bento XIV Lambertini por ocasião do Jubileu de 1750. Inaugurada em 1752, a grande estátua (4,70m x 5,40 m) tem uma planta mais convencional, formada por 35 peças de bronze sustentadas por uma armação interna, substituída em 1986 por uma de aço e titânio.
Uma profunda diferença entre as figuras aladas e o Arcanjo Miguel
As vitórias aladas parecem tomar impulso para se lançar em voo, para sair da terra, para atravessar o céu com seus símbolos terrenos. São Miguel, ao contrário, chega e põe seus pés no chão, a ponto de deixar pegadas, marcadas em uma pedra conservada no museu do Castelo, ensinando-nos que ele está presente, aqui conosco, e pronto a interceder se lhe pedirmos com fé.
Por:Maria Milvia Morciano – Cidade do Vaticano/Vatican News
Comments
No comment