O Dia Mundial da Ecologia, 5 de junho, será vivido com a celebração da 2ª Romaria Arquidiocesana pela Ecologia Integral, promovida pela Arquidiocese de Belo Horizonte, em sintonia e emoldurada pelos parâmetros da Carta Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, sobre o cuidado com a casa comum. A programação é coordenada pelo Vicariato Episcopal para Ação Social, Política e Ambiental, especificamente por seu Setor Ambiental, articulado em três importantes comitês: sobre a mineração na Serra da Piedade, sobre a água – precioso e disputado bem – e sobre a mineração em muitos outros lugares do território mineiro. A 2ª Romaria Arquidiocesana pela Ecologia Integral será no Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais, um território ameaçado por lógicas predatórias e equivocadas nos licenciamentos ambientais. Essa situação requer a mobilização da sociedade civil, que deve exigir mais coerência do poder público na preservação da natureza, dedicando atento acompanhamento de instâncias judiciárias para se evitar mais passivos ambientais – prejuízos provocados por ilegalidades que, posteriormente, serão reconhecidas, mas que já estão causando danos em nome do enriquecimento de poucos.
Esse horizonte de decisões monocráticas de instâncias judiciárias e de licenciamentos ambientais questionáveis indica a necessidade de se realizar a 2ª Romaria Arquidiocesana pela Ecologia Integral. A 1ª Romaria foi celebrada em 25 de janeiro de 2020, um ano depois da terrificante tragédia-crime ocorrida em Brumadinho, com o rompimento da barragem no Córrego do Feijão. A barbárie de Brumadinho exige uma memória reverente aos que se foram e dedicação solidária a quem ainda sofre com as consequências do dano socioambiental. A Romaria Arquidiocesana pela Ecologia Integral é, pois, emoldurada por profundo respeito à vida, e busca promover o aprendizado de novas lições. Por meio da Romaria, é fortalecida a voz de clamores que não podem ser abafados sob pena de se anestesiar sensibilidades ante a desmandos, permissividades e impunidades. A indiferença em relação à hegemônica lógica do lucro, com aquiescência às brutalidades da depredação e da desconsideração da vida, não pode prevalecer. Cada ser humano precisa reconhecer a sua missão no cuidado, por regência, de todas as criaturas, em respeito ao seu Criador.
A celebração da 2ª Romaria Arquidiocesana pela Ecologia Integral no Santuário Basílica da Padroeira de Minas Gerais, referência na devoção mariana, centro de espiritualidade, mas também santuário ecológico de proporções ambientais exuberantes, em flora, fauna, água, biomas do Cerrado, Mata Atlântica e Campos Rupestres, é um sinal de alerta na contramão da mineração extrativista e inconsequente. A Romaria é também convite a um novo marco civilizatório para o cuidado com a casa comum, com o objetivo de promover um inteligente e sustentável desenvolvimento integral, investindo em novo estilo de vida. Reforça-se o pertinente alerta ao antropocentrismo moderno, que acabou colocando a razão técnica acima da realidade. Devem ser reconhecidos os limites que a realidade estabelece no que, habitualmente, é chamado de “desenvolvimento”, para que avanços sejam, de fato, humanos, sociais e fecundos.
Cada vez mais pessoas se convençam sobre a importância urgente e inegociável de se pautar a vida por uma ecologia integral. Isto significa reconhecer a interrelação entre as dimensões ambiental, econômica, social e cultural. Nessa compreensão está inscrita a exigência de reflexões sobre as condições de vida e de sobrevivência na sociedade, com honestidade, conforme acentua o Papa Francisco, para questionar e substituir modelos de desenvolvimento, de produção e de consumo prejudiciais ao planeta e, consequentemente, à humanidade. Compreende-se, pois, que promover educação e espiritualidade ecológicas é tarefa missionária, intrinsecamente vinculada à fé cristã.
A humanidade precisa passar por mudanças, caso contrário avançará com um desenvolvimento ilusoriamente lucrativo, mas, na verdade, suicida, por produzir irreversíveis prejuízos, com pandemias e outras catástrofes pesadas demais. Há um grande desafio cultural, espiritual e educativo a ser assumido por todos, oportunidade para viver longo processo de regeneração. Esse processo, para ser exitoso, demanda estudos técnicos com convincente lucidez e, especialmente, atitudes cada vez mais balizadas por princípios ético-morais inegociáveis. As discussões, os confrontos científicos, a coragem de se questionar marcos regulatórios e legislativos ineficazes para a proteção ambiental são indispensáveis à recuperação da casa comum.
A mudança no estilo de vida poderá influenciar, a partir de pressão salutar, aqueles que detêm poder político, econômico e social. Por isso, toda a sociedade deve enfileirar-se em uma constante Romaria pela Ecologia Integral. Um percurso pedagógico que contempla sensibilizar-se pelos clamores dos pobres da Terra. Amanhã, a Romaria pela Ecologia Integral será presencial, com as suas restrições em razão da necessidade de se respeitar o distanciamento social, e, particularmente, congregando pessoas pelas redes tecnológicas de comunicação. Mas todos, a cada dia, sintam-se convidados a participar da Romaria pela Ecologia Integral, motivados a encontrar nova compreensão que permita fazer surgir renovado jeito de viver, impulsionando, assim, o desenvolvimento sustentável.
Por:Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte (MG)
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
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