Uma união de esforços para formar pessoas maduras e capazes de superar a fragmentação e a oposição, caminhando lado a lado rumo à reconstrução do tecido das relações para uma humanidade mais fraterna. De forma bastante simplificada, esse é o objetivo do chamado feito pelo Papa Francisco em setembro de 2019 para o desenvolvimento de um Pacto Educativo Global voltado a “reavivar o compromisso para e com as novas gerações, renovando a paixão por uma educação mais aberta e inclusiva, capaz de ouvir com paciência, de diálogo construtivo e de compreensão mútua”.
Para se chegar a tal objetivo, precisamos da adesão de toda a sociedade em prol de uma educação humanista, das instituições, igrejas e governos em todos os níveis. E as universidades, é claro, exercem um papel fundamental nesse cenário. Importante destacar que uma universidade é, antes de tudo, um agente social. Isso significa que ela está inserida nos contextos e é influenciada pelas demandas e anseios da sociedade onde ela também é chamada a oferecer soluções e orientações, tanto no campo científico quanto nos campos ético e político.
Assim, toda universidade tem como vocação a acolhida dessas demandas, sua compreensão e análise crítica e a consequente sugestão de caminhos que conduzam ao bem-estar. Toda universidade católica assume essa vocação – e por conta de sua natureza eclesial, isso fica ainda mais evidente. Numa instituição católica de ensino superior, o conhecimento está a serviço da realização plena de cada ser humano em sua dignidade e vocacionado, ele mesmo, para o bem.
Devemos afirmar que uma universidade católica é, constitutivamente, “universidade” e “católica”, ou seja, trata-se da atuação pedagógica da Igreja que evangeliza e promove a vida. Ainda, todo ato educativo traz, subjacente a si mesmo, uma antropologia, no sentido de que cada ato de educar é a expectativa de potencialização do humano. No que diz respeito à educação cristã, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) já alertava, em seu Documento 47, “Educação, Igreja e Sociedade” que: “como toda proposta educativa, também a visão cristã da educação supõe e contém uma determinada concepção do ser humano”. Nessa conjuntura, devemos compreender que a visão cristã da educação é o primeiro fundamento para uma prática também cristã da educação.
Necessário também falar sobre a vida comunitária. Diante do individualismo que consome a nossa sociedade, é tarefa da Igreja promover uma educação por meio da qual se evidenciem as relações como uma verdadeira comunidade, com clima familiar e acolhedor, que pode ajudar a superar os momentos de desorientação e de desânimo.
Ademais, a educação católica assume, como elemento fundamental, a dimensão humana da pessoa, potencializando seu desenvolvimento integral. Assim, prioriza o amadurecimento das capacidades humanas, a educação de atitudes e de experiências fundamentais e a proposta de valores que possibilitem a maturidade pessoal, lembrando sempre que, num mundo plural, o desafio da compreensão da identidade e sua postura dialogante é indispensável. Na educação católica, portanto, o processo educativo da Igreja deve estar aberto ao diálogo.
Por fim, saliente-se o foco na cultura do encontro. Em uma sociedade multicultural e multirreligiosa, a educação e a evangelização são impactadas pelo desafio do encontro. Sim, somente uma cultura do encontro possibilita que o ser humano seja mais. Diante disso, não nos basta uma “simples administração”, muito menos uma atuação que consista, em grande parte, num posicionamento ensimesmado. Essa postura se revela insuficiente em nossa sociedade.
O primordial em um encontro está não apenas em conhecer, mas procurar ouvir as pessoas, estar com elas, envolver-se. Para que isso ocorra, é preciso acreditar no outro, crer que ele vai me ajudar a crescer e viver plenamente. Esse desafio exige uma profunda atenção à vida e uma sensibilidade espiritual. Dialogar significa estar convencido de que o outro tem algo de bom para dizer, aceitar o seu ponto de vista, suas propostas. Promover o diálogo não significa desistir das ideias e tradições, mas aceitar sermos “transpassados” e, consequentemente, transfigurados pela presença do outro.
Nossa educação, nesse sentido, deve se pautar pelo encontro. Para que isso ocorra, o Pacto Educativo Global é um caminho. No lançamento do pacto, o Papa Francisco considerou que a educação é uma “semente da esperança” para a construção de uma civilização de harmonia, onde não haja lugar para a terrível pandemia da cultura do descarte. Dessa maneira, deve-se observar nos horizontes da educação católica um convite para nossa atuação. Promover a cultura do encontro, comprometendo-se com o Pacto Educativo Global, não é apenas uma decisão estratégica da universidade católica: é a sua missão.
Irmão Rogério Renato Mateucci é Pedagogo de formação e doutor em Administração, Liderança e Políticas de Educação pela Fordham University, de Nova York. É reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
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