No início de seu discurso, o Pontífice agradeceu ao fundador da Comunidade Católica Shalom, Moysés Louro de Azevedo Filho, por suas palavras, e recordou que a irmandade nasceu quarenta anos atrás, durante uma celebração eucarística, no momento do ofertório, sublinhando que a comunidade não nasceu como algo planejado, “mas na oração, na Liturgia”.
É o Espírito Santo que faz a Igreja viver
É o Espírito Santo quem faz a Igreja viver, que a impulsiona. E isso Ele faz sobretudo na oração, de forma especial na Liturgia. A Liturgia não é uma cerimônia bonita, um ritual em que nossos gestos estão no centro ou, pior, nossas vestes, não! A Liturgia é a ação de Deus conosco, e devemos estar atentos a Ele que fala, age, chama e envia. E isso não fora do tempo e da história, não, mas dentro da realidade histórica, dentro das situações. Obrigado, Moysès, porque sua experiência nos lembra isso.
A seguir, o Papa respondeu às perguntas de alguns membros da Comunidade Shalom. A primeira, de Fabiola, foi sobre como perseverar na amizade com Deus num mundo frenético, e como contagiar esta experiência nos ambientes de vida. Francisco respondeu, usando o verbo “permanecer”. Permanecer em Jesus com “a oração, com a escuta da Palavra, com a adoração, com o Rosário. Assim, a seiva do Espírito Santo passa Dele para nós e podemos perseverar, mas também “contagiar”, não duvidemos, pois ele prometeu que quem permanece Nele dá muito fruto. O fruto é o amor, é o amor de Cristo que toca o coração das pessoas, onde quer que estejamos. Cabe a nós permanecer nele, o resto é feito pelo Espírito Santo”.
A segunda pergunta respondida por Francisco foi de Bertrand que disse ter ficado “impressionado com o estilo juvenil do primeiro encontro com a Comunidade Shalom”, e perguntou ao Pontífice “como é possível manter esse espírito vivo, e também qual é a importância do protagonismo dos jovens na Igreja”. O Papa respondeu que para “manter um espírito jovem, é preciso permanecer abertos ao Espírito Santo, pois é Ele quem renova os corações, renova a vida, renova a Igreja e o mundo”.
Juventude de espírito
Não falamos de juventude física, mas de juventude de espírito, aquela que transparece nos olhos de certos idosos mais do que nos olhos de certos jovens! Não é uma questão de registro no cartório. É outra coisa, como disse São João Paulo II na JMJ do ano 2000, “quem está com os jovens permanece jovem”. Se um idoso se isola, evita os jovens, envelhece mais cedo. Em vez disso, é bonito e enriquecedor estar um pouco com as crianças, com os adolescentes, com os jovens; não para “copiá-los”, não para fazer pregação, mas para ouvi-los, falar com eles, contar alguma experiência.
Em relação ao protagonismo, Francisco ressaltou dois aspectos. O primeiro, “o protagonismo da santidade”, e recordou a propósito o Beato Carlos Acutis, Santa Teresa do Menino Jesus, São Francisco e Santa Clara de Assis, dentre outros, e “a primeira e perfeita discípula: Maria de Nazaré, que era uma garota quando disse “eis-me aqui”. “Todos eles edificaram e continuam edificando a Igreja com seu testemunho, correspondendo à graça de Deus.” O segundo aspecto, Francisco ressaltou que, como pastores, eles “devem aprender a não ser paternalistas em relação aos jovens”.
Dilma “testemunhou a alegria da amizade com os irmãos e irmãs mais pobres”. Ela perguntou ao Papa, “como podemos cultivar essa amizade, e fazer com que os outros também a experimentem”. Francisco respondeu a essa pergunta recordando Madre Teresa que “respondeu ao chamado de Deus para estar perto dos últimos de Calcutá”. Ela encontrava forças para ir todos os dias pelas ruas para recolher os moribundos no “Senhor Jesus, a quem recebia e adorava todas as manhãs e lhe dizia: “Tenho sede”. “Depois, ela saia e o reconhecia no rosto daquelas pessoas abandonadas”, frisou o Papa.
Coragem criativa, acolhimento e impulso missionário
Por fim, o Papa respondeu a Madalena e Jacqueline, dizendo que a pergunta delas leva “ao fascínio da primeira hora” e diz respeito ao caminho presente e futuro da Comunidade Shalom. Portanto, a resposta é mais longa e destinada a todos.
Francisco iniciou a última resposta, ressaltando que esta comunidade “é marcada desde o início pela coragem criativa, pelo acolhimento e por um grande impulso missionário”, recordando as iniciativas realizadas em vários países do mundo pela Comunidade Shalom, que deram vida “a uma realidade eclesial que agora inclui não apenas jovens, mas também famílias, celibatários engajados na missão, sacerdotes”.
A propósito do nome “Shalom”, Francisco recordou que “esta palavra não é um slogan”, mas “vem do Evangelho”, e que também está gravada no “Tau”, o crucifixo que os membros da Comunidade “usam no pescoço, como sinal de sua eleição e do chamado para serem discípulos de Jesus em todos os lugares”. A seguir, enfatizou a palavra “católica”, dizendo que “é o nome da nossa Igreja Matriz”.
Caminhar ao lado dos pastores da Igreja
Vocês valorizaram os dons e a vivacidade de que a Igreja no Brasil é rica. Vocês fizeram uso da corrente da graça que vem da Renovação Carismática, que também alimentou seu carisma. Vocês colocaram no centro a celebração eucarística, a Adoração e a Confissão. Vocês valorizaram a pregação, a música, a oração contemplativa individual e comunitária. Esta é realmente a riqueza “católica” e inexaurível que se encontra na Igreja e da qual devemos sempre haurir.
“A sua comunidade é católica também porque sempre caminhou ao lado dos pastores da Igreja”, disse ainda o Papa, recordando que “foi o então arcebispo de Fortaleza, dom Aloísio Lorscheider, quem sugeriu a Moysès oferecer algo a São João Paulo II, representando todos os jovens”.
O Papa concluiu, exortando os membros da Comunidade Católica Shalom a “permanecerem dóceis à ação do Espírito, abertos à escuta recíproca e às diretrizes da Igreja, a fim de discernirem melhor como prosseguir seu caminho”.
Por: Mariangela Jaguraba – Vatican News
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