De um lado ficava um morro. Pasme pela maravilhosa lembrança que me ocorre neste exato instante: no meio da fazenda Veredinhas erguia-se um morro fazendo com que aquelas belas terras estivessem entre esses montes, os quais davam um belo charme para se vislumbrar toda aquela paisagem que se perdia no olhar. A fazenda era cercada pelo rio que dava o nome à fazenda, e entre esses morros, havia uma encantada nascente chamada Landim, onde tinham muitos pés de coco chamado jerivá.
Neste quadro de terras, o vislumbre saltava dos olhos e cavalgava nos corações cheios de sonhos, estes algumas vezes mais sutis, outras tantas não tão tímidos. Pelo contrário, sonhos de asas, aqueles que vão bem alto, aonde a imaginação consegue chegar.
Como lá se criava cavalo, gado, porco e galinha, os dois valentes irmãos queriam mostrar para ambos que cresciam e se tornavam adultos. Sendo assim, capazes de viver o que viam muitos dos amigos dos seus pais fazerem junto ao patriarca da fazenda, tomar uma dose de cachaça para poder tomar banho, ou tomar cachaça e comer carne de galinha caipira para “tirar o gosto”.
Sem muito esforço, após ficarem sozinhos, os jovens sentiram-se à vontade para trilhar o caminho que havia aprendido. Foi quando encontraram uma garrafa de cachaça “Caninha da Roça” que estava no meio das demais garrafas sujas de lama e deixadas pelo meio do quintal sem levantar suspeitas. No entanto, depois de averiguar com maestria, os jovens descobriram que a garrafa ainda encontrava-se com o lacre. Pensaram que ela estava entre as outras, sujas e jogadas. Era somente como disfarce contra eles mesmos. Com esta conquista, concluíram que deveriam tomar uma dose, somente uma dose!
Com a garrafa de cachaça pela metade, encontravam-se os jovens se refrescando nas águas do pequeno rio Landim que formava uma “grotinha” bem próximo à casa, proximidade esta que favorecia cada um dos jovens irem buscar um pedaço de frango caipira para comer enquanto nadavam e tiravam o gosto da cachaça.
A maior dificuldade se encontrava quando tinham que voltar à casa para buscar mais pedaços de frango, pois era preciso passar por um trilheiro, o qual se tornava muito curto para os pés que cambaleavam devido à pinga que estavam tomando. Pinga? Qual? Não havia mais nada: nem cachaça, nem frango caipira cozido, restavam tão somente duas crianças bêbadas. Ops! Alto lá! Bêbadas? Não, estavam reproduzindo o que aprendera com o seu Nozin: tomar pinga e comer frango caipira para “tirar o gosto” ou para tomar banho.
Padre Joacir d’Abadia
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