O tempo da Quaresma proporciona uma preparação intensa, profunda e orante para a celebração da Páscoa. Nele, os cristãos são convidados a percorrer um itinerário espiritual com 40 dias, que vão da quarta-feira de Cinzas até o Domingo de Ramos. Dom Armando Bucciol, presidente da Comissão para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) afirma que a liturgia propõe, especialmente na quarta-feira de cinzas, a escuta do Evangelho de Mateus. Nele, o bispo explica que Jesus, por três vezes, repete: “Não sejais como os hipócritas”.
Nesta parte, dom Armando diz que Jesus é muito duro para com os que disfarçam comportamentos religiosos de forma ‘narcisista’, só para ‘mostrar a cara’. “Seus discípulos devem agir diferente, olhar somente para Deus e não importar do juízo dos homens; se não, ‘já receberam a sua recompensa”, afirma o bispo.
A igreja, fiel a esta tradição bíblica e ao exemplo de Jesus, propõe aos seus fiéis a prática do jejum, sobretudo na quaresma. Mas, em que consiste? Como praticá-lo hoje? Para compreender melhor, dom Armando afirma que é preciso recordar o que escreve o apóstolo Paulo aos Filipenses (3,18-19): “Há muitos que se comportam como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição, o deus deles é o estômago… só pensam em coisas terrenas”.
Segundo dom Armando, ninguém nega o prazer de uma boa comida, pois precisa do alimento para viver. Então, questionado sobre o sentido do jejum, ele diz que pensa, antes de tudo, que é para estar na vida de uma maneira diferente. “A palavra sobriedade expressa o modo melhor no uso das ‘coisas’ desse mundo. Viver com sábia sobriedade, valendo-se do que a vida oferece sem se deixar amarrar o coração”, diz.
O bispo alega que o desejo descontrolado pode levar aos excessos que estragam a procura do que mais faz crescer a humanidade. “Sem essa atitude interior, poderíamos nos perder, destruídos pelas paixões que fazem guerra ao nosso espírito”, salienta.
Hoje, bombardeados por mil mensagens muito chamativas, dom Armando afirma que é preciso abrir novos horizontes ao jejum, e de maneira mais exigente. “Trata-se de controlar os instintos mais destruidores e viver numa sábia sobriedade em todas as dimensões do ser humano”, argumenta.
Em tempos de uso (e abuso) das palavras, das redes sociais, das relações humanas cotidianas, dom Armando reitera que a renúncia na vida cristã visa não tanto o negativo, mas o positivo, isto é, o crescimento interior, a busca sincera do essencial, para acolher o projeto do Senhor que é não julgar, partilhar, ser solidário, doar, amar. “Seremos julgados não pelo jejum que fizemos, mas pela disponibilidade sincera e constante em ser pessoas que vivem relações humanas autênticas, com os outros e com Deus”, afirma o bispo.
Dom Armando recorda que Jesus jejuou por quarenta dias, no deserto, antes de iniciar sua missão. “Preparou-se, desse modo, ao anúncio do Reino que nele torna-se escolha e estilo de vida ao lado dos pobres, dos excluídos e marginalizados. Escolha que o Pai confirma e sustenta até à cruz. Nesse sentido, procuremos ser fieis às mensagens de vida nova propostas pela Palavra”, estimula.
Por fim, dom Armando explica que na quarta-feira de Cinzas, a oração depois da comunhão pede que “o jejum de hoje vos seja agradável e nos sirva de remédio”. A ideia é, de acordo com ele que o jejum ajude as pessoas a serem mais transparentes e livres daquela liberdade interior que permite colher e viver o que mais nos torna humanos, da mesma humanidade de Jesus, repleta de amor cativante. “Esse é o jejum que mais vale aos olhos do Senhor”, finaliza. Com informações do site oficial da CNBB
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