Com visitas a países onde os católicos são minoria, Francisco realiza um “pontificado itinerante”, cujas bases foram lançadas em Aparecida
Na próxima sexta-feira (05), o Papa Francisco inicia a Viagem Apostólica ao Iraque. A visita é, possivelmente, uma das mais desafiadoras de seu pontificado, já que o país vive crises políticas, socioeconômicas e de segurança. A Viagem acontece quase oito anos após a sua primeira Visita Apostólica como pontífice, feita em julho de 2013 ao Brasil. Na época, o roteiro contemplou as cidades de Aparecida (SP) e Rio de Janeiro (RJ).
“Quando ele veio ao Brasil, ele quis passar primeiro aqui em Aparecida. Eu acho que ele se espelha muito na humildade de Maria. Esse é o ideal do papa: humildade. Por isso Francisco tem o costume de recomendar suas viagens à Nossa Senhora. É como se, cada vez que ele procura Jesus, ele batesse à Casa de Nazaré e dissesse para ela ‘eu vim encontrar seu filho’”, analisa o diretor da Academia Marial de Aparecida, padre José Ulysses da Silva.
Em 2007, o então cardeal-arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, já havia estado em Aparecida durante a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano. Na ocasião, o purpurado presidiu a comissão que redigiu o Documento de Aparecida, resultado final da reunião dos bispos. O texto prega a missionariedade da Igreja e a atenção com as periferias, temas que, anos depois, seriam reverberados com mais intensidade após a eleição do argentino ao papado, em 2013.
Meses depois do Conclave que o elegeu, em julho de 2013, Francisco celebrou em Aparecida sua primeira missa fora do território italiano como pontífice. Na Basílica da Padroeira do Brasil, o agora chefe da Igreja Católica lançou as bases de seu pontificado, retomando temas tratados no documento originado anos antes na V Conferência.
Durante a homilia, realizada no interior da Basílica, condenou “o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer”, a quem se referiu como “ídolos que se colocam no lugar de Deus”. Ele recordou ainda o encontro da Imagem de Nossa Senhora Aparecida por três simples pescadores, definindo o fato como uma surpresa divina. “Deus sempre surpreende”, afirmou.
Surpresas que, ao longo do tempo, também foram sentidas em seu pontificado. Entre elas, a preferência pelas “periferias do mundo”, expressa nas viagens pontifícias. Ao contrário de seus antecessores, Bergoglio vai preferencialmente a países de minoria católica, como os Emirados Árabes, Mianmar, Bangladesh, Sri Lanka, Japão, Albânia e Egito, por exemplo.
“Ele olha para a África e a Ásia, sobretudo, e pensa no sofrimento daqueles povos e, por isso, quer estar com eles. Ele vai levando sempre uma palavra de esperança e de diálogo, além de uma expressão de ternura paternal”, comenta padre Ulysses.
O “papado itinerante” de Francisco, fez com que ele igualasse a média de viagens anuais do Papa João Paulo II, considerado um “papa peregrino”. Em 25 anos de pontificado, o polonês Wojtyla realizou 104 viagens fora da Itália, uma média de 4,16 por ano. Já em quase 08 anos, Francisco viajou 32 vezes para outros países, uma média de 4 países por ano. Se o ano de 2020, marcado pela pandemia do novo coronavírus e pela impossibilidade da realização das viagens, não for levado em conta, Francisco supera a média de Viagens Apostólicas realizadas pelo seu antecessor, com 4,57 países por ano.
“O papa é um peregrino que sempre chama a atenção contra o sofrimento, a fome, a sede e, por meio disso, quer inspirar a todos nós para que tenhamos atitudes fraternas em favor do irmão, reconhecendo uns aos outros como filhos de Deus”, explica o sacerdote.
Mesmo impedido de viajar pela pandemia, Francisco não deixou de mostrar sua proximidade com os que sofrem. Em 2020, durante a primeira onda de casos da Covid-19 no Brasil, o chefe da Igreja Católica telefonou, por três vezes para o país. Na primeira vez, em 25 de abril, o papa conversou com o arcebispo de Manaus (AM), Dom Leonardo Steiner. No dia 9 de maio, foi a vez do arcebispo de São Paulo (SP), Dom Odilo Scherer, receber a ligação do Santo Padre. Em 10 de junho, foi a vez do arcebispo de Aparecida (SP), Dom Orlando Brandes, receber o telefonema do pontífice.
“O papa disse: Diga ao povo do Brasil que não somente rezo por vocês todos, mas também os acompanho sempre, com o coração bem pertinho dos brasileiros. Ele disse: a imagem de Nossa Senhora Aparecida está bem pertinho de mim. Eu me lembro que peguei Nossa Senhora no meu colo, a Madonnina, que quer dizer, mãezinha. Recomendo a todos vocês estarem no colo da Mãezinha Aparecida”, recorda Dom Orlando.
Com a visita ao Iraque, de 05 a 08 de março, o Papa quer levar aos iraquianos o consolo do colo de Deus. Com este gesto, Francisco quer continuar sua caminhada rumo às periferias, inicia em 2013 em Aparecida e continuada ao longo de seu pontificado.
Foto: Thiago Leon
Por Victor Hugo Barros
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