“Uma tempestade invadiu o nosso barco, o mar da nossa vida, o mundo inteiro. Nesta celebração peçamos a Deus, já que estamos iniciando a Semana Nacional da Família, pelas famílias que sofrem com a perda de seus entes queridos. É um momento diferente, doloroso, porque cada pessoa, cada vida é importante. Não são só estatísticas, cada pessoa tem um nome, uma história, com seus relacionamentos”, disse o arcebispo do Rio, Cardeal Orani João Tempesta, na missa matutina que presidiu no Dia dos Pais, 9 de agosto, no Santuário Cristo Redentor, no Corcovado, na intenção das vítimas da Covid-19 e de seus familiares.
“Existe a dor pela ausência, mas sabemos que pela fé todos que partiram estão na eternidade, junto de Deus. Precisamos ter certeza na esperança que renasce, a confiança que o Senhor está entre nós. Pelo mistério da encarnação, o filho de Deus veio morar no meio de nós, caminhar conosco na história, pisar o nosso chão. Não podemos perder de vista a direção última da nossa vida”, acrescentou o arcebispo, lembrando que a pandemia já alcançou a marca de três milhões de pessoas contaminadas, com setecentas mil mortes no mundo, sendo cem mil só no Brasil.
A celebração, sob o tema “Para cada vida”, foi promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Cáritas Brasileira e Arquidiocese do Rio, com o apoio das Nações Unidas, por meio da iniciativa global “Verificada” no combate ao crescente flagelo de desinformação sobre a Covid-19 e para aumentar o volume e alcance de informação precisa e confiável.
Na homilia, Dom Orani refletiu o Evangelho, cujo episódio apresenta Jesus caminhando sobre as águas, indo ao encontro dos discípulos, na barca que era agitada pelas ondas, e Pedro que pede para ir ao encontro do Senhor, mas a pouca fé o faz afundar.
“Uma grande tempestade se abate sobre a Humanidade. Diante de ventos contrários que fazem muitas famílias sofrerem com a situação da pandemia, a Palavra de Deus nos diz que é preciso ter confiança e esperança. Nesta celebração vamos colocar cada pessoa que partiu nas mãos do Senhor, junto com o sofrimento de seus familiares. Os ventos são contrários, mas temos a certeza que o Senhor vem ao nosso encontro. ‘Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!’, diz Jesus. Temos que ter a coragem de Pedro, de ir ao encontro do Senhor, mas sem duvidar, porque Jesus é, verdadeiramente, o filho de Deus”, disse o arcebispo.
No final, o reitor do Santuário Cristo Redentor, padre Omar Raposo, que organizou a celebração, destacou os aspectos importantes do monumento do Cristo Redentor, finalizando com a música “Luz divina”, de Roberto Carlos.
“O monumento do Cristo Redentor encontra-se num cenário privilegiado da cidade do Rio, e tem se caracterizado como um espaço sagrado, de fé, que ao longo da pandemia tem permanecido aberto, não aos turistas, mas para a prática do amor, da solidariedade, recebendo inúmeras campanhas com iluminações especiais, integrando cada vez mais a perspectiva do amor, do bem da solidariedade”, disse o reitor.
Transmitida pela Rede Globo de Televisão e demais mídias do Setor de Comunicação da Arquidiocese do Rio, a celebração, que não teve a participação de fiéis, foi concluída com o lançamento de um vídeo com um poema de autoria do poeta e teólogo português Cardeal José Tolentino Mendonça, bibliotecário e arquivista da Santa Sé, lido e interpretado pelo ator Tony Ramos.
Carlos Moioli
“Senhor, livra-nos, Senhor, deste vírus,
mas também de todos os outros que se escondem dentro dele.
Livra-nos do vírus do pânico disseminado,
sim, porque em vez de construir sabedoria,
ele nos atira, desamparados, para o labirinto da angústia.
Livra-nos do vírus do desânimo
que nos retira a fortaleza de alma
com que melhor se enfrentam as horas difíceis.
Livra-nos, Senhor,
por favor, livra-nos do vírus do pessimismo,
pois não nos deixa ver que,
se nós não pudermos abrir a porta,
nós temos ainda possibilidade de abrir janelas.
Livra-nos do vírus do isolamento interior que desagrega,
pois o mundo continua a ser uma comunidade viva, Senhor.
Livra-nos do vírus do individualismo que faz crescer as muralhas,
mas explode em nosso redor todas as pontes.
Livra-nos,
ó Senhor, livra-nos do vírus da comunicação vazia que vem em doses massivas,
pois essa comunicação vazia se sobrepõe à verdade das palavras
que nos chegam do silêncio, do silêncio.
Livra-nos,
livra-nos, Senhor, do vírus da impotência,
pois uma das coisas mais urgentes a aprender,
ó meu Senhor,
nós temos que aprender urgentemente
o poder da nossa vulnerabilidade.
Livra-nos, Senhor,
por favor, livra-nos do vírus das noites sem fim,
pois Tu não deixas de recordar que Tu mesmo ,
ó Senhor, nosso Deus,
Tu mesmo nos colocaste como sentinelas da aurora”.
Fonte:Arquidiocese de Rio de Janeiro(RJ)
Missa no Cristo Redentor / Foto: Santuário do Cristo Redentor
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