Bispo preso pelo governo fala do que são João Paulo II sofreu na Nicarágua

Em 2005 o padre Rolando Álvarez deu seu testemunho sobre o que o papa são João Paulo II viveu em 1983 na Nicarágua, país centro-americano que hoje vive a ditadura de Daniel Ortega.

Hoje, Rolando Álvarez é bispo de Matagalpa e está em prisão domiciliar por ordem do governo de Daniel Ortega, ex-guerrilheiro de esquerda que soma 29 anos no poder na Nicarágua.

Em 4 de março de 1983, João Paulo II enfrentar várias complicações em sua viagem à Nicarágua sandinista à beira da guerra civil. Daniel Ortega era o coordenador da junta governamental que tomara o poder em 1979.

O momento de maior tensão ocorreu na missa no Parque 19 de Julho, em Manágua. Militantes sandinistas gritavam com microfones ligados ao sistema de som usado para a missa, frases como: “Entre o cristianismo e a revolução não há contradição”, “Poder popular”, “O povo unido jamais será derrotado”, “A Igreja popular”, “Queremos a paz”.

O papa pediu silêncio mais de uma vez e finalmente disse: “Silêncio. A primeira que quer a paz é a Igreja”.

Segundo o jornal espanhol El País, são João Paulo II também disse de improviso: “Cuidado com os falsos profetas. Eles se apresentam em pele de cordeiro, mas por dentro são lobos ferozes”.

Em 7 de fevereiro de 1996, em sua segunda viagem à Nicarágua, são João Paulo II falou da primeira vez que esteve no país: “Lembro-me da celebração há treze anos. Aconteceu na escuridão, em uma grande noite escura”, disse João Paulo II em uma missa.

Rolando Álvarez contou em 2005 como viveu aquele dia. Ele tinha 17 anos e participou da procissão das oferendas da missa campal.

No programa da TV da Nicarágua Vidas e Confissões, Álvarez disse à jornalista María Lilly Delgado na Nicarágua, que turbas de sandinistas impediram os jovens das paróquias de irem à missa de 4 de março.

“Fizemos nossa primeira parada no colégio Cristo Rey porque o ambiente já estava um pouco tenso. Começamos a ouvir gritos, frases daquele momento e isso nos fez parar. Eram as turbas, embora não nos tenham dito ‘somos os sandinistas’, mas eram eles”.

O padre disse que só conseguiram chegar à praça por volta das 10h30, quando a maior parte do local estava ocupada por sandinistas com suas bandeiras vermelhas e pretas.

Naquelas pessoas, disse padre Álvarez, “não se via nenhuma devoção. Esse é o fato histórico, o dado objetivo”.

O padre lembrou também que na missa “havia pessoas que pegavam os microfones, mas não as que estavam à vista. Dava para perceber que havia microfones e dispositivos que estavam ligados ao áudio e que estavam escondidos. Há pessoas que estavam gritando frases de ordem com o mesmo áudio” do papa.

“Pelos seus frutos os conhecereis”

“O cristão tem que perdoar, não se pode viver com falta de perdão, mas o perdão não apaga a memória histórica, é desidentificar-se porque, por exemplo, você e eu também somos o que fomos, para bem ou para mal”.

“Pelos seus frutos os conhecereis”, acrescentou citando o Evangelho.

Álvarez também lembrou alguns aspectos da visita do papa João Paulo II em 1996.

“O povo saiu às ruas para chorar, para pedir perdão ao papa em nome da Nicarágua, embora não tenha sido o povo fiel o que cometeu isso”, disse o padre, referindo-se aos ataques sandinistas.

“Quando digo povo fiel, estou falando de muitas pessoas que participaram em 1983, cometendo esse tipo de desrespeito à eucaristia em primeiro lugar, porque o que mais chateou o papa foi o desrespeito a Jesus sacramentado”, disse.

Álvarez disse finalmente que são João Paulo II “nos transmitiu de forma palpável a presença de Deus e isso causa uma emoção e uma comoção no coração, que marcam para a vida toda”.(ACI)

 

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