É tempo do Advento, caminho de preparação para o Natal que leva esperança ao coração. Não se trata simplesmente de uma época caracterizada por cores e luzes, compras, presentes, confraternizações. No tempo do Advento está a oportunidade para cultivar a esperança que sustenta a existência humana. Trata-se, assim, de antídoto para a desesperança que leva a um viver sem sentido, a uma carência de solidariedades e de contribuições significativas para avanços na humanidade. É preciso ter muito cuidado considerando o quão especial é este tempo. Não se deve escutar a voz monossilábica dos “profetas do agouro”, que propagam as sombras da desesperança e do pessimismo, levando a um adoecimento existencial muito comum na contemporaneidade.
Há um conjunto de visões de mundo e de atitudes que projetam escuridão sobre as esperanças. Muito pessimismo é disseminado até mesmo pelos que fazem análises intelectuais da realidade, indicando graves problemas, mas sem conseguir apontar caminhos para solucioná-los. A desesperança é consolidada também pela crueldade das atitudes que estão na contramão do bem de todos, da justiça e da solidariedade. Deve-se aprender a esperançar, sobre o alicerce que é a luz luzente da esperança. Uma luz que ultrapassa a condição humana. São João, poeticamente ensina, nos primeiros versículos de seu Evangelho: Cristo Jesus é esta luz que, vindo ao mundo, a todos ilumina.
Grave é o risco de rejeitar a luz. Significa viver nas trevas, distanciando-se da possibilidade de acolher a luz e, assim, renunciar à única chance de se tornar filho e filha de Deus. Eis a referência única e qualificada da esperança cristã, a ser sempre mais cultivada, anunciada, com a celebração do Natal: o Verbo, Cristo, se fez carne e habitou entre os homens. O coração humano precisa saber esperar – e adequadamente reconhecer o que esperar – para evitar um modo de viver sem rumo, percebido como um grande fardo. Sem a luz da esperança, a humanidade alimenta-se de absurdos e atrocidades, até mesmo com o amparo da razão, que pode contracenar com a pequenez espiritual e humano-afetiva. Oportuno sublinhar que o progresso, à luz da esperança cristã, não significa avançar em conquistas no campo material – não é buscar dominar a natureza, frequentemente a partir de manipulações e procedimentos mesquinhos, com a exploração predatória e gananciosa do meio ambiente. A esperança é alimentada a partir da consciência ética e moral que capacita cada pessoa a pautar suas próprias atitudes para além dos interesses materiais.
A esperança fortalece a liberdade humana, é impulso para gerar a sabedoria que reveste a vida de sentido. Faz crescer a convicção para fazer o bem, remédio que cura descompassos e alarga a tenda do coração, afastando rancores, mágoas e preconceitos. Há um tesouro moral da humanidade que pode ser fortalecido pela esperança cristã. Alimentar a esperança pelos raios da luz que é Cristo, o menino-Deus, do Natal, é, pois, ampliar o horizonte do viver humano. Cresça a convicção da importância de exercitar-se na esperança cristã, aprendendo sua dinâmica com humildade, em uma tarefa nunca concluída, para que os corações sejam sustentados pelo bem e pelo amor. Caminho para que possa crescer a competência cidadã no desenvolvimento de projetos capazes de oferecer respostas aos problemas da humanidade. Trata-se de um investimento possível quando se tem esta certeza: a redenção humana não é conquistada a partir de exterioridades. Os alicerces da genuína esperança se assentam na interioridade, o lugar da verdadeira manjedoura do Deus que vem no Natal. O amor maior, ao ser acolhido, redime.
Advento é tempo de conhecer e reconhecer um grande amor, o amor maior, de Deus, revelado na pessoa de Jesus. É o único amor que vence a morte e ultrapassa a fragilidade humana, transformando-a. É hora de aprender a receber o amor divino, vivendo, com fecundidade, silêncio meditativo, o tempo do Advento, para que brilhe a luz de esperanças.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte(MG)
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