Por um lado, Governo e Congresso Nacional priorizam acordos sobre políticas de ajuste fiscal que permitem a continuidade da concentração da riqueza nas mãos de poucos e impedem o avanço na garantia de direitos sociais e políticas públicas fundamentais. Por outro lado, não há apoio e incentivo à organização e mobilização popular. Posições políticas e reacionárias de extrema-direita, sustentadas pelos poderes econômicos e pelo fundamentalismo religioso, avançam em nosso país e em outros lugares do mundo, comprometendo a garantia dos direitos humanos e a convivência democrática.
Diante desta realidade desafiadora, e à luz da memória de todas e todos os que tombaram na luta pela terra, pelas águas e pela vida, nós, romeiros e romeiras da 47ª Romaria da Terra e das Águas, reunidos em Plenarinhos, reafirmamos nosso compromisso com a vida e com os territórios. Fortalecendo a interação e o protagonismo das romeiras e romeiros, que sob o Olhar do Bom Jesus renovaram suas lutas, alimentando o esperançar, com o uso das diversas linguagens e de forma participativa construímos novos compromissos individuais e coletivos. Através da ludicidade e de atividades manuais com materiais reutilizados as crianças assumiram os compromissos de preservar o meio ambiente, não cortar as árvores, não desmatar as florestas, não jogar lixo no meio ambiente, não jogar veneno nos alimentos, preservar as águas, preservar o rio são Francisco e os três R: Reduzir, Reciclar e Reutilizar.
No plenarinho das juventudes os compromissos foram de promover a cultura de acolhimento, fraternidade e respeito entre as juventudes diversas e construir subsídios para encontros de grupos vinculados a igreja, a fim de colaborar com a formação continuada dos grupos populares. Em Terra e Território, os compromissos ecoaram como um grito de Demarcação Já e contra o PL 709/2023 que criminaliza as ocupações rurais e urbanas, e de unir nossas lutas em defesa da titulação e regularização de todos os territórios e pela inconstitucionalidade da Lei 14.701/23, fortalecendo as iniciativas próprias das comunidades de proteção territorial e autodemarcação.
No Plenarinho São Francisco e outras bacias os compromissos foram de fortalecer o diálogo com as universidades e articulação para incidência política: Demandar das instituições de ensino, pesquisa e extensão para melhorar a gestão dos bens naturais, como a água, e (Re) ocupar as representações populares nos conselhos das bacias hidrográficas. Já no Plenarinho de Fé e Política a partir da necessidade da ampliação de formação de lideranças e incidência política principalmente por conta da proximidade das eleições e avanço das notícias falsas e extrema direita que carregam em si um projeto de morte dos povos, comunidades e da Casa Comum, os compromissos assumidos foram: formação de lideranças jovens e comprometidas com a continuidade das lutas e da história e realização da Romaria da Terra e das Águas de Bom Jesus da Lapa e participar ativamente da política nos diferentes espaços da sociedade e junto ao povo, sendo Igreja comprometida com as causas populares – Participar da política institucional e nas bases – Encantar a Política.
Nessa Romaria, revigorados pela fortaleza ancestral dos Povos originários, das comunidades tradicionais, dos/as campesinos/as e das comunidades urbanas, saímos fortalecidos com a força libertadora do Cristo crucificado, do incentivo do Papa Francisco para que sejamos uma igreja sinodal e em saída que se compromete com o acolhimento às diversidades e o fortalecimento das ações ecumênicas e do diálogo interreligioso, já vivenciados nos territórios.
Provocados pela memória de tantos mártires da terra, especialmente das mulheres Nega Pataxó e Bernadete Pacífico, que nos inspiraram com sua força e compromisso com o território, seguimos exigindo justiça. Entendemos que a força vem do protagonismo dos Povos e comunidades que com autonomia tem um outro jeito de conviver com a natureza superando o modelo desumano, violento, excludente, degradador e acumulador do capitalismo que na sua constante crise nega a vida em plenitude. Seguiremos no nosso engajamento a partir das periferias reais e existenciais, fortalecendo as variadas formas de (re)existências e retomada dos territórios, ao passo que nos uniremos na luta pela demarcação, pela Reforma Agraria, pelo fortalecimento da agroecologia e por uma democracia popular.
Ao retomar o caminho de nossas casas, queremos conclamar a todas/os para continuarmos a construção do Reino de Deus a partir do trabalho com as bases rumo a uma sociedade sem excluídos, sem discriminação, racismo, patriarcalismo, com abundância “onde jorre leite e mel” (Ex. 33,3) – a terra sem males. Nos caminhos dos povos da Terra e das Águas, “o povo caminha para um novo céu e uma nova terra. A luta e a resistência são sinais de Ressurreição”.(Foto:cptba)
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