Encontro com cerca de 160 sacerdotes
Esse é o terceiro e último encontro do Papa com seus sacerdotes, depois do encontro com os sacerdotes idosos a partir de 40 anos de ordenação na paróquia de San Giuseppe al Trionfale, em 14 de maio, e do encontro com os sacerdotes mais jovens de até 10 anos de ordenação, na Casa das Pias Discípulas do Divino Mestre, situada no bairro Portuense, em 29 de maio. Cerca de 160 sacerdotes, incluindo párocos, capelães, diretores de escritórios da Cúria, encontraram o Pontífice e foram convidados por ele a fazer livremente suas perguntas. Vários sacerdotes não puderam estar presentes, informou a Sala de Imprensa da Santa Sé, porque estavam “envolvidos nas atividades de verão com os jovens nas paróquias”.
O exemplo do pe. Milani
”Colunas” da diocese, com suas tarefas nas áreas de caridade, mas também em escolas, prisões e hospitais, assim os definiu dom Michele Di Tolve, delegado da Área para o cuidado do diaconato, do clero e da vida religiosa, que apresentou a assembleia ao Papa após uma oração e a leitura do Evangelho do dia. Logo depois, houve uma sessão de perguntas e respostas de uma hora e meia, durante a qual foram abordadas questões relacionadas à diocese e ao papel e à identidade do sacerdote, a beleza de ser sacerdote (o Papa citou como modelo o pe. Milani, “um grande, uma luz para o sacerdote italiano”), o risco da mundanidade e a necessidade de estender a acolhida nas paróquias “a todos, todos, todos!
Acompanhar os idosos sozinhos e os jovens em dificuldade
A questão do sofrimento das pessoas surgiu com força e elas devem ser acompanhadas com proximidade, compaixão e ternura, três qualidades de Deus a serem vividas – disse Francisco – especialmente “pelos idosos”. A pastoral hospitalar é importante nesse sentido, assim como as dificuldades da cidade de Roma, como a emergência habitacional, para a qual o Papa pediu às congregações religiosas que possuem várias estruturas para serem generosas, ou a difusão das drogas, a tragédia da solidão, dos muitos que vivem sua dor na invisibilidade. “Na vida de um sacerdote, o invisível é mais importante do que o visível, porque é mais denso, mais doloroso”, disse o Papa. Ele acrescentou: “Nosso trabalho como sacerdotes é ir e procurar essas pessoas”, porque “a Igreja é profética ou clerical: cabe a nós escolher”.
Guerras, armas, paz, política
O diálogo então se voltou para a situação atual na Europa e em todo o mundo, e o Papa falou sobre a dor causada pelas guerras em andamento na Terra Santa, na Ucrânia, mas também em Mianmar, no Congo, bem como os enormes investimentos em armas, anticoncepcionais, nas despesas veterinárias e na cirurgia estética. Ele pediu que se trabalhe no magistério social da Igreja, um compromisso maior com o bem comum, com a paz e, em tempos de desinteresse e abstencionismo, com a política, “a forma mais elevada de caridade”.
Admissão de homossexuais nos seminários
Ao concluir, o Papa falou sobre o perigo das ideologias na Igreja e voltou ao tema da admissão de pessoas com tendências homossexuais nos seminários, reiterando a necessidade de acolhê-las e acompanhá-las na Igreja e a indicação prudencial do Dicastério para o Clero com relação à sua admissão nos seminários.
Agradecimento ao Cardeal De Donatis
A conversa também foi uma oportunidade para lembrar e agradecer ao cardeal Angelo De Donatis, desde 2017 vigário da Diocese de Roma nomeado penitencieiro-mor em abril passado. Com os sacerdotes presentes, muitos dos quais tiveram De Donatis como padre espiritual durante seus anos de seminário, o Papa elogiou o cardeal por sua grande “capacidade de compreender e perdoar”, qualidades preciosas em sua nova função, onde ele é chamado a ser “uma expressão do rosto misericordioso do Pai”. Ele agradeceu a todos os sacerdotes por seu trabalho, exortando-os a continuar com seu compromisso, com o discernimento comunitário e com a escuta de todos aqueles que se dirigem a eles.
Fortes e mansos
“O Papa definiu esses pastores como generosos, dedicados, compassivos, capazes de se aproximar… Eles são os únicos que, de fato, se colocam ao lado das pessoas, porque muitas vezes”, disseram os próprios sacerdotes, “as instituições são um pouco surdas e não escutam o grito dos pobres”, explicou dom Di Tolve à mídia vaticana. O Papa os convidou “a serem fortes e mansos ao mesmo tempo, para fazer sentir que a paróquia está perto das pessoas, é um lar entre os lares, e que as pessoas podem reviver uma experiência de família”.
Situações de dor
Comovente durante a conversa de cerca de uma hora e meia, relatou dom Di Tolve, foi “ouvir alguns sacerdotes vivem a solidão e o isolamento de muitos idosos e doentes, e também ouvir suas vozes embargadas de emoção ao relatarem algumas situações de dor que presenciaram”. O Santo Padre recomendou gerar na comunidade a capacidade de ouvir os sinais dos tempos, de ser uma Igreja profética que significa uma verdadeira capacidade de proximidade hoje”. Uma missão que contraria a “condição social de isolamento, de distância, de grandes proclamações e depois de pouca proximidade e partilha efetiva com as pessoas”.
Pessoas que muitas vezes se encontram numa situação de emergência: “Primeiramente, os jovens”, ressaltou dom Di Tolve. “Em Roma, há adolescentes que são recrutados para vender drogas e depois abandonam a escola. Esse é o verdadeiro drama que eles vivem. De fato, disse o bispo, “é preciso ajudar as pessoas a encontrar os valores mais importantes e verdadeiros num contexto e numa cultura em que se ouve dizer: ’Pense em você, realize sua vida. Não olhe muito ao redor, veja apenas você’. Não podemos aceitar que a família humana se torne assim”.
Saudação às pessoas
No auditório salesiano, o Papa chegou depois de passar cerca de quinze minutos do lado de fora cumprimentando os membros da comunidade acadêmica: professores (incluindo um sacerdote de 96 anos), estudantes e colaboradores. Do lado de fora dos portões da universidade, as pessoas do bairro formaram um cordão para receber o Papa. Ele pediu para reduzir a velocidade do carro a fim de cumprimentar a todos. “Pensei que fosse brincadeira. É o Papa mesmo!”, gritou uma garota. Ao falar brevemente com alguns jornalistas, o Papa enfatizou que no G7, onde estará presente em 14 de junho, falará sobre Inteligência Artificial e paz e também manterá algumas conversas bilaterais com os líderes presentes em Borgo Egnazia, na Puglia.
Do carro, um Fiat 500 L, Francisco apertou as mãos da fila de estudantes que lotaram a entrada da universidade, por cerca de uma hora. Ele cumprimentou o padre Cesare, sentado em um banco com uma bengala, brincou com um grupo de argentinos e tirou uma foto com algumas religiosas. No pátio, foi saudado pelo vice-gerente, dom Baldo Reina, e pelo cardeal Ángel Fernández Artime, reitor-mor da Congregação Salesiana, que o apresentou a alguns dos presentes. Alguns se apresentaram, como a irmã Franca, que apertou a mão do Papa, agradecendo-lhe pelas respostas às suas cartas escritas nos últimos anos. Com ela, houve também uma troca de brincadeiras: “Quantos anos você tem?”, perguntou Francisco. “Mais de 80 anos!” “Eu também tenho mais de 80 anos! Mais perto dos 80 ou mais perto dos 90?” A risada coletiva se transformou em silêncio quando o Papa abençoou uma jovem deficiente numa cadeira de rodas chamada Gloria: “Ela é muito boa!”, disseram de um grupo. Acompanhando-a estava uma senhora que exclamou: “Santo Padre, como é lindo o seu sorriso!”. O Papa presenteou a todos com um rosário.
A assinatura do Livro de Honra
No final do encontro, Francisco entregou aos sacerdotes um Terço como lembrança do dia. Houve muitos “agradecimentos” dos sacerdotes, alinhados em fila para cumprimentar o Pontífice; muitos pedidos para rezar por ele, cartas, livros como presentes ou saudações trazidas por paroquianos, crianças do Grest, familiares. Em particular, Francisco incentivou a missão de um padre colombiano que está em Roma há anos. Por fim, assinou o Livro de Honra da Universidade: “Muito feliz com esse encontro com os sacerdotes. Rezem por mim. Fraternalmente, Francisco”.
Salvatore Cernuzio – Roma/Vatican News
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