Nos dias 21 e 23 de maio, foi realizado o mutirão com o clero e leigos do Vicariato Episcopal de Guaíba, para limpeza da Casa Paroquial e Igreja Nossa Senhora Medianeira em Eldorado do Sul. Mais de 15 padres auxiliaram na tarefa, de botas e materiais de limpeza, até mesmo contando com o auxílio de Dom Odair Miguel Gonsalves dos Santos, bispo referencial do Vicariato de Guaíba e bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre. A iniciativa contou com a presença do clero e leigos das diversas paróquias do Vicariato, revelando uma verdadeira fraternidade sacerdotal nesse tempo de verdadeira crise no solo rio-grandense. A cidade foi severamente atingida pelas cheias que assolaram o Estado Gaúcho. Muitos moradores não querem permanecer mais na cidade.
Segundo Pe. Adilson Correia da Fonseca, Vigário Episcopal do Vicariato, de bota e calças sujas de barro pela limpeza, é necessário essa “iniciativa para vivência a comunhão eclesial nas dificuldades e desafios. Porque como diz a Constituição Gaudium et Spes, as alegrias, dores e esperanças da humanidade são as alegrias e dores da Igreja. Dom Odair Miguel parabenizou a todos pelo mutirão. “Que bom que todos se reúnem para fazer uma primeira limpeza geral na paróquia Nossa Senhora Medianeira. A atitude do Vicariato foi de unidade e solidariedade”, disse.
O bispo vizinho do Rio Grande do Sul, da Diocese de Criciuma-SC, que trabalhou e morou no Vicariato de Guaíba, Dom Jacinto Flach, natural da cidade de Bom Princípio-RS, uma das cidades muito atingidas pela catástrofe, enviou uma mensagem de ânimo ao clero gaúcho: “Olhando essa realidade e olhando também e ouvindo os relatos nessas últimas semanas, é realmente uma coisa que a gente não consegue entender. Também eu queria visitar meus familiares já por três vezes e nunca deu para ir, por causa das estradas, pois não se consegue chegar. Olhando ali para vocês de Eldorado do Sul, que tormento e sofrimento! Mas também nos ensina que a gente vai também aprender com tudo isso a confiar mais em Deus e a solidariedade humana, com certeza, vai crescer com tudo isso. Esperamos que vocês ali na luta limpando, especialmente a casa de Deus, onde as pessoas encontram um pouco de força para esses momentos de sofrimento. Contem com nossas orações. Daqui já mandamos muitos e muitos donativos, caminhões e caminhões para aquela região de toda grande Porto Alegre, as regiões mais atingidas. Eu agradeço de coração ao meu povo catarinense e também a vocês que estão aí na luta, esperando que um coração solitário se manifeste. Deus abençoe vocês aí, muita coragem e força! E não esqueçam a oração e a nossa grande força nessas horas”, expressou com compaixão o prelado ao seu antigo rebanho.
A Paróquia Nossa Senhora Medianeira de Eldorado do Sul é uma das paróquias mais atingidas e que se localiza próxima à Grande Porto Alegre, ao largo da cidade e do Rio Guaíba. A causa de tanta inundação aos arredores da capital gaúcha, pelo Rio Guaíba, são seus afluentes. O Lago do Rio Guaíba, que margeia Porto Alegre, recebe água de cinco rios do Rio Grande do Sul: o Caí, o Taquari, o Sinos, o Gravataí e o Jacuí. Com as chuvas fortes e constantes no Estado gaúcho, o nível de cada um deles subiu rapidamente e a tragédia foi inevitável. Por isso, Eldorado do Sul, Guaíba, Cachoeirinha, Canoas e Porto Alegre, Barra do Ribeiro e Viamão foram atingidas diretamente pelas cheias. O desaguamento do Rio Guaíba atingiu também, nos dias posteriores, a cidade de Pelotas e Rio Grande.
Padre Fabiano Glaser dos Santos, pároco do município do Município de Eldorado, participou ativamente da limpeza do templo e casa paroquial, zelando por aquilo que ainda sobrou. Seu escritório, como vemos em fotos, teve perda total de documentos importantes da paróquia, livro Tombo, livros de estudos pessoais e outros materiais. Pe. Fabiano é Mestre em Teologia Sistemática pela PUCR e Doutorando em Teologia Sistemática pela PUCRS. Estudou cinco meses no Bonn Center for Dependence and Slavery Studies, em Bonn, Alemanha, aprofundando sua Pesquisa do doutorado: “Discursos eclesiásticos antiescravistas no Rio Grande do Sul na segunda metade do século XIX”. Informou que teve perdas de livros importantes de seu aprofundamento, como os autografados por Joseph Ratzinger e Cardeal Gerhard Ludwig Müller.
Sua paróquia fica em uma área urbana e foi 100% atingida pelas fortes chuvas. “Tudo virou um só rio”, disse anteriormente. Das seis igrejas da Paróquia Nossa Senhora Medianeira, somente uma não foi tomada pelas águas porque está em um “distrito chamado Parque Eldorado que não teve inundações”. No bairro onde se situa sua Igreja, a cena é de destruição e de deserto. Muitos entulhos das casas e moradores que, de momento, não estão morando na região.
As chuvas, nessa quinta e sexta feira (23 e 24 de maio), retornaram com toda intensidade no Estado, preocupando a todos. As águas se avolumam de novo e seu aumento, nessa quinta, já destruiu a passadeira flutuante sobre o Rio Forqueta, entre Lajeado e Arroio do Meio, construída recentemente pelo Exército Brasileiro, para acesso aos pedestres das cidades isoladas. Ruas já ficaram alagadas, impedindo acessos. Porto Alegre novamente em estado de alerta devido as chuvas desta semana. Participando da limpeza dos ambientes internos da sede paroquial de Eldorado, depois do almoço improvisado dentro da própria Igreja, o pároco pediu para encerrarmos temporariamente os trabalhos, pois o alagamento começou a comprometer a saída dos carros da cidade. Pe. Fabiano ainda está residindo na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Guaíba, desde o início do mês.
Imagem da Virgem de Fátima navega pelas águas e permaneceu em pé
Além de incontáveis salões paroquiais, mais de 30 instituições de Ensino, na grande Porto Alegre, localizadas nas regiões atingidas pelas enchentes, abriram suas portas para os desabrigados. Exemplo disso é a rede de Escolas São Francisco, que das dez unidades, duas foram atingidas diretamente pelas cheias, uma que está debaixo d’água e outra ficou ilhada em um bairro de Porto Alegre. O assunto agora passa longe dos problemas estruturais, pois outras cinco unidades cuidam do mais essencial que é a vida de quem perdeu tudo.
Quando as águas baixam, os estragos são vistos em todo o lugar e a situação parece desoladora e, às vezes, desesperadora. Por isso, urge ver sinais de esperança. No Colégio São Francisco – Sagrada Família – do Bairro São Geraldo, na capital gaúcha, um vídeo mostra um aspecto curioso. Uma imagem da Virgem de Fátima, deslocando-se do local de origem da entrada do colégio, foi levada pelas águas, pelo pátio da escola, e permaneceu próxima à capela, não deitada, mais em pé. A imagem de Nossa Senhora foi encontrada intacta em frente à capela após a enchente. De alguma forma, a imagem percorreu uma distância de aproximadamente 100 metros, um fato que deixou todos os funcionários surpresos e impressionados.
Segundo o Diretor Geral da Rede das Escolas São Francisco, Pe. José Luis Schaedler, a imagem com a enchente deve ter flutuado ou sido empurrada através da porta, atravessado o pátio central e foi parar na frente da Capela, no fundo do colégio e ficou em pé e não ficou suja com a lama, nem ficou danificada… E é de gesso!”. Schaedler disse que “a imagem passou o dia dedicado à Nossa Senhora de Fatima, 13 de maio, embaixo d’água! Mãe Maria vigiando! Permaneceu inteira. Em pé. Um belo sinal de que o que é importante e verdadeiro, nem a inundação derruba ou quebra! Nossa Senhora de Fátima, rogai por nós!”, invocou o presbítero. E concluiu: “Realmente não tem como entender o que aconteceu… Dia 13 de maio as águas estavam na altura das janelas e provavelmente a imagem deveria estar dentro da água e deslocando-se de um lado para o outro, assim como os móveis, cadeiras, classes, computadores”.
*Pe. Gerson Schmidt é jornalista e Colaborador da Rádio Vaticano
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