Localizado na Ilha de Itaparica, o município de Vera Cruz já está se preparando para celebrar a festa do Titular, o Senhor da Vera Cruz. Este ano à luz do tema “Educação e fé na Terra da Santa Cruz”, o novenário, que teve início no dia 5 e segue até 13 de setembro, acontece sempre às 19h, na Capela Senhor da Vera Cruz – Comunidade Baiacu.

Na data em que a Igreja celebra a Festa da Exaltação da Santa Cruz (14), os católicos participarão de uma programação especial, que terá início com a alvorada, às 5h, seguida da recitação do Ofício de Nossa Senhora, às 6h. Já às 8h, haverá uma procissão com a imagem do Senhor da Vera Cruz até a Igreja das ruínas, onde o bispo auxiliar, Dom Marco Eugênio Galrão, presidirá a Missa Solene, às 10h.

Já no dia seguinte (15), a Igreja celebrará a Festa de Nossa Senhora das Dores. Na ocasião haverá a Celebração da Palavra, às 10h, conduzida pelo seminarista da Diocese de Camaçari, José Nilson.

Um pouco de história

Em 1560 aportaram à Ilha de Itaparica o piedoso Luiz da Gran e seus companheiros de catequese, Antônio Pires e Luiz Rodrigues. Estes se fixaram no alto de uma colina onde levantaram o primeiro povoado e Igreja sob invocação do Senhor da Vera Cruz, nas terras que haviam sido doadas pelo primeiro governador geral, Tomé de Souza, à sua tia, dona Violante, mãe do conde de Castanheira.

Terminadas as obras de construção do templo, em 1561, santuário que encheu de encanto o primitivo aldeiamento dos Tupinambás, Dom Pedro Leitão, então segundo bispo do Brasil, pontifica no seu altar, conforme o testemunho do padre Antonio Blaques, que havia sido diretor do Colégio de Jesus, na Bahia. Segundo a história, para grande festa da inauguração da Igreja de Vera Cruz, em 1561 partiu de Salvador com destino à Ilha, o bispo Dom Pedro Leitão, com mais 40 jesuítas e três irmãos, tendo o bispo enjoado muito na travessia, ao ponto de vomitar sangue pela boca.

Ao chegar ao povoado, o bispo seguia em uma rede carregada pelos índios e, logo após a sua chegada, a aldeia estava completamente cheia. Sentado em uma cadeira, lançou a bênção ao povo e deu-lhe a mão a beijar. No dia seguinte, que foi a Véspera da festa, houve confissões e batizados; e aconteceu a chegada do Ouvidor Geral e muita gente da cidade. À tarde, cantaram-se as vésperas, ao som do órgão, e, finalizando a cerimônia, seguiu-se uma grande procissão pela aldeia, precedida de duas cruzes.

Finalmente, no dia 14, teve lugar a festa máxima, a primeira que se fez na Ilha, e tantos eram os afazeres, apesar da grande atividade do Provincial, que somente às 16 horas, pôde o bispo, em uma cadeira junto à pia, dar início à cerimônia dos batizados que somente terminou por volta das 22 horas. Conta-se que foram 530 catecúmenos, o que fez com que o bispo precisasse de ajuda para finalizar os 20 últimos batismos.

Na missa pontifical do outro dia, celebrada por Dom Pedro Leitão e acompanhada do órgão que tinha trazido de sua capela, passou o prelado findo ofertório a casar os pares que o padre Provincial ia apresentando. 70 casais receberam a bênção nupcial e terminada a missa seguiu-se uma procissão na qual o bispo, debaixo de um pálio vermelho, percorreu uma rua comprida, bem ornamentada e cheia de muita gente, acompanhando grande multidão de gentios ataviados à sua moda com belas penas e suas maracás nas mãos. À tarde, a festa teve fim com a partida do bispo e dos padres, à exceção de Antônio Pires e seus companheiros, muitos consolados com que o Senhor lhes tinha feito.

A partir da década de 40, o povoado entrou em decadência, então desceram a colina e foram fixar residência no povoado chamado Baiacu, enquanto a Igreja começou a ruir com o passar dos tempos, acrescentando a falta de conservação. Desde a criação do primeiro povoado que a pesca vem sendo a principal atividade dos moradores, ou melhor, dos nativos da ilha. Segundo dados extraídos de pesquisa realizada por fiéis da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Vera Cruz, foi ainda em Vera Cruz que o padre José de Anchieta, o apóstolo do novo mundo, recebeu a notícia de ter sido escolhido para substituir Inácio de Tolosa como Provincial dos Jesuítas no Brasil.

O Baiacu é a mais antiga e mais importante colônia de pesca que a Ilha tem. Diante deste contexto histórico, a comunidade do Senhor da Vera Cruz se une às orientações do santo padre o Papa Francisco para, neste ano, celebrar a festa com o tema: Educação e Fé nas Famílias da Santa Cruz, retratando a necessidade de resgatar a disciplina, a decisão e o respeito do ser humano, além de ser um convite a escutar a voz de Deus.

Texto com informações históricas enviadas pela Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Vera Cruz.

Foto: Alessandro Alcântara