O dia inteiro passou chuvoso, de neblina baixa, pouco vento soprava o rosto de quem estivesse ao largo. O friozinho intenso envolvia a todos, principalmente os magricelos, os quais sentem mais frio do que qualquer outra pessoa. Ao que mais tarde se sucedeu foi uma chuvarada muito mais forte forçando magros e gordos a se esconderem como cada qual podia.
Com uma mochila nas mãos, uma sombrinha fechada e uma camiseta molhada na outra mão, vinha caminhando uma senhora. Seu interesse em participar de um grande sossego debaixo daquela cabana foi contornado na medida que colocou seus pés lá dentro. Um lugar enxuto. Onde poderia descansar da grande fadiga das águas torrenciais.
Sentada em uma cadeira que ficava defronte às outras várias cadeiras linearmente postas uma ao lado da outra de forma que erigia um corredor que dava para uma enorme sala. Tida como “repouso”. Era mesmo um ponto de apoio para repousar da lida diária dos muitos frequentadores daquele recinto de descanso, onde estava sentado um jovem que do seu lugar observava aquela senhora que estava chegando rápida, livrando-se da chuva fria.
Dirigindo-se àquela senhora, o jovem inquiriu: “olá! Qual o nome da vossa graça?”
Graciosamente, respondeu: “Leda”. A qual já foi enviado seu currículo informando que trabalhara em muitas coisas e que no momento seu labor se fada em ser vendedora. Arriscou comparar seus outros ofícios deixando o atual como o mais atraente, visto que tinha o contato com as pessoas, o que, para ela tornava-se uma realização de vida.
Aquele encontro, todavia, deixavam a ambos satisfeitos porque não só aquela vendedora gostava de fazer amizades como também o jovem, o qual quis saber mais detalhes da vida da senhora:
_”Dona Leda, a senhora não é aposentada?” Ao jogar estas palavras no ar ele logicamente não saberia da resposta que teria para sua pergunta e nem mesmo da reação da vendedora por lha chamar com dois pronomes de tratamento. Enquanto ela não respondia – isso só o tempo de resposta – ele pensou que “Dona” ou “Senhora” a chatearia.
Seu alívio veio sem tanto pesar:
“Não, meu filho! Preciso esperar o tempo certo pra eu poder aposentar”.
Tudo bem, o tempo não para. Logo estará em tranquilo gozo dos seus direitos seja pelo tempo de trabalho ou mesmo por idade. Com isso o jovem, por fim perguntou: “então a senhora deve ter contribuído com o INSS!?” Encerrou ela: “este tal de INSS é uma empresa onde eu pago meus impostos? Pois minha água, luz e celular estão todos pagos”. Não, Dona Leda, o INSS é um futuro tão distante que quando se chega nele não mais existirá chuva, frio, contato com as pessoas e nem mesmo produtos para se vender, em suma.
Filósofo Padre Joacir d’Abadia, autor, dentre outros, do livro “A Incógnita de Cully Woskhin” (Palavra e Prece, 2018). Curta a Página @Padre Joacir d’Abadia
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