Padre Rutilio será beatificado no próximo dia 22 de janeiro em El Salvador junto com Solórzano, Lemus e o franciscano Cosma Spessotto. O jesuíta foi executado por seu compromisso com os pobres de El Salvador. A partir de 1970, a sociedade salvadorenha, caracterizada por enormes desigualdades, começou a tomar medidas em direção a uma maior organização camponesa para reivindicar seus próprios direitos. Foram anos caracterizados pelo confronto entre os diferentes grupos de poder e os sindicatos, mas também pela severa repressão do governo em um crescendo de violência que atingiu principalmente os membros da Igreja, acusados de incitar os camponeses e os pobres. Em 1992, no final da guerra civil que eclodiu em 1980, tinham sido mortos mais de 20 sacerdotes, quatro religiosas, centenas de catequistas e também o arcebispo Óscar Romero.
O ideal da fraternidade: uma mesa em comum com Cristo
Durante esses anos, o padre Rutilio trabalhou para garantir que a vida e os direitos dos camponeses fossem respeitados, como recordou o jesuíta padre Rodolfo Cardenal, autor do livro “Vida, pasión y muerte del jesuita Rutilio Grande” (2016). O sacerdote seguia um ideal de fraternidade para a Igreja e o mundo, como ele descreveu em uma homilia em 13 de fevereiro de 1977, em Apopa: “Longas toalhas de mesa, uma mesa em comum, cadeiras para todos, e Cristo no meio! Aquele que não tirou a vida de ninguém, mas a ofereceu pela causa mais nobre… A construção do Reino, que é a fraternidade de uma mesa em comum, a Eucaristia”.
Uma abordagem inovadora para a formação
O Padre Rutilio tinha adotado uma abordagem inovadora na formação de seminaristas, bem como de leigos e leigas, quando foi designado para a paróquia de Aguilares. Ele dizia: “Agora não vamos esperar por missionários de fora. Ao contrário, nós mesmos devemos ser missionários”. Neste esforço, o padre Rutilio Grande e seus companheiros jesuítas começaram a visitar pessoas tanto em comunidades rurais quanto urbanas. A proximidade com os camponeses e seus sofrimentos deveria ser um dos principais pontos do trabalho pastoral. Com o tempo, sua abordagem pessoal levou as pessoas à celebração da Eucaristia, aos sacramentos e ao estudo da Bíblia, resultando em uma comunidade vibrante de cristãos que participam ativamente da vida da paróquia.
Quatro mártires, quatro bênçãos
O Padre Cardenal afirma que a beatificação dos quatro mártires coloca a Igreja salvadorenha e latino-americana no caminho da Igreja mártir: “Rutilio Grande está associado a Dom Romero. E Dom Romero não pode ser compreendido sem Rutilio Grande. Ele e outros sacerdotes trabalharam para preparar o caminho pastoral que Romero seguiu e levou adiante”. Por outro lado, de acordo com o biógrafo jesuíta, o Padre Rutilio e os outros três mártires são o símbolo de “uma exigência de verdade e justiça em um país onde a mentira é estrutural, onde a impunidade prevalece e onde os crimes de guerra não foram investigados ou julgados”.
“Igreja em saída”
A contribuição mais importante desses mártires, diz o historiador, é a de ter estado ao lado dos pobres em uma época de conflito e dificuldade: “É o que o Papa Francisco agora chama de ‘a Igreja em saída’, que vai para as periferias. Eles foram para as periferias. Este era o sonho do Padre Rutilio, ele queria que a criação fosse compartilhada por toda a humanidade, que ninguém declarasse como próprio algo que fosse comum a todos. Ele promoveu a criação de comunidades onde cada um tinha seu próprio espaço”.
Rodolfo Cardenal insiste na importância da contribuição e da experiência pastoral do padre Rutilio Grande, particularmente a idéia de consolidar uma “pastoral de conjunto” que sublinha o exercício do cuidado pastoral em equipe. “Que, na essência, é o que o Papa Francisco chama de caminho sinodal”. Rutilio Grande lutou por isso, assim como “por uma sociedade na qual os seres humanos pudessem viver em plenitude”. A Igreja salvadorenha se prepara para a celebração desses quatro mártires no desejo de que a verdade seja conhecida e de que seja feita justiça.
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