Uma consolação do Coração

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Só o coração em ofegantes pulsações me dava mostras de existir. Era eu, um amedrontado pelo silêncio, iniciando um retiro, um tempo de recolhimento onde de podia ouvir meu interior. Bem no fundo deste coração uma voz me dizia que eu iria iniciar um “tempo de graça”. E este coração também me dizia que eu preciso falar com meu coração, quer dizer, eu deveria conversar com minha interioridade. Nesta conversa o que não poderia me faltar seria a percepção deste compasso com o coração e poder me surpreender com o encanto que ele mesmo pode me oferecer.

A escuta, o sentir e o movimento do coração é a viva resposta de quem consegue escutar o coração orante, o coração que reencontra com o que escuta. É uma consolação que desconstrói o edifício, o muro que consigo erguer contra mim.

Será que me interesso a mim mesmo? Neste diálogo entre eu e meu coração esta é uma pergunta cabal e saber responder não seria por meio do uso de minha espertíze intelectual, mas, antes, buscando ouvir o meu interior. Romano Guardini diz que esta escuta é para “Convocarmos a nós mesmos”. Ora, pois! Será que conseguimos nos convocarmos, e, a partir deste chamado, nos interessamos conosco mesmos? Depois destas descobertas ainda se pode objetar: desejar o que neste momento de descobertas? Ser o que, sem estar cercados pelas realidades que me cercam? Querer um coração que escuta; ou que deseja escutar, tão somente isso.

Eu temo que este coração que pulsa não consiga escutar cada pulsação. Não posso ficar indiferente com o que eu encontrar, devo me encantar até mesmo se encontrar um caminho que não me trás muito consolo. Contudo, sendo este tempo, um “tempo de graça”, posso buscar nas reflexões de Albert Camus que me diz: “… no mundo do sagrado, toda palavra é ação de graças” (O homem revoltado, p. 32).

A única palavra que eu consigo descrever, se é que consigo argumentos que seja notório para este instante, é usar deste tempo, como uma graça que emerge do meu interior e falar o que meu coração sente. Uma grande paz envolve minha vida, e com isso, também eu, me sinto dialogando com a palavra paz. Assim, neste “tempo de graça”, meu coração, já vivendo a calmaria num colóquio comigo mesmo me disse que esta paz interior é uma ação de graças. Escutar a vida interior é viver em paz e ter harmonia com as descobertas de desolações que, muitas vezes, tenta consolar as pulsações desmedidas do coração.

Por:Padre Joacir d’Abadia, filósofo autor de 15 livros, especialista em Docência do Ensino Superior e amante da vida descrita nos 3 mais recentes livros publicados

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