O especialista em relíquias da Arquidiocese de São Paulo, Fábio Tucci Farah, em audiência com Dom Odilo Scherer, arcebispo local, já apresentou uma pesquisa que vai orientar a reconstrução artística do rosto de São Paulo, patrono da cidade. A ideia segue mais um projeto idealizado por Farah, um dos fundadores do Departamento de Arqueologia Sacra da Academia Brasileira de Hagiologia (ABRHAGI), que, pela ciência forense e mesmo sem acesso aos crânios dos santos, já recriou o retrato artístico mais fidedigno de Santa Joana d’Arc e, agora, está apresentando em primeira mão a reconstrução facial artística de São Tiago Zebedeu, um dos apóstolos mais próximos de Jesus e testemunha de Sua Transfiguração.
O Rosto da Europa
O projeto nasceu há 2 anos e foi intitulado “O Rosto da Europa”, em referência à afirmação do autor alemão Goethe – a Europa se fez a caminho de Santiago – e à tradição por onde o Apóstolo teria levado a Boa Nova do Reino. Tanto que, no século IX, a descoberta das relíquias de São Tiago na Espanha começou a arrastar multidões ao seu sepulcro. Naquela época, como lembra Farah – também curador adjunto da Regalis Lipsanotheca, em Ourém/PA, um dos maiores acervos de relíquias fora do Vaticano – “se aproximar das relíquias de um Apóstolo era estar em sua presença”:
“Com o passar dos séculos, as relíquias se perderam dentro da catedral até a redescoberta, em fevereiro de 1879. Em uma audiência privada com dom Julián Barrio Barrio, arcebispo da cidade, manifestei o desejo de reconstruir o rosto do Apóstolo. Seus restos mortais, incluindo o crânio, estão ali. Porém, o relicário está lacrado e há uma interdição papal impedindo sua abertura: a bula Deus Omnipotens, de Leão XIII. Diante disso, surgiu a ideia de fazer a recriação artística do rosto do Apóstolo, usando os mesmos princípios empregados no trabalho de Santa Joana d’Arc.”
Um projeto de ponte-área Brasil-Espanha
O rosto de São Tiago foi recriado pela artista espanhola Girleyne Costa, e a pesquisa, uma etapa fundamental do projeto, contou com a parceria de Farah e Mariana de Assis Viana Mansur, “que já percorreu oito vezes o Caminho de Santiago e conhece bem a iconografia do Apóstolo”, explica o especialista brasileiro. Farah comenta que “não seria suficiente retratar um pescador galileu do século I”, com suas características étnico-raciais. Era preciso ir além, buscando traços em referências já consagradas e em iconografias pouco conhecidas.
“A ideia não seria apresentar o rosto de um pescador galileu do século I e dizer: ‘eis aí São Tiago’. Mas apresentar o rosto de um provável pescador galileu do século I que fizesse as pessoas se lembrarem do Apóstolo: o irmão de São João, retrato nas catacumbas nos primeiros séculos, o primo de Jesus Cristo, o apóstolo que saúda os peregrinos em sua imagem mais célebre – a do Pórtico da Glória. Um homem que chegou ao ‘fim do mundo’ para pregar o Evangelho. Com o dossiê histórico, a Girleyne iniciou os esboços. Acompanhei o processo do primeiro esboço ao retrato final; essa etapa durou aproximadamente seis meses.”
A importância do culto religioso
A imagem nunca esteve tão valorizada como nos últimos tempos. O próprio João Paulo II, em carta apostólica sobre a veneração das imagens (Duodecimum Saeculum de 1987), enfatizava a importância da representação de Jesus, de Nossa Senhora, dos Mártires e dos Santos para “favorecer a oração e a devoção dos fiéis”. E conhecer um rosto fidedigno à realidade de personagens históricos, como o de São Tiago Maior, finaliza Farah, é um instrumento eficaz para reavivar e fortalecer a fé dos devotos:
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