“Sem a força da Palavra de Deus não conseguiremos dar, como Igreja e como cristãos, as respostas adequadas para a conjuntura que estamos vivendo”. Esta foi uma das muitas afirmações proferidas pelo arcebispo metropolitano de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo em uma live ontem, 6 de julho, organizada pela Edições CNBB.
A live contou com a mediação do assessor adjunto de Pastoral da CNBB padre Marcus Barbosa, também assessor da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da entidade. Durante cerca de uma hora, o presidente da CNBB, provocado pelas perguntas do mediador e dos internautas, foi aprofundando aspectos das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE 2019-2023), tema da live, à luz do contexto atual da pandemia do novo coronavírus.
Segundo presidente da CNBB, existe atualmente um fenômeno no Brasil considerado como “cristianismo torto”. Em sua avaliação, a Igreja no Brasil deve buscar superar este tipo de cristianismo se quiser manter a coerência e o compromisso com a tradição da doutrina da Igreja e com o magistério do Papa Francisco. O próprio dom Walmor explicou o sentido de “cristianismo torno”. Em suas palavras “trata-se de pessoas que defendem aspectos da fé sem um verdadeiro embasamento na Palavra de Deus e na tradição da Igreja e o fazem convictos de que estão certos”.
“Precisamos, por meio da formação bíblica e da formação integral, multiplicar ministros da Palavra, para que promovam experiências verdadeiramente cristãs”, defendeu o arcebispo de Belo Horizonte. A centralidade da Palavra de Deus na vida da Igreja será o tema central da 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), adiada para 2021.
A CNBB publicou, por meio da Edições CNBB, as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE) para o quadriênio 2019 – 2023 na série Documentos da CNBB sob o nº 109. Trata-se do principal documento que o episcopado brasileiro aprovou durante a sua 57ª Assembleia Geral, realizada em Aparecida (SP), de 1º a 10 de maio.
Para o quadriênio 2019-2023, as diretrizes foram estruturadas a partir da concepção da Igreja como “Comunidade Eclesial Missionária”, apresentada com a imagem da “casa”, “construção de Deus” (1Cor 3,9). Em tudo isso, as Diretrizes – aprovadas pelos bispos do Brasil – convidam todas as comunidades de fé a abraçarem e vivenciarem a missão como escola de santidade.
Igreja nas casas
A ideia da Igreja como casa e a Igreja na casa das pessoas neste contexto da pandemia da Covid-19 foi aprofundada pelo presidente da CNBB. “Nada é mais importante que a casa para as pessoas”, disse dom Walmor que, lembrou ainda, a origem da Igreja Católica, como narra o Novo Testamento, de casa em casa. Na avaliação de dom Walmor, esta experiência inicial tem uma força neo-testamentária muito bonita. “A casa é realmente a grande referência afetiva, lugar de encontros e também de aprendizados”, afirmou.
O presidente da CNBB lamentou o fato de que, no atual contexto de avanço da pandemia, exista ainda milhares de brasileiros e brasileiras que não possuem um teto digno para abrigar-se, o que torna-se contraditório com o pedido mais feito pelas autoridades sanitárias atualmente: “fique em casa!”. “Temos o desafio social de trabalhar para que todos tenham uma casa”. Segundo dom Walmor, com a pandemia, a Igreja está redescobrindo o sentido e formas diferentes de se fazer presente nos lares, o que considera como um ‘novo Pentecostes’. “A pandemia está nos re-ensinando o valor da casa. A Igreja precisa conhecer as pessoas em suas casas”, disse.
Além da ideia da Igreja como casa e como comunidades eclesiais missionárias, o arcebispo de Belo Horizonte também aprofundou o aspecto da gestão Pastoral e administrativa, outro ponto presente nas DGAE 2019-2023. “Precisamos ter exemplaridade na gestão dos recursos que são doados à Igreja para a obra da Evangelização e para a caridade”, afirmou. A Igreja no Brasil, na avaliação do arcebispo, precisa dar o exemplo da boa gestão e da ética administrativa sobretudo por causa da corrupção, uma chaga, que em sua avaliação, drena os recursos dos brasileiros que poderiam ser bem aplicados na promoção do bem comum.
Dom Walmor apresentou um conceito de gestão pastoral e administrativo moderno, baseado na sustentabilidade, no desafio de gerir e otimizar recursos num contexto de escassez, na sustentabilidade e na perspectiva da solidariedade e do desenvolvimento institucional. No atual contexto, dom Walmor aposta na solidariedade como remédio para um novo tempo de escassez de recursos. “A Igreja comprova sua autenticidade com verdadeiros exemplos de amor e de solidariedade”, afirmou dom Walmor em referência às várias histórias reais das comunidades brasileiras que estão desenvolvendo ações para mitigar os impactos do coronavírus, especialmente junto aos mais empobrecidos por meio da “Campanha É Tempo de Cuidar”.
Dom Walmor falou ainda do desafio da formação integral, da criação do Instituto Nacional de Pastoral Alberto Antoniazzi, batizado de Inapaz, projeto que a CNBB está retomando como caminho para fortalecer a formação de cristãos. Dom Walmor defendeu, no final da live, que a Igreja não pode voltar ao normal após esta pandemia e que ela está sendo desafiada à uma nova postura de zelo e promoção da saúde, o que exige novos cuidados com a infra-estrutura das Igrejas e comunidades, menos impacto à natureza e com a Casa Comum.
“Compartilhar perspectivas com a atual presidência da CNBB, com os irmãos bispos do Conselho Pastoral e do Conselho Permanente, com assessores, cristãos leigos e leigas”, é o maior legado do primeiro ano de gestão da atual presidência da CNBB segundo dom Walmor. “Conseguimos leveza. Não assumimos nossa tarefa como um peso, mas com alegria no caminho”, disse. À Igreja no Brasil, dom Walmor disse que está posto o desafio de abrir-se ao novo para dar novas respostas no atual contexto.
Ao final da live, o arcebispo destacou o processo, em fase inicial, de revisão do Estatuto da Conferência tendo em vista torná-la, cada vez mais, a expressão da colegialidade da Igreja no Brasil. Dom Walmor afirmou ainda que a comunicação estratégica e o investimento na gestão administrativa e na formação integral e pastoral de excelência são desafios compartilhados pela atual presidência da CNBB, a quem dirigiu gratidão pelo trabalho conjunto. O presidente da CNBB ao falar deste primeiro ano à frente de uma das maiores organizações católicas do Brasil se colocou como um humilde servo. “Tenho muita alegria de ser um servidor da Igreja”, encerrou.(CNBB)
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