Natural de Pontestura, Monferrato (Itália) onde vive atualmente com a sua irmã Caterina, Dom Aldo é o bispo mais idoso da Itália e da Conferência Episcopal do Brasil (CNBB), o 6º prelado mais idoso no mundo.
“Hoje estamos aqui com o coração dilatado de alegria e gratidão pelos 100 anos de Dom Aldo Mongiano”, disse Dom Mário Antônio da Silva, atual bispo de Roraima e 2º Vice-Presidente da CNBB, ao presidir a missa concelebrada por Dom José Albuquerque de Araújo, bispo auxiliar de Manaus, Pe. Stefano Camerlengo, Superior Geral IMC e diversos padres. “Com todos os amigos de Roraima, trazemos a gratidão a Deus pela vida de renúncia e sacrifício, de missionariedade e de esperança. Ele se dedicou muito na formação dos cristãos, apoiou os jovens, fez com que Roraima não somente se tornasse diocese, em 1979, mas também, uma referência para a Igreja na Região Norte do Brasil e até mesmo em outras partes do mundo”, recordou Dom Mário Antônio segurando carinhosamente a mão de Dom Aldo.
Destacou ainda, “o quanto ele escreveu nos corações das pessoas com sua vida e seu testemunho, sua renúncia e seu sacrifício ao lado de outros missionários e missionárias da Consolata, de leigos e leigas e outros missionários e missionárias da Igreja local”.
A opção pelos indígenas
Uma das marcas de Dom Aldo foi a defesa dos povos indígenas contra a invasão dos garimpeiros, fazendeiros de gado e arrozeiros. Em 1974, os missionários da Consolata em Roraima, decidiram que os Povos Indígenas seriam a prioridade em seu trabalho. A escolha foi importante e histórica. Alguns anos depois, também a Diocese de Roraima em sua Assembleia de 1979, fez a opção pelos indígenas. Na ocasião, Dom Aldo publicou uma Carta Pastoral com o título: “Os missionários podem evangelizar os índios?” Foi a resposta ao Presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio) que havia proibido os missionários de trabalharem com os indígenas. Com coragem e profecia, na carta, o bispo denunciou a situação vergonhosa de abandono e exploração que as comunidades indígenas sofriam e afirmou que a Igreja continuaria a sua missão, apesar da proibição. Por causa do Evangelho, foi ameaçado e perseguido, mas ainda hoje, os povos indígenas afirmam: “Dom Aldo nos fez entender que nós indígenas somos iguais aos outros”. “Olhem o quanto isso é importante na vida das pessoas”, observou Dom Mário Antônio. “Essa sua mensagem continua muito presente no coração de todas as comunidades, não apenas das comunidades indígenas”.
Para o bispo de Roraima, “o testemunho de Dom Aldo é um caminho de santidade, ele é um homem bem-aventurado. Mostrou e disse que é feliz, claro que com 100 anos, não sem dores, mas com o coração muito agradecido. Em suas mensagens, sempre falava e dava testemunho da paz e da justiça. Quem luta pela paz e pela justiça, Deus se ocupa de sua longevidade e da sua felicidade”, complementou Dom Mário.
Ordenado padre em 1943, Dom Aldo foi missionário em Portugal e Moçambique antes de ser nomeado por Paulo VI, em 1975, bispo da Prelazia de Rio Branco, atual diocese de Roraima, criada em 1979. Ele permaneceu à frente da Diocese até 1996.
Gratidão a Deus e ao povo
Com algumas dificuldades de audição, mas mostrando lucidez e sabedoria, o bispo centenário também deixou a sua mensagem. “Eu somente recebi favores e graças de Deus. Recebi tantos dons. Estou triste por não ter sido mais generoso na resposta ao Senhor. Poderia ter sido mais dedicado, mais pronto ao sacrifício, mais amável. Peço perdão dos meus limites, dos meus pecados, e vos agradeço por tanta bondade”. Com o coração universal, Dom Aldo recordou que foi missionário em muitas igrejas, falou em muitas nações e em muitas línguas. E explicou: “por que essa era minha missão. Eu devia anunciar o Senhor, falar de Deus bom, de Deus misericordioso, que mandou seu Filho para nos salvar, que veio nos ensinar como conduzir os nossos passos no caminho da vida. Nunca pensei que iria receber tantas honras, tantas graças, tanta misericórdia, tanta bondade.
E a gratidão batia forte no seu coração. “Estou aqui para agradecer. Se tivesse que dizer os favores recebidos quem os poderia contar? Se tivesse que contar as vezes que tive de pedir perdão a Deus, quem as poderia contar? Perdão Senhor! (…) Agradeço a todos os que viveram comigo e me acompanharam e me ajudaram. Consagrei a minha vida a Deus, à Nossa Senhora e às missões. Peço ao Senhor que abençoe a vossa casa, as vossas famílias, a vossa vocação”.
Seguindo os passos de Allamano
O Superior Geral dos Missionários da Consolata, Padre Stefano Camerlengo sublinhou que “Dom Aldo, muitas vezes agradeceu a Deus. Porém hoje, nós estamos aqui para agradecer a ele pelo dom da vida que o Senhor lhe fez. Eucaristia é agradecer”.
Dirigindo-se aos brasileiros, Padre Stefano manifestou a alegria pela presença do grupo. “Como missionários da Consolata estamos contentes, por que aqui é a Casa Mãe onde todos os filhos retornam. Nós andamos pelo mundo e depois voltamos aqui e também, Dom Aldo, depois de 100 anos voltou. Este lugar é importante por que aqui se encontra também, o túmulo do Bem-aventurado Allamano, nosso Fundador. Isso significa que estes missionários que estão aqui, e sobretudo Dom Aldo com seus 100 anos, continuam o trabalho do Padre Allamano juntamente com as nossas Irmãs missionárias da Consolata. Por tanto, este é um dia de festa, não somente pelos 100 anos de vida de Dom Aldo, mas por todos os trabalhos dos missionários e missionárias no mundo, em particular em Roraima e no Brasil. Esta casa também é vossa”, afirmou o Padre Geral.
A festa prosseguiu com uma confraternização na Casa das Missionárias da Consolata em Turim. E no dia seguinte, Dom Aldo foi novamente homenageado, desta vez em Pontestura, sua terra natal, quando, durante a missa, recebeu uma carta com os parabéns e a bênção do Papa Francisco. Pela sua história e missão de pastor, Dom Mongiano é merecedor desse reconhecimento.
Os missionários e missionárias da Consolata trabalham em Roraima há mais de 70 anos, na Raposa Serra do Sol, na Missão Catrimani e na cidade Boa Vista.
Por Jaime C. Patias, IMC, Conselheiro Geral para América e Vatican News.
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