A Igreja católica, pela voz de sua Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, sob a coordenação da Comissão Episcopal Pastoral Família e Vida, promove entre os dias 1º e 8 de outubro, a Semana da Vida. De viva voz, por testemunhos e por meio de projetos e programas, em nível local, regional e nacional, contemplando a interface e diálogos com a sociedade, aponta o horizonte desafiador do que representa a inegociável tarefa de trabalhar e fazer tudo pela vida.
Tudo pela vida é o intocável compromisso de fé e cidadania que deve ser a pauta única, a antífona do hino oficial da humanidade, o jogo a ser vencido, a torcida de todos. Por isso, muito além de um mero jargão, seja acolhido o princípio vinculante: a vida é dom de Deus, inviolável. A vida deve ser cuidada e defendida, desde o momento primeiro, na concepção, até o último, na morte natural. Dessa moldura de horizonte infinito se desdobram os compromissos, os princípios intocáveis, a inspiração modeladora de programas, a definição dos parâmetros de condutas individuais, cidadãs, nas esferas religiosas, políticas, econômicas e culturais.
“Pela vida” se torna um clamor perene a ecoar nos ouvidos da humanidade, exigindo as urgências de caminhos novos para se fazer frente, com velocidade, às antigas e novas ameaças à vida. A humanidade está sob o peso de uma roda giratória antropológico-cultural requerendo acuidade na consideração e no tratamento da vida. As relativizações do mal, de princípios e valores, nesta viragem de profundas mutações, estão exigindo um movimento consistente em entendimentos e práticas que evitem os descompassos impostos por ideologias. Para isso, são necessárias iniciativas que combatam, de modo educativo, os exageros irracionais e suicidas no tratamento da Casa Comum.
A submissão patológica à idolatria do dinheiro e a perda do sentido da vida como dom empurram a população rumo ao nefasto e irreversível autoextermínio, conforme mostram as estatísticas. Esses males também levam à depressão que enjaula a humanidade na indiferença e na incapacidade de viver a solidariedade fraterna. “Pela vida” deve ser clamor emoldurado pelo Evangelho – o centro da mensagem de Jesus Cristo, Aquele, o Único, que deu a sua vida para que todos tenham vida, e a tenham em abundância. A incomensurabilidade desse horizonte, suas complexidades por abrigar a preciosidade maior, a vida, apontam que é preciso investir, cotidianamente, em processos educativos que capacitem as pessoas a reconhecer: viver é dom de Deus. Esse reconhecimento deve motivar projetos legislativos, governamentais e dos segmentos todos da sociedade para que a vida seja respeitada, efetivamente, em todas as suas etapas.
Em questão está o valor incomparável do ser humano. A vida humana se estende para além das dimensões da sua existência terrena, porque consiste na participação da própria vida de Deus. A perda do sentido de sublimidade dessa vocação natural, obviamente, é responsável pela desconsideração da grandeza e do valor precioso da vida humana. A Semana da Vida celebrada, os conselhos pró-vida fortalecidos, a sociedade na defesa da vida, as responsabilidades de instâncias legislativas e judiciais assumidas precisam ecoar profundamente no coração de cada pessoa. É preciso trabalhar, sistemicamente, a convicção da sacralidade de cada indivíduo, desde a concepção. Consequentemente, é preciso abominar o aborto, lutar pela justiça e pela paz, mudando cenários de pobrezas e exclusões, atentados vergonhosos contra a vida.
Para a Igreja Católica, o amor de Deus por seus filhos e filhas, a promoção da dignidade humana e da vida são um único e indivisível Evangelho. É por isso que cada pessoa constitui o primeiro e fundamental caminho da Igreja missionária que, incansavelmente, trabalha no sentido de levar o Evangelho para todos. Há, pois, que se enfrentar as situações dramáticas, crimes e irresponsabilidades, emoldurados pela mesquinhez e falta de humanismo, para superar o inquietante e assombroso panorama que acinzenta o horizonte da civilização contemporânea. O progresso científico e os avanços tecnológicos conduzem a um novo cenário cultural que precisa de redobrados cuidados, investimentos educativos para compor um tecido com propriedades humanísticas capazes de livrar o planeta do caos.
Não se pode assistir passivamente o espezinhar perverso de direitos fundamentais de seres humanos débeis e indefesos, como as crianças não nascidas. Vozes em coro devem inspirar iniciativas, impulsionar novas atitudes e fecundar renovadas posturas. O momento requer sensatez e humildade para que sejam reconhecidos os ricos capítulos que compõem o tesouro da humanidade, de sua história e de seu destino – tudo pela vida.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte (BA)
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
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