Peça conta a história da candidata à beata Zilda Arns

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“Segundo relatos, ela emanava paz por onde passava, mas brigava e colocava o dedo na cara de quem fosse preciso pelas causas que defendia. Ela comprou briga com todo mundo. O objetivo dela era o combate à mortalidade infantil. Ela não tinha limites quando se tratava disso”, afirmou a atriz e roteirista Simone Kalil, que interpretará a médica, sanitarista e candidata à santidade Zilda Arns Neumann na peça “Zilda Arns, a dona dos lírios”.

O espetáculo estará em cartaz no Rio de Janeiro de 21 de setembro a 4 de outubro, no Teatro Cândido Mendes, em Ipanema, às sextas, sábados e domingos, a partir das 20h. A pré-estreia será em Lorena (SP), nos dias 14, 15 e 16 de setembro. As paróquias da Arquidiocese do Rio terão desconto para grupos, e parte da renda da bilheteria da peça será revertida para a Pastoral da Criança, criada por Zilda 35 anos atrás.

O roteiro é de Simone, juntamente com Luiz Antônio Rocha, que também dirige o espetáculo. O enredo teve como base a biografia de Zilda escrita por Ernesto Guimarães.

Simone Kalil contou que a inspiração para fazer a peça veio de Nossa Senhora: “Eu falo em voz alta com Nossa Senhora. Certo dia, estava em frente ao Pinel (eu estou em cartaz há três anos com uma peça, mas já queria um novo trabalho e queria falar sobre uma mulher e uma mulher forte). Nesse dia, eu pedi: ‘Nossa Senhora, me mostre alguém’. E me veio a imagem da Irmã Dulce. E eu disse: ‘Nossa Senhora, não é essa!’. Porque irmã Dulce era pequenininha, baixinha, magrinha… Eu pedi que fosse alguém mais parecido comigo. E foi então que me veio a imagem da doutora Zilda”, relembrou.

Depois disso, ela foi para casa “correndo” pesquisar se havia algo que desabonasse a conduta de Zilda ou se era possível escrever a peça.

“Liguei para uma prima médica e ela me disse que poderia conduzir a peça. E comecei a ler todas as biografias e tudo o que fosse possível sobre a história dela. Comecei em janeiro e desde então estou fazendo isso”, disse.

Pastoral da Criança

Zilda Arns era médica e sanitarista, de família católica. Promoveu campanhas e projetos sociais visando à saúde e dignidade das pessoas, especialmente das crianças. A campanha do soro caseiro, que salvou a vida de muitas crianças que morriam de disenteria entre os anos de 1980 e 1990, foi criada por ela, assim como a Pastoral da Criança, que em 2018 completa 35 anos.

Irmã de Dom Paulo Evaristo Arns – arcebispo de São Paulo de 1970 a 1998 –, ela foi bastante influenciada por ele, que lutava contra as injustiças e a repressão durante a ditadura militar.

Beatificação

O processo de beatificação de Zilda teve início em 2015 e está na primeira fase. Segundo Simone, a imagem que ela passava para as pessoas era de uma pessoa bondosa, santa, com um jeito manso de falar. No entanto, contou que Zilda tinha uma característica comum nos santos: lutava e brigava com quem fosse preciso pela causa que defendia.

Ela contou ainda a história de quando Zilda foi a Caicó (RN) e soube de crianças que ficavam pelas ruas mendigando. Quando chegou ao local, descobriu que era em uma vila chamada Vila das Primas. E propôs uma mudança de vida a essas mulheres. Conseguiu máquinas de costura e treinamentos através dos contatos que tinha. Quando ela voltou três anos depois, a Vila das Primas havia se tornado a Vila das Rendeiras. “E na peça tem uma fala dela dizendo que as beatas fizeram um inferno na vida do bispo porque as prostitutas usavam as camisas da Pastoral da Criança. E a doutora Zilda só respondeu: ‘Aquelas mulheres estão dando um exemplo maior do que o de vocês! Elas são líderes’”, contou Simone.

Segundo ela, as pessoas que assistiram aos ensaios disseram: “Nós saímos da peça com vontade de pesquisar quem foi essa mulher”.

“E é esse nosso grande objetivo: mostrar que, através de gestos pequenos, ela construiu algo grande. O soro caseiro é a coisa mais simples do mundo e salvou muitas vidas”, afirmou.

Dona dos lírios

O nome da peça veio de seu amor por flores, lírio em especial. “A dona dos lírios” foi o nome dado a um capítulo da biografia escrita por Ernesto Guimarães e emprestado à equipe que criou a peça.

Na casa onde uma das irmãs de Zilda morava, floresceram lírios quando ela morreu, em janeiro de 2010, mesmo não sendo a época desse tipo de flor.

O lírio representa a fertilidade e o aleitamento. “Para nós, ele representa a pastoral – a flor que ela criou. E uma líder da pastoral contou que no dia do enterro dela abriram lírios na sede da pastoral. E um buquê foi levado para o enterro”, pontuou.

Zilda Arns

Zilda Arns nasceu em 25 de agosto de 1934, em Forquilhinha, Santa Catarina (SC). Ela desenvolveu um importante trabalho social, reconhecido nacionalmente e internacionalmente. Fundou a Pastoral da Criança em 1983 e, mais tarde, a Pastoral da Pessoa Idosa.

A pediatra e sanitarista ficou conhecida no mundo inteiro por seu trabalho de combate à mortalidade infantil e de proteção a gestantes e idosos, com a ajuda de um exército de mais de 200 mil voluntários.

Ela faleceu no dia 12 de janeiro de 2010, durante o terremoto que devastou o Haiti, onde estava em missão humanitária, para introduzir a Pastoral da Criança no país.

A peça

A atriz que faz o monólogo contou que haverá duas personagens: Zilda e a narradora. Simone também fará os demais personagens que possam surgir.

O espetáculo foi pensado para ser dinâmico, apesar da fala mansa e tranquila, com forte sotaque alemão com o qual Zilda falava.

“Ela era de família alemã e falava com um sotaque forte e devagar. Ela tem um tempo de fala que não é tempo do teatro. Portanto, pegamos o programa de rádio dela que tem uma brasilidade e chegava a muitos lugares, e trabalhamos em cima dele”, afirmou, citando o programa “Viva a Vida”, da Pastoral da Criança, reproduzido em todo Brasil, inclusive na Rádio Catedral.

O valor dos ingressos será R$ 50 , sendo R$ 25 a meia-entrada. Grupos de paróquias terão desconto.

Foto: Arquivo 

Por: Nathalia Cardoso

Fonte:Arquidiocese do Rio de Janeiro

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