“A esperança é a última que morre”, diz a sabedoria popular. Na verdade, a esperança não pode morrer, pois é chama que ilumina horizontes sombrios e permite enxergar rumos novos. Esse entendimento deve inspirar a sociedade brasileira neste ano eleitoral, quando todos são convocados a investir nos “brotos” de uma nova política. Afinal, não é possível pensar em avanços, consertos e novas respostas sem a reconfiguração do universo político. E trata-se de uma obviedade dizer que graves problemas – corrupção, depredação e apropriação indevida do bem comum, entre tantos outros males – são alimentados pela velha política brasileira, que enterra a sociedade em um verdadeiro lamaçal. Então, como poderão surgir os brotos de uma nova política? Essa é uma pergunta que não pode ser respondida com facilidade, mas que deve orientar a participação cidadã de todos.
Pode-se pensar em nomes que ainda não disputaram eleições, acreditar que tantos outros, já veteranos, corrigirão suas posturas. De todas as formas, constata-se que a lista das boas opções não é grande, pois a vaidade toma conta dos corações dos candidatos e não deixa espaço para valores humanísticos, prevalecendo interesses partidários pouco nobres. O contexto brasileiro requer verdadeira conversão política. Isso exige que os candidatos não se limitem a apresentar-se apenas como “inocentes” e “honestos”. Também são dispensáveis os discursos vazios, que objetivam passar falsa imagem ao eleitor. O desafio é reconhecer o autêntico sentido da política: lutar e contribuir para promover o bem comum.
Ora, a finalidade da atividade política é o bem do Estado, nunca a sua depredação. A apropriação do erário por pequenos grupos e oligarquias, para o atendimento de interesses que são distantes dos anseios da coletividade, é inaceitável. A política deve se fundamentar na ordem moral e ter por objetivo a promoção do bem comum. Cada cidadão precisa trabalhar para que o universo político alinhe-se a essa perspectiva. Na Bíblia, o profeta Isaías evoca a imagem de um pano sujo para se referir ao que é podre e corrupto. Pode-se dizer que fizeram da política um “pano sujo”. E a tarefa de todos é recuperar o sentido genuíno do exercício do poder. Para isso, antes de observar interesses partidários ou princípios ideológicos, a consciência cidadã precisa enxergar e buscar o que promove o bem de todos.
Consciente do sentido genuíno da política, o eleitor será capaz de questionar aqueles que exercem o poder e os que desejam ser representantes do povo. Sem esse questionamento, não se pode esperar que ocorram as necessárias mudanças no país. A eleição de pessoas capazes de conduzir a sociedade rumo a novas direções depende, sobretudo, do compromisso cidadão de transformar o contexto político. Somente com o qualificado exercício da cidadania, será possível gerar os brotos de uma nova política. Nesse sentido, sejam combatidos discursos demagógicos, debates sem propostas, que se limitam ao ataque de concorrentes, procurando esconder as próprias limitações.
Gerar e cultivar o broto de uma nova política é contribuir para ultrapassar a velha dinâmica que prioriza a busca egoísta pela satisfação de interesses pessoais ou de pequenos grupos, a partir do sacrifício de muitos. É vencer processos com burocratizações estéreis que levam a perdas significativas e revelam a incapacidade para urgentes discernimentos. Mais importante: o passo primeiro para qualificar as instâncias do poder é reconhecer o real objetivo da política – estar a serviço da vida.
Para ser autêntica, a política não pode ser identificada como conjunto de trapaças e outras atitudes que revelam mesquinhez. O bem comum precisa ser a meta de todos – eleitores e candidatos. O ano eleitoral convoca todos para redobrar a atenção e buscar, esperançosamente, os brotos da nova política. Não é tarefa fácil, mas “a esperança é a última que morre”. A esperança não pode morrer.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Foto:(Reprodução/ Pixabay)
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