O profeta Isaías, pelos idos do século VIII antes de Cristo, quando o povo enfrentava realidade adversa, investe, fortemente, na arte de esperançar. Ele compreende algo que é incontestável: a desesperança constitui um fosso de derrotas e fracassos. O profeta, no exercício de sua missão educativa, trabalha para devolver ao povo a esperança perdida por várias razões. Contribui, assim, para despertar nas pessoas a força capaz de recuperar clarividências civilizatórias, recompor a identidade e encontrar rumos na construção da própria história. Esperança é pilar de uma sociedade com incidência na vida de cada cidadão.
Desiste de lutar quem está desesperançado, pois carece de uma luz e de uma força que conferem sentido ao viver. As catástrofes, pandemias e descompassos do dia a dia e da história não podem ser superados sem a virtude da esperança, que nunca deve ser confundida com sentimentos efêmeros ou promessas inexequíveis. Essa confusão também leva a fracassos e prejuízos. Vale se lembrar da palavra proclamada pelo profeta Isaías, conhecido por sua rica e poética literatura, para reconhecer a força restauradora da genuína esperança. Ele anuncia ao povo que “um broto vai surgir do tronco seco de Jessé, das velhas raízes, um ramo brotará”. É educativo estabelecer reflexão sobre esse anúncio de esperança no contexto atual, quando uma pandemia se abate sobre a vida do planeta e todos aguardam por uma vacina.
O caminho deste tempo desesperador, incerto e inquietante desafia a existência humana nos seus alicerces. A falta de uma indicação sobre o rumo a seguir esvazia o sentido da vida, aproximando a humanidade da morte. Torna-se, pois, ainda mais necessária uma prática reconfortante e restauradora oferecida pela fé cristã a cada pessoa: prestar atenção, ouvir e se deixar interpelar pelos percursos das quatro semanas do tempo do Advento, preparação para o Natal do Senhor, iluminados pela Palavra de Deus.
O broto de esperança é uma pessoa. Seu nome é Jesus Cristo, o Salvador da humanidade, o único que valida a inexorável esperança fidedigna. Deve-se prestar atenção ao anúncio do profeta Isaías, compreendê-lo para restaurar a própria interioridade e, assim, fortalecer o alicerce que sustenta a vida e qualifica a cidadania. O profeta Isaías, reacendendo luzes de esperança, anuncia: “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz, para os que habitavam as sombras da morte uma luz resplandeceu”. Na esperança cristã o povo encontra força para reconstruir seus rumos e conquistar novo tecido sociocultural. Cada pessoa que cultiva a esperança cristã é capaz de adotar um estilo de vida renovado.
A esperança cristã tempera e impulsiona uma concretização política qualificadora da civilização que nenhuma ideologia partidária tem competência para alcançar. Alicerça a vida de um povo sobre parâmetros humanísticos indispensáveis para vencer este momento de luto e perdas. Alimenta estratégias que possibilitam conquistas a partir do princípio da solidariedade – grande remédio para vencer desastres de todo tipo. No ar está uma inquietante pergunta quando se fala em esperança: o se pode esperar? Essa interrogação existencial, humana e social, para ser respondida, exige humildade para reconhecer a centralidade da pessoa que é a esperança fidedigna. Oportuno, nesse caminho, dedicar-se aos versos de Thiago de Mello, em Memória da Esperança: “Na fogueira do que faço por amor me queimo inteiro. Mas, simultâneo renasço para ser barro do sonho e artesão do que serei. Do tempo que me devora me nasce a fome de ser. Minha força vem da frágil flor ferida que se entreabre resgatada pelo orvalho da vida que vivi. Qual a flama que darei para acender o caminho da criança que vai chegar? Não sei. Mas, sei que já dança, canção de luz e sombra na memória da esperança”.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte (MG)
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
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