Fiéis apontam momentos que mais sentem falta diante do cenário da pandemia da Covid-19
Anualmente, no Brasil, o dia 30 de janeiro é marcado pela “comemoração” do Dia da Saudade, segundo estudiosos, a data foi criada pelos portugueses devido à falta que sentiam dos seus familiares e da sua terra natal na época da colonização das terras brasileiras no século XVI.
Vindo do latim “Solĭtas”, o termo “Saudade” de acordo com o dicionário Aurélio, é o sentimento melancólico causado pelo afastamento de uma pessoa, uma coisa ou um lugar, ou a ausência de experiências já vividas. Para a psicóloga Vanessa Carolina, somos impulsionados a sentir saudade devido a nossa falta de preparação para a vivência de perdas, “desde crianças somos criados com bastante carga emocional, com misturas de sentimentos e emoções que se desenvolvem ao longo da nossa vida. Não somos seres preparados para perder, seja algo ou alguém, essa sensação de perda vai além do objeto desejado, ou da situação vivida […].”, afirmou.
Nessa perspectiva, esse sentimento se torna um aliado no ato de valorizar as pessoas e os acontecimentos de nossas vidas, como expõe a jovem Natália Marques, 19, “a saudade para mim é algo bom, pois me faz valorizar o tempo presente, os momentos, a família e os amigos, enfim, todos que nos cercam. Até porque, só sentimos falta daquilo que nos foi agradável, que valeu a pena viver.”, relatou.
A saudade e suas formas de superação
Apesar de ser pontuada como uma sensação benéfica para a vivência devido a possibilidade de proporcionar ao indivíduo o fortalecimento dos seus sentimentos de modo geral, a saudade necessita ser bem conduzida, uma vez que pode levar a problemas psicológicos, como afirma a psicóloga Vanessa, “a experiência de vivenciar a saudade no sujeito quando não bem administrada pode causar problemas psicológicos, como a depressão. Porém não é algo universal, que todos que passam por essa experiência vão possuir.”, explanou.
Com isso, pessoas como Maria Aparecida dos Santos, 53, busca lidar com a saudade como uma lembrança positiva, principalmente quando é relacionada à pessoas queridas, “Lembro dos momentos e das conversas, além de agradecer a Deus por aquela pessoa”, contou. A jovem Ana Valéria da Hora, também trata o sentimento como uma forma de oportunidade para a recordação, “Me permito sentir. Também escrevo o que sinto para guardar como recordação.”, explicou.
Já a professora Edineuza Rodrigues, 42, lida com o momento externando através das lágrimas, a fim de “colocar para fora” o que em seu interior não está mais suportando, como ela mesmo pontua: “Na maioria das vezes escorre pelos olhos”. Além disso, escuta canções que revigoram suas forças e lhe traz conforto, “Ouço músicas que fortalecem a alma e aquecem o meu coração.”, revelou.
A psicóloga Vanessa Carolina exprime que não existe uma fórmula para enfrentar ou lidar com a saudade, porém a ressignificação da experiência vivida é fundamental. “O apoio social, a mudança de foco, ocupação do seu tempo, a realização de exercícios físicos e a prática de colocar para fora tudo que você sente são formas de suprir o sentimento, mas quando estas não forem suficientes é válido procurar uma ajuda profissional”, afirmou.
Fé, pandemia e uma saudade: Ir à Igreja
Com a chegada do novo Coronavírus no Brasil em fevereiro de 2020 e a proliferação da doença no País, em março do mesmo ano, Arquidioceses e Dioceses foram impulsionadas a fechar a porta dos seus templos durante cerca de cinco meses, a fim de que não houvesse maior contaminação entre os fiéis.
A falta das celebrações da Santa Missa e afins despertou em diversos cristãos o sentimento de saudade, principalmente aqueles mais ativos nas comunidades, como José dos Santos, 49, membro da Pastoral do Batismo da Paróquia Santa Dulce dos Pobres, “A nossa participação na vida comunitária paroquial passou a ter uma nova realidade […] e isso nos causou o sentimento da saudade. […] Sentimos saudades das pessoas, dos abraços, dos contatos e da participação do povo de Deus na Igreja.”, contou.
Nesse mesmo contexto, a jovem Mirelli dos Santos, 22, participante da Quase Paróquia Sagrado Coração de Jesus, localizada no distrito de Nazaré de Jacuípe na cidade de São Sebastião do Passé, afirma que durante o fechamento das Igrejas teve saudade de estar reunida com a sua comunidade, “senti falta das Missas, da Adoração ao Santíssimo Sacramento e dos retiros, enfim de estar unida presencialmente com a minha comunidade”, relatou.
José ainda relata que apesar do retorno da participação dos fiéis de forma gradativa, sente da distribuição da Eucaristia em duas espécies, uma vez que devido a pandemia a ação sofreu alterações. “Isso nos faz falta porque era um momento de graça onde realmente alimentamos a nossa fé e nossa alma com o corpo e sangue de nosso Senhor Jesus Cristo.”, explanou.
Mesmo com as restrições e a realidade da COVID-19 no mundo, a fé contribui fortemente para que os fiéis continuem perseverantes em acreditar que tudo vai melhorar, conforme expressa Mirelli, “Ainda que eu não consiga participar presencialmente, devido ao número de lugares disponíveis, precisamos orar e pedir a Deus pelo momento difícil que estamos enfrentando. Com isso, sempre que posso assisto lives oracionais que me ajudam a persistir.”, finalizou.(fecatolica)
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