Vatican News*

Iniciamos o Tempo da Quaresma com a motivação de vivermos com mais fervor ainda o dom da misericórdia e do amor a Deus e de Deus pelos nossos irmãos. O mundo ainda vive em meio a catástrofe das guerras espalhadas por vários Continentes. Nesse “tempo favorável”, ofereçamos nossos esforços quaresmais pela paz tão almejada nesse mundo “dilacerado por discórdias”.

A condição do homem sobre a terra é frágil: “Porque sabe de que barro somos feitos, e se lembra que apenas somos pó. Os dias do homem se parecem com a erva, ela floresce como a flor dos verdes campos; mas apenas sopra o vento ela se esvai, já nem sabemos onde era o seu lugar” (Sl 102, 14-16). Essa realidade de fragilidade deveria tocar o coração humano para o entendimento de que não podemos viver de ideologias, que vão inculcando nas mentes uma vida feita de imediatismos e modismos; de modo que não se dá mais conta de que é preciso parar, pensar no sentido do que fazemos, para onde queremos ir…

Imagino que todos queremos ir para um destino feliz, escrevendo em grosso modo. Para os que tem fé esse destino feliz é o Céu, que se alcança a partir de um encontro especial e maravilhoso, o encontro com Cristo, crucificado-ressuscitado, pois “conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (Doc. Aparecida). A vida ganha sentido, e os caminhos que percorremos não são trilhados em vão, visto que, quando algo não é passageiro isso nos impulsiona, como afirmou o Papa Bento XVI, ao escrever: “Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (“Deus caritas est”, 01).

Neste tempo de Quaresma, S. Paulo faz um apelo aos Coríntios e a nós: “Deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor 5,20). Porém, é o Senhor mesmo quem deseja se encontra com o ser humano, que deseja oferecer caminhos firmes e dar sentido à nossa vida, às nossas escolhas…

Na sua Mensagem para a Quaresma 2023, o Papa Francisco explica que esse caminho que fazemos com Cristo, especialmente neste “tempo favorável”, deve ser vivido na “ascese quaresmal [que] é um empenho, sempre animado pela graça, no sentido de superar as nossas faltas de fé e as resistências em seguir Jesus pelo caminho da cruz”. E a ascese requer que estejamos dispostos a lançar mão de tantas coisas que, em nós, não nos deixam seguir o Senhor como ele deseja ser seguido.

Tenhamos em conta o que diz Isaías, “então invocarás o Senhor e ele te atenderá, pedirás socorro, e ele dirá: “Eis-me aqui”. Se destruíres teus instrumentos de opressão, e deixares os hábitos autoritários e a linguagem maldosa; se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo o socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia” (Is 58,9-10). No meio de uma sociedade sem escrúpulos e que vai se afastando da moralidade e das virtudes necessárias para uma vida digna, a ascese se encontra nesse conselho do Profeta.

Penso que com o que meditamos temos bastante para nosso exame de consciência, nesses primeiros dias quaresmais.

Fortaleza, 01 de março de 2023

*Pe. Rafhael Silva Maciel

Presbítero da Arquidiocese de Fortaleza

Missionário da Misericórdia