“Acho muito bonito e corajoso que, no mundo de hoje, muitas vezes marcado pelo individualismo, pela indiferença e até mesmo pela marginalização das pessoas mais vulneráveis, alguns empresários e dirigentes empresariais tenham no coração o serviço de todos e não apenas de interesses privados ou de círculos restritos. Não tenho dúvidas de que isso seja um desafio para vocês”, sublinhou Francisco.
A seguir, Francisco compartilhou com os empresários alguns ensinamentos do Evangelho, para ajudá-los a cumprir o seu papel de líderes segundo o coração de Deus. Usou os binômios ideal e realidade, e autoridade e serviço, conceitos que parecem estar sempre em tensão, mas que o cristão, auxiliado pela graça, pode unificar em sua vida.
O cristão vive uma colisão entre o ideal e a realidade
Ideal e realidade. Muitas vezes o cristão vive uma colisão entre o ideal com o qual sonha e a realidade que encontra. O Papa recordou a passagem bíblica em que Maria dá à luz o Filho de Deus na pobreza de um estábulo. A gente sempre espera que tudo corra bem, mas depois chega um problema inesperado e cria-se um choque doloroso entre expectativas e realidade.
A busca do bem comum é um motivo de preocupação para vocês, um ideal, no contexto de suas responsabilidades profissionais. O bem comum é certamente um elemento decisivo em seu discernimento e em suas escolhas como líderes, mas deve aceitar as obrigações impostas pelos sistemas econômicos e financeiros atualmente em vigor, que muitas vezes ridicularizam os princípios evangélicos da justiça social e da caridade. Imagino que, às vezes, sua tarefa pesa sobre vocês, que sua consciência entra em conflito quando o ideal de justiça e de bem comum que vocês imaginavam alcançar não foi realizado, e que a dura realidade se apresenta a vocês como uma falta, um fracasso, um remorso, um choque.
“Diante do “escândalo da manjedoura” Maria não desanimou, não se rebelou, mas reagiu protegendo e meditando em seu coração, demonstrando uma fé adulta, que se fortalece na provação”, disse ainda o Papa.
A missão do empresário cristão se assemelha à do pastor
Com o segundo binômio, autoridade e serviço, o Pontífice recordou a passagem bíblica em que os Apóstolos discutem sobre quem é o maior entre eles. Jesus intervém, dizendo: “Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos”.
Segundo Francisco, “a missão do empresário cristão se assemelha, em muitos aspectos, à do pastor, de quem Jesus é o modelo, e que sabe ir na frente do rebanho para indicar o caminho, sabe ficar no meio do rebanho para ver o que está acontecendo, e sabe ficar atrás, para garantir que ninguém perca o contato”.
Muitas vezes exortei padres e bispos a terem “o cheiro das ovelhas”, a mergulharem na realidade daqueles que lhes foram confiados, a conhece-los, a estar perto deles. Acredito que este conselho vale também para vocês! Portanto, os encorajo a estarem próximos daqueles que colaboram com vocês em todos os níveis: a se interessarem por suas vidas, a estarem conscientes de suas dificuldades, sofrimentos, angústias, mas também de suas alegrias, projetos e esperanças.
“Exercer a autoridade como um serviço requer compartilhá-la”, disse ainda o Papa. “Embora o exercício da autoridade exija a tomada de decisões corajosas e por vezes na primeira pessoa, a subsidiariedade permite a cada um dar o melhor de si, sentir-se envolvido, assumir a sua parte de responsabilidade e contribuir para o bem de todos. Sei que o Evangelho pode ser exigente e difícil de ser vivido num mundo profissional e competitivo. No entanto”, concluiu Francisco, “convido-os a manterem o olhar fixo em Jesus Cristo, com a sua vida de oração e oferta de seu trabalho quotidiano”.
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