O cardeal Blase Cupich, arcebispo de Chicago em reflexão resultante de um encontro com sacerdotes, fala sobre o motu proprio do Papa “Traditionis custodes”
Uma profunda compreensão da reforma do Concílio Vaticano II e a unidade da Igreja. Estas são as duas pedras angulares do motu proprio Traditionis custodes, sobre o uso da liturgia romana anterior a 1970, que o Papa publicou em julho passado. Para uma apropriada compreensão em nível diocesano é necessário o acompanhamento dos pastores e a oração de todos com as palavras que o próprio Jesus disse: “Que todos sejam um, Pai”.
A reflexão é do arcebispo cardeal de Chicago, Dom Blase Cupich, em resposta a uma pergunta feita a ele por um grupo de sacerdotes durante uma reunião. O cardeal recorda o documento papal que estabelece – recordamos – que “Os livros litúrgicos promulgados pelos Santos Pontífices Paulo VI e João Paulo II, em conformidade com os decretos do Concílio Vaticano II, são a única expressão da lex orandi do Rito Romano e que a responsabilidade de regular a celebração de acordo com o rito pré-conciliar deve ser do bispo, moderador da vida litúrgica diocesana”. “É de sua competência exclusiva”, estabelece o motu proprio, “autorizar o uso do Missale Romanum de 1962 na diocese, seguindo as orientações da Sé Apostólica”.
Não há duas formas do Rito Romano
Trata-se, reflete o cardeal Cupich, “de restabelecer em toda a Igreja de Rito Romano uma única e idêntica oração que exprima sua unidade, de acordo com os livros litúrgicos promulgados pelos Santos Papas” e em conformidade com os decretos do Concílio Vaticano II. Em outras palavras, não existem duas formas do Rito Romano, porque a palavra “reforma” significa deixar “uma forma anterior de celebrar os sacramentos” e adotar uma nova. Foi o que aconteceu, afirmou ainda o cardeal, com outros documentos reformadores como o Código de Direito Canônico de 1917 e o Catecismo da Igreja Católica de 1993, à luz dos quais ‘ninguém’, observa Cupich, “pensaria em afirmar que as formas anteriores ainda possam ser usadas, simplesmente porque a palavra reforma significa algo”. Por isso, também em relação à reforma litúrgica deve significar algo”.
Unidade, continuidade, papel do bispo
Segundo o Cardeal, a partir deste ponto de partida há três importantes princípios orientadores para receber e aplicar o motu proprio.
A primeiro é a unidade da Igreja. Há algum tempo, lembra o cardeal Cupich, o arcebispo Dom Augustine Di Noia, secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, disse em uma entrevista que a esperança de João Paulo e Bento ao ampliar a possibilidade de usar a Missa Pré-Vaticano II era promover a unidade na Igreja e combater os abusos que se haviam espalhado na celebração da Missa Pós-Vaticano II. Uma aspiração que em seu coração era um desejo de curar a divisão com os membros da Sociedade de São Pio X, fundada por Monsenhor Lefebvre. Por outro lado, observa o cardeal Cupich, com o tempo, foi gerado um movimento na Igreja que impede as reformas do Concílio Vaticano II através da rejeição da mais importante, a reforma do Rito Romano.
O segundo princípio orientador que o Papa aborda no motu proprio é precisamente o “sólido e inequívoco reconhecimento” pelos católicos de que o Concílio Vaticano II e suas reformas estão em continuidade com a tradição da Igreja, além de serem uma “autêntica ação do Espírito Santo”. Assim, os livros litúrgicos promulgados pelos Papas Santos são “a única expressão da lex orandi do Rito Romano”.
Por fim, o papel do bispo, princípio orientador do documento papal, que restitui ao prelado o papel de “moderador, promotor e guardião de toda a vida litúrgica em sua diocese” com a “competência para regulamentar o uso como uma concessão excepcional da antiga liturgia”. Aqui também a ênfase do Papa – observa Cupich – vai no sentido de promover uma forma unitária de celebração.
Um acompanhamento direcionado
Ao explicar como implementar pastoralmente os objetivos do motu proprio, o cardeal Cupich se concentra principalmente no acompanhamento por parte dos pastores, com o objetivo de que “compreendam a ligação entre a forma como praticamos o culto e aquilo que acreditamos, tendo em mente o desejo do Papa de que os pastores conduzam os fiéis ao uso exclusivo dos livros litúrgicos reformados”. Em seguida explica: “Isso deve também ajudar as pessoas a apreciar o quanto a Missa reformada as leve a um maior uso das Escrituras e das orações da tradição romana, e também pode significar incluir criativamente na Missa reformada pelo Concílio, elementos da forma precedente como por exemplo, gestos, uso do canto gregoriano e períodos de silêncio na liturgia”.
Creio – conclui o cardeal Cupich – que podemos usar esta oportunidade para ajudar todo o nosso povo a compreender melhor o grande dom que o Concílio nos deu ao reformar o nosso modo de adorar. Daí o renovado compromisso pessoal de promover um retorno a uma forma unitária de celebração, de acordo com as diretrizes do motu proprio e o convite coletivo a todos para “rezar, como Jesus fez na noite anterior à sua morte, para que todos sejam um”.
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