Numa manhã chuvosa, em uma pequena casa de taipa, entre o barulho da chuva e o riacho que passava junto da casa, podia se ouvir os gritos da negra Maria, lá, nascia o seu primeiro filho. E vai se chamar José.
Maria ainda lânguida olhava atentamente aquele pequeno ser. Nos olhos embaçados pelas lágrimas via-se alívio. A mãe que a assistiu como parteira percebeu que o alívio naquele olhar não era só por ter se livrado do esforço de parir […].
Maria balbuciou “graças a Deus escurinho feito a noite”.
A parteira olhou com o ar de repreensão e falou: “Pelo olhar dele não tem cara de José e sim de Benedito.”
Maria com o olhar perdido, vagou o pensamento para certa noite no canavial pensando no seu amado. Queria ao menos sentir a sua voz animada chegando do trabalho ou do lazer, queria sentir as tuas mãos as minhas afagar, queria sentir a sua respiração junto a minha dizendo palavras de amor. Eu queria, já não tenho mais, só restam às lembranças dos bons momentos vividos, do caminho percorrido, das alianças trocadas, do vestido de noiva rasgado, do padre dizendo “amém”, dos infinitos beijos quase sempre roubados, dos sonhos que juntos sonhamos e se formou realidade, nasceu José….
O seu grande amor, era o filho da casa grande que apesar de amar plenamente Maria, jamais poderia com ela casar, ofereceu Maria para seu escravo pedindo que dela cuidasse como rainha. Ele foi embora para em terras distante estudar e um novo amor encontrar para aos pais apresentar… Mas seu coração chorava por ter Maria abandonado.
Um novo amor encontrar para aos pais apresentar… Apesar de Maria ser a moça mais linda daquela região, seus pais jamais aceitariam que ela casasse com o Ronan, um belo moço de olhos azuis da cor do céu, de estirpe nobre e cobiçado pelas jovens solteiras da sociedade da época.
Ronan descobriu através da amiga de Maria que o bebê era seu filho, ele chorou de tanta emoção, e mesmo Maria sabendo que ele estava noivo nunca perdeu a esperança de reencontrá-lo e contar toda a verdade. Certa manhã para sua surpresa, ele retorna, sai a procura de Maria e quando a encontra, num abraço apertado e cheio de saudades, diz que nenhuma distância e nem ninguém jamais os separariam novamente. Ambos foram felizes e mostraram ao mundo que pro amor não existe barreiras.
Anos se passaram… A escravatura acabou e com a liberdade Ronan, cuja esposa morreu de tuberculose, agora que reencontrou a escrava casou-se, embora contra a vontade da sociedade, e dessa união nasceram duas lindas princesas que foram para o exterior e tiveram seu lugar naquela sociedade que apesar de as repudiarem nada podiam fazer contra a vontade do homem mais rico da região a não ser aceitar a chegada de novos tempos.
Padre Joacir d’Abadia, Filósofo autor de vários livros, em mais uma “Escrita Criativa Coletiva”.
Segue aí…
https://www.instagram.com/padrejoacirdabadia/
Comments
No comment