João Paulo II conduziu a Igreja para o século XXI. Agora, quinze anos após sua morte e no centenário de seu nascimento, uma publicação – apresentada na terça-feira, 17 de novembro – aborda a relação entre o Papa polonês e os países da Europa Central e Oriental. O livro foi organizado por Jan Mkrut e pela Pontifícia Universidade Gregoriana e se intitula: “Sangue do seu sangue e ossos dos seus ossos. O Pontificado de João Paulo II (1978-2005) e as Igrejas na Europa Central e Oriental. No centenário do nascimento de Karol Wojtyla”.
O livro reúne mais de 50 contribuições de personalidades eclesiásticas, estudiosos e historiadores católicos, latinos, greco-católicos e ortodoxos que tratam das relações do Papa Wojtyła com as tradições e culturas dos países desta parte da Europa. Um livro de história que oferece material aos estudiosos, como aponta o professor Jan Mikrut, diretor da Coleção “História da Igreja na Europa Centro-Oriental”.
Entrevista
Jan Mikrut: Os autores dessas contribuições são estudiosos, professores, educadores. Por esta razão, nosso livro também oferece uma base metodológica e literatura que vai até agosto de 2020, portanto publicações muito recentes. Além disso oferece, naturalmente, não apenas uma visão que pode ser avaliada do ponto de vista de um autor, mas as muitas maneiras de apresentar a vida de João Paulo II e mostrar precisamente sua ligação com este extraordinário Papa. Pessoalmente estou muito feliz porque este livro é uma primeira parte do projeto dedicado a Wojtyla, a segunda parte do nosso projeto será intitulada “João Paulo II e a Igreja Católica na União Soviética”.
Um dos elementos comuns a essas 50 contribuições coletadas em seu livro diz respeito à amizade de João Paulo II com esses povos. O que caracteriza essa amizade?
Jan Mikrut: É caracterizada pelos laços da Santa Sé com cada um dos povos da Europa Central e Oriental. Estes países têm uma história muito diferente entre eles assim como o percurso realizado no século XX que dependia muito da situação política local. João Paulo II reconhecia plenamente a diversidade da tradição de cada um, da cultura, e isto, é claro, era muito apreciado por todos. Assim, procuramos pessoas que fazem pesquisas há anos no campo da história contemporânea europeia, onde os aspectos nacionais também tiveram grande significado. Deste ponto de vista são muito importantes as contribuições, por exemplo da Bósnia e Herzegovina e da Croácia, onde o percurso da Guerra Mundial teve um significado particular. E também a visita de João Paulo II a Sarajevo, quando já estava doente, fazia muito frio, mas ele queria ir a Sarajevo para pedir paz para todos os povos, para pedir tolerância, a possibilidade de uma vida em conjunto das diferentes comunidades, presentes há séculos naquele território. Portanto, a particularidade deste livro está ligada também ao desenvolvimento da política. Naturalmente grande parte do texto é dedicado à Igreja Católica na Polônia, simplesmente porque o Papa era polonês e conhecia muito bem seu país. E destaca-se também as dificuldades de integrar seus ensinamentos porque tudo isso aconteceu numa época em que os poloneses tiveram a oportunidade de viver em liberdade e o próprio João Paulo II estava preocupado com o desenvolvimento da sociedade e tentou dar-lhe um rumo, uma indicação mais precisa.
Como mudou a dimensão do ecumenismo nesses países com João Paulo II?
Jan Mikrut: A situação do ecumenismo era muito diferente em cada país. Por exemplo, na Bulgária ou Sérvia, onde a maioria da população é ortodoxa e onde o ecumenismo é vivido de forma sincera, há uma boa colaboração. A situação muda na Bósnia-Herzegóvina onde, em vez disso, a relação entre os povos da ex-Iugoslávia, croatas católicos, sérvios ortodoxos e bósnios muçulmanos, era mais complexa. Mas aqui também vemos o excepcional ensinamento de João Paulo II, seu apreço pela religião e a convivência pacífica onde o espírito de tolerância é essencial.
Há algo que o surpreendeu pessoalmente ao estudar este aspecto do Pontificado de Karol Wojtyla?
Jan Mikrut: Este livro despertou um grande interesse. A questão é muito interessante e pouco conhecida do ponto de vista europeu. Para nós é muito importante que a história croata seja escrita pelos croatas, a história bósnia seja escrita pelos bósnios e a história romena pelos romenos e que não seja, ao invés, escrita por italianos, alemães ou americanos. Desta forma, estes povos podem orgulhosamente apresentar o fruto de suas pesquisas que, devido a limitações linguísticas, não são acessíveis a muitos. No entanto, a Coleção não termina com este livro, pois estamos preparando para o próximo mês de fevereiro o segundo volume dedicado a João Paulo II e à Igreja Católica na União Soviética. Estou convencido de que será uma publicação muito significativa porque João Paulo II neste território, depois de um século, começou a criar as estruturas, a fundar as dioceses, a organizar os vicariatos apostólicos e as administrações apostólicas. Desta maneiro criou uma base sobre a qual as novas formas de vida eclesiástica estão agora crescendo.
Emanuela Campanile e Gabriella Ceraso – Vatican News
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