A celebração do Dia do Professor é oportunidade para refletir sobre a importância da educação na tarefa de se promover a cultura do diálogo, essencial para garantir equilíbrio à sociedade e justa articulação dos avanços técnico-científicos. No horizonte educacional, a sociedade precisa muito das contribuições da educação católica, com a sua identidade própria, alicerçada em valores e princípios inegociáveis, preciosos, que têm como fonte a fé cristã. Na missão da Igreja, as escolas católicas reafirmam a dimensão materna da própria Igreja. E maternidade não é simplesmente expressão de ternura. Contempla também a força para ser mestra e guia, efetivada no amplo cuidado com a vida humana, iluminando as sendas do desenvolvimento integral.
As instituições de ensino católicas não se limitam ao importante sentido filantrópico. Também não constituem um simples negócio em vista de rentabilidade ou lucros. As escolas católicas têm a responsabilidade de contribuir com a missão da Igreja. Buscam servir à humanidade, reconhecendo, sempre, o ser humano como aprendiz e praticante da cultura do diálogo, caminho essencial à constituição de uma realidade mais inclusiva e solidária. A tradição da educação católica oferece consistentes princípios fundamentais, particularmente no que diz respeito à formação do ser humano, considerando que todos têm o direito fundamental a processos educativos semeadores da paz e do bem da sociedade, buscando garantir que cada pessoa, no exercício de sua vocação, possa contribuir na edificação de um mundo melhor.
A educação é direito de todos, e os pais têm a responsabilidade de escolher qual itinerário educativo marcará os primeiros passos de seus filhos. Essa responsabilidade deve ser garantida no âmbito legislativo, com as famílias recebendo devido apoio do Estado. Dentro do conjunto de possibilidades no campo da educação, as instituições vinculadas à Igreja Católica assumem a tarefa de oferecer contribuições à formação do ser humano a partir da fé e de princípios humanísticos. A referência basilar para as instituições católicas é Cristo, que inspira dinâmicas pedagógicas dedicadas à formação integral do ser humano – exigente tarefa em que contracenam professores e educadores que dominam diferentes campos do saber, peritos na arte de ensinar. O compromisso com a formação integral do ser humano se contrapõe a um reducionismo antropológico que simplesmente trata a educação como um caminho para acumular habilidades técnicas. Um tipo de perspectiva que reduz o campo da educação aos anseios do mercado, estimulando excessiva competitividade, valorizando apenas o que gera ganhos para as instâncias de produção. Esse reducionismo leva à relativização da aprendizagem sobre muitos valores e princípios que são essenciais à adequada realização profissional e à própria vida, que dependem, dentre outras competências, das habilidades para se cultivar a fraternidade universal.
Quando há compreensão limitada sobre o papel da educação, perde-se, dentre outras oportunidades, a chance de se encontrar caminhos para superar a violência. Isso porque, no horizonte de uma educação integral, são cultivados virtudes e hábitos que alavancam a vivência em uma sociedade mais solidária. Sem essas virtudes e hábitos, convive-se com a progressiva perda de um sentido que é essencial ao viver, gerando um crescente abatimento que vitima especialmente os jovens – muitos ficam impossibilitados de experimentar a genuína alegria de perceber que a própria vida é dom, a ser convertida em serviços ao semelhante, especialmente aos pobres e vulneráveis. Por isso, o compromisso prioritário das escolas católicas, em cooperação com outros centros educativos, é ser lugar privilegiado para a formação integral do ser humano, conforme afirma o Documento de Aparecida, fruto precioso da 5ª Conferência Geral dos Bispos Latino-americanos e Caribenhos, realizada em 2007, no Santuário Nacional Nossa Senhora Aparecida.
A educação católica promove a formação integral do ser humano mediante a assimilação sistemática e crítica da cultura, por meio de um encontro vivo e vital com o patrimônio cultural, conforme o Documento de Aparecida. Nessa mesma direção, o Documento ressalta a responsabilidade das instituições de ensino católicas de contribuir para que seus estudantes cultivem dinamismo espiritual que os capacite para alcançar a liberdade ética que pressupõe e aperfeiçoa o desenvolvimento emocional. Um processo formativo que contemple a assimilação técnica de variados conteúdos, com o aperfeiçoamento de habilidades de capacitação para exercícios profissionais, incluindo o despertar da consciência para valores dos quais dependem o dom da vida do ser humano. Trata-se do caminho de uma educação que humaniza e capacita a humanidade para promover a cultura do diálogo. A educação católica é força que inspira um processo de transformação, a partir do Evangelho de Jesus.
Do Evangelho vem o compromisso da educação católica com a promoção de um itinerário formativo centrado no ser humano, preparando-o para viver na comunidade, de modo a contribuir para torná-la mais solidária e fraterna. Nesse itinerário, a educação católica busca aproximar a dimensão transcendente dos valores culturais de cada sociedade, contribuindo, assim, para fortalecer o exercício da cidadania. Na identidade das instituições de ensino católicas está Cristo, seu fundamento, que inspira a formação integral do ser humano. Constituem, pois, comunidades eclesiais, formando discípulos missionários de Jesus, em interface com as famílias – primeira escola de virtudes sociais. Cultivar adequada compreensão sobre a educação católica, neste contexto de merecidas homenagens dedicadas aos professores, chama a atenção para especial prioridade: investir sempre mais no campo da educação, caminho para que a sociedade seja constituída, cada vez mais, por cidadãos e cidadãs promotores da cultura do diálogo.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
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