Na tarde de ontem (17), durante a 13ª Congregação Geral da Assembléia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, foram apresentados os relatórios dos 12 círculos menores, que estiveram reunidos nesses primeiros dias do Sínodo. Desses 12 relatórios, quatro foram apresentados em português. Os demais estão em italiano (2), espanhol (5) e um em francês e inglês.
Os documentos, em geral, procuraram apresentar suas propostas sob dimensões específicas, a saber: dimensão pastoral/missionária, social, espiritual e ecológica.
Os relatórios tratam, entre outras questões, sobre a possibilidade de ordenações de diaconisas e padres casados, os viri probati. Estes eram homens casados, de fé comprovada, que podiam se tornar padres, algo muito praticado no primeiro milênio do Cristianismo, mas que depois foi sendo deixado de lado. Outros temas abordados foram: 1) Formação dos leigos e missionários; 2) Violência contra os povos, pessoas e natureza; 3) Culturas amazônicas e evangelização; 4) Piedade popular; 5) Vida Consagrada na Amazônia; 6) Juventude e Ministérios.
Veja abaixo uma breve síntese de cada um:
1) Formação dos leigos e dos missionários: pressupõe a formação “enculturada” de leigos indígenas, para que o protagonismo da Igreja na Amazônia “deixe de importar modelos” e assuma seu próprio rosto;
2) Violência contra os povos, pessoas e natureza: diz respeito o combate à violência institucionalizada, feminicídio, abuso e exploração sexual, direitos dos povos originários, narcotráfico, entre outros, que são classificados no documento como “ameaças constantes sobre os que defendem a verdade e a justiça sobre os direitos à terra”, dentro daquilo que chamam de “realidade de sangue”;
3) Culturas amazônicas e evangelização: está relacionado ao diálogo inter-religioso e ecumênico, ao diálogo inter-institucional entre Igreja e Poder Público, à Ecologia Integral, à opção preferencial pelos pobres, a uma justa memória dos mártires amazônicos, à criação de comunidades eclesiais de base e a uma pastoral urbana para acolhida de imigrantes e refugiados, numa atitude de plena defesa da dignidade humana;
4) Piedade popular: prevê o desenvolvimento de um rito amazônico com patrimônio teológico, disciplinar e espiritual que expresse, ao mesmo tempo, a universalidade e catolicidade da Igreja na Amazônia;
5) Vida Consagrada na Amazônia: está ligada à urgente necessidade de ministérios ordenados, como uma oportunidade de a Igreja “se reconciliar com a Amazônia, diante da dívida acumulada durante longos anos de colonização”;
6) Juventude e Ministérios: a corresponsabilidade e participação do povo, com uma educação enculturada com elementos dos povos, para favorecer o protagonismo da região, através da criação de escolas e universidade indígenas com linguística própria para, inclusive, traduzir a Bíblia e o catecismo;
Por fim, os relatórios pedem uma ampla divulgação das conclusões deste Sínodo:
“Fomentem a espiritualidade do encontro entre todos os rostos da Amazônia. Divulguem o que acontece na Amazônia, principalmente o que diz respeito ao que o projeto destrói a biodiversidade. Anunciem os valores dos povos originários que contribuem com a civilização do amor. Abram espaços para os indígenas. Em tempos fakenews, dar a conhecer ao mundo a verdade da Amazônia.“
Em outro ponto, os documentos ainda deixam um recado direto ao Santo Padre, em “portunhol”:
Querido Papa Francisco,
Os Rios da Amazônia transbordam, “tienen sus desbordes” e levam vida à floresta e aos povos da floresta. Rezamos para que este Sínodo, este Rio Sinodal transborde, “tenga sus desbordes” em novos caminhos para a evangelização e por uma ecologia integral. Que o Espírito nos guie, nos ajude, nos dê coragem, paresia e paz. Muito obrigado. |
Cuidar da Casa Comum, na alegria do Evangelho
Dom Mário Antonio da Silva, bispo de Roraima, falou ao A12 sobre esta síntese do texto dos grupos menores do Sínodo da Amazônia, que é quase um esqueleto do que vai ser o documento final, a ser apresentado no próximo dia 26, quando termina o encontro no Vaticano.
A entrevista é da jornalista Polyana Gonzaga:
“O texto é fruto da reflexão sobre o Instrumentum Laboris. É um momento de abrir nossos olhos para a realidade daquilo que temos e, ao lado disso, continuar promovendo a Pastoral Vocacional, pedindo às famílias que falem de vocação aos seus filhos, para que possamos avançar nessa questão da evangelização, à luz do mandato do próprio Jesus Cristo”, disse.
Fonte: Sala de Imprensa da Santa Sé
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