Cardeal Pietro Parolin, as imagens que pudemos receber do Iraque de sua visita, passavam uma sensação de grande emoção. O que representou para o senhor celebrar o Natal com a Igreja mártir do Iraque?
R. – Eu diria que a palavra que você usou – “emoção” – é a correta: uma grande emoção, uma grande comoção esse encontro com as comunidades cristãs do Iraque, e uma grande alegria da minha parte certamente, e me parece ter percebido também da parte deles. Senti-me muito feliz de poder levar a eles a proximidade do Papa, o seu afeto, a sua bênção, a atenção com que ele sempre seguiu seus acontecimentos. Acredito que a viagem correu bem porque inseriu-se neste tempo especial de Natal, em que há uma atmosfera de celebração e alegria. Naturalmente, foi uma ocasião para compartilhar os sofrimentos dos anos recentes e também um pouco das incertezas do presente, mas ao mesmo tempo, também as esperanças pelo futuro. No entanto, eu realmente o definiria como um momento de graça pelo qual sou imensamente grato ao Senhor.
P. – Como o senhor encontrou essa comunidade que – como dizia – vive com alegria a fé em meio a tantas tribulações? Que testemunho, na sua opinião, dá uma comunidade como essa aos outros cristãos do mundo?
R. – Nos pronunciamentos que fiz, sobretudo nas homilias, insisti muito neste ponto: “Vocês são um testemunho para a Igreja universal. A Igreja universal é grata a vocês por aquilo que vocês viveram, em como vocês viveram isso, e deve pegar o exemplo de vocês, desta capacidade de suportar sofrimentos, aflições, pelo nome de Jesus”. Eu diria que esta é uma exemplaridade que eles propõem a toda a Igreja que – como diz o Concílio – “vive entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus”. No entanto, o que mais me impressionou foi o orgulho – no bom sentido da palavra – com que esses irmãos e irmãs vivem sua fé: sentem-se orgulhosos de serem cristãos e de continuarem a sê-lo em meio a tantas dificuldades, a tantas provações e sofrimentos!
P. – Uma viagem que lhe deixou tantas imagens fortes e tocantes. Há alguma em particular que mais o tenha tocado, quem sabe que sintetiza esta sua visita?
R. – As imagens foram tantas, porque cada encontro está bem presente, gravado na minha memória. Certamente a destruição de Mosul, que foi realmente algo que me impressionou profundamente – ver as igrejas, mas também as casas, os prédios, a parte inteira da cidade que mais sofreu pelos acontecimentos bélicos – outra coisa que me impressionou muito foram essas igrejas – tanto as caldeias quanto as sírio-católicas – cheias de gente: cheias de homens, de mulheres, de crianças e de jovens. Todos cantavam e rezavam. Você se sentia levado pela sua maneira de rezar. Uma última imagem que me parece particularmente adequada para a situação no Iraque é esta: quando estávamos em Mosul, era difícil andar pela rua porque havia entulho no meio. O governador de Mosul quis vir me cumprimentar. Em um determinado momento ele me pegou pela mão. Eu senti isso como um momento muito bonito, que deveria ser simbólico daquela que é a colaboração entre cristãos e muçulmanos: tomar-se pelas mãos e ajudar-se mutuamente. Naquele momento – estava chovendo muito – apareceu um lindo arco-íris no céu. Que simbolismo! Também isso, o símbolo da paz, da aliança. Estas são as imagens principais, mas existem muitas outras.
P. – A sua visita, obviamente, acendeu as esperanças de uma visita do Papa Francisco ao Iraque: o que as pessoas que o senhor encontrou lhe disseram a esse respeito?
R. – As pessoas ficaram muito contentes por essa presença. Sentiram também na presença do Secretário de Estado a presença do Papa, porque eu fui lá em nome do Papa para levar a proximidade do Papa! Mas todos, a uma só voz, esperam que ele possa visitar o Iraque em breve e confortá-los pessoalmente. E a essa esperança dos cristãos iraquianos também eu me uno: que sejam criadas as condições, naturalmente, para que o Santo Padre possa ir ao Iraque e possa compartilhar momentos de oração e de encontro com nossos irmãos. Certamente, seria um grande encorajamento para eles, nas dificuldades que ainda devem enfrentar.
P. – No discurso de saudação de Natal à Cúria, Francisco falou de duas grandes aflições: o martírio – precisamente – e depois os abusos. Sobre este tema delicado, quais são as suas esperanças para o encontro de fevereiro?
R. – Penso que o encontro de fevereiro será muito importante, para o qual se está preparando com grande dedicação. As minhas esperanças são que este encontro convocado pelo Papa, de todos os presidentes das Conferências Episcopais, possa fortalecer ou continuar, melhor dizendo – porque já houve o empenho da Igreja na luta contra este fenômeno dos abusos – a atenção em favor das vítimas, e sobretudo a criação de condições de segurança para menores e pessoas vulneráveis. Parece-me que é sobretudo neste ponto que a atenção dos participantes estará concentrada: isto é, como criar um ambiente seguro para os menores e as pessoas vulneráveis. Portanto, eu espero que se caminhe nesta estrada e ao mesmo tempo que exista uma abordagem que se torne sempre mais comum, de toda a Igreja diante desse fenômeno. Naturalmente, depois cada um pode aplicar, também de acordo com a situação local em que se vive, mas que seja clara a “política” para todas as Igrejas. Que seja também uma abordagem que tenha presente todos os aspectos do fenômeno, que são múltiplos e interconectados entre eles, e que depois proceda com uma abordagem que seja inspirada pelos critérios do Evangelho em relação a todas as pessoas.
P. – Para concluir cardeal Parolin, 2019 se apresenta como um ano cheio de compromissos para o Santo Padre: tantas viagens, tantos eventos importantes. Que votos o senhor faria a ele como seu colaborador mais próximo?
R. – Eu diria, e eu realmente o faço no final do ano, mas também no começo do ano de 2019, que o Senhor sustente o Santo Padre em sua entrega contínua em favor da Igreja, e das comunidades cristãs que se encontram em situações de dificuldade e marginalidade. E que ele possa continuar a acender essa esperança e esse amor nos corações dos homens, motivo pelo qual tantos o querem tão bem e tantos o sentem particularmente próximo; muitos veem nele verdadeiramente a esperança de um mundo mais solidário, um mundo mais pacífico, de um mundo feito a medida do homem e da fraternidade. Assim, diante dos tantos desafios atuais, esses são os votos que faço ao Santo Padre para o novo ano.
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