A Tristeza Espiritual: Quando a Alma se Cansa do Céu.

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Há momentos em que a alma se encontra cansada, envolta por uma nuvem silenciosa de melancolia, tibieza ou até mesmo desgosto pelas coisas santas. Muitos vivem esse estado em silêncio, sem compreender que ele possui um nome, um combate e um remédio.

A Igreja, em sua sabedoria milenar, nomeou essa realidade com palavras fortes: acídia, tibieza, melancolia espiritual. Não se trata apenas de uma tristeza comum, mas de uma prova espiritual que, quando não combatida, leva à paralisia interior.

“Por que estás abatida, minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus. ainda O louvarei, Ele, meu auxílio e meu Deus.”
> (Salmo 42,6)

I. A Acídia e a Tibieza: quando a alma esquece seu fervor.

A acídia, segundo São Tomás de Aquino, é uma tristeza diante do bem espiritual percebido como árduo (Suma Teológica., II-II, q.35). Já a tibieza é a perda do fervor no serviço a Deus, um cansaço disfarçado de rotina.

São Gaspar Bertoni alertava:

“A acídia é como um câncer escondido: mata aos poucos, sem dor violenta, mas com morte certa.”
> (cf. Diário Espiritual)

Esses males silenciosos afetam não só a vida pessoal, mas também a vida conjugal e familiar. A oração em comum é deixada de lado, os sacramentos se tornam raros, o apostolado se esfria. Assim, a alma entra num inverno interior.

II. A Melancolia espiritual: solidão no deserto da fé.

A melancolia da alma é uma espécie de noite escura, vivida inclusive por santos como Santa Teresa de Calcutá e São João da Cruz. Eles nos ensinam que o sofrimento silencioso, quando unido à Cruz de Cristo, se torna purificador.

A Imitação de Cristo, obra clássica atribuída a Tomás de Kempis, exorta:

“Não há paz no coração do homem carnal, nem no homem entregue às coisas exteriores; mas sim, no fervoroso e espiritual.”
> (Livro II, capítulo. 1)

E mais:

“Quando te sentires triste e abatido, pensa no sofrimento de Jesus e une o teu ao Dele.”
> (Livro III, capítulo 6)

III. O combate da alma: ferramentas para resistir e crescer.

A tristeza espiritual deve ser enfrentada com perseverança humilde. Os santos nos deixaram armas eficazes:

l Confissão frequente, pois a alma se purifica e se fortalece;
Eucaristia dominical e, se possível, diária, pois é o alimento dos fortes;
Direção espiritual, para discernir a origem das tentações;
Leitura espiritual e silêncio orante.

Entre os grandes guias da vida interior, destaca-se:

A Alma de Todo Apostolado, de Dom Jean-Baptiste Chautard.

“A vida interior é a alma de todo apostolado. Sem ela, o trabalho externo pode ser um fracasso disfarçado de eficiência.”
> (cf. capítulo II)

Esse livro mostra que não é possível sustentar o apostolado familiar, paroquial ou conjugal sem vida interior sólida. Um coração frio não pode aquecer o próximo.

IV. O papel de Maria e José na luta contra a tristeza.

Nos momentos de abatimento, olhemos para Nossa Senhora, modelo de firmeza na fé e de silêncio orante. Mesmo aos pés da Cruz, ela permaneceu de pé (cf. Jo 19,25), unida ao sofrimento de seu Filho com esperança.

“Nunca se ouviu dizer que alguém que a Ela recorreu fosse por Ela desamparado.”
(Santo Afonso de Ligório)

Peçamos também a São José, pai adotivo de Jesus e patrono das famílias, para que nos ensine a fidelidade silenciosa e a fortaleza nos dias difíceis. O Santo Patriarca não compreendia tudo, mas tudo confiava.

Ite ad Joseph! – Ide a José!

V. Oração para dias de tristeza espiritual:

> Senhor Jesus,
> Quando minha alma estiver fraca, sê Tu minha fortaleza.
> Quando meu coração estiver triste, sê Tu minha alegria.
> Quando não conseguir orar, escuta o grito do meu silêncio.
> Renova em mim o fervor perdido.
> Maria, Mãe de Deus e minha Mãe, cobre-me com teu manto.
> São José, exemplo de silêncio fiel, guia minha casa e minha alma.
> Amém.

VI. Conclusão:

A tristeza espiritual não é o fim, mas um tempo fecundo de purificação. Quando unida à Cruz de Cristo, ela se torna escada para o Céu. Que tenhamos coragem para atravessar esse vale com os olhos fixos na promessa de Deus: “Felizes os que choram, porque serão consolados.” (Mateus 5,4)

Não estamos sozinhos. Temos a Palavra, os Sacramentos, o testemunho dos santos, e a intercessão poderosa de Nossa Senhora e São José. Com eles, mesmo na noite da alma, podemos esperar pela aurora da Ressurreição.

Viva Cristo Rei!

Júlio Sousa.
Teólogo pela Faculdade Dehoniana.
Extensão em Família e Matrimônio pela Faculdade Católica de Santa Catarina.
Discente em Direito Matrimonial Canônico pela Faculdade Católica do Mato Grosso.

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