No atual cenário social, onde a natalidade diminui drasticamente em muitas nações, inclusive no Brasil, surge com vigor e testemunho profético uma bela resposta ao coração da Igreja: os casais católicos que, em fidelidade ao Evangelho da vida, assumem com generosidade o dom da fecundidade e formam famílias numerosas. Essa realidade, longe de ser uma resistência ao tempo presente, é um testemunho de confiança na Providência divina e de adesão à doutrina da Igreja sobre o Matrimônio e a abertura à vida.
Esses casais vivem na contramão de uma cultura marcada pelo individualismo e pela mentalidade antinatalista. Com profunda fé, abraçam o ensinamento do Magistério, especialmente da Humanae Vitae (1968), em que o Papa São Paulo VI recorda que “o amor conjugal exige dos esposos uma consciência da sua missão de paternidade responsável” (HV, 10). E essa responsabilidade se traduz, antes de tudo, na abertura ao plano de Deus, reconhecendo cada filho como um dom e não como um peso.
Longe de qualquer ideologia, esses casais não rejeitam a ciência ou o diálogo, mas fazem uso dos métodos naturais de regulação da fertilidade, conforme ensinado pela Igreja, promovendo o respeito mútuo, a castidade conjugal e a educação para o amor. São testemunhas vivas do que ensina o Catecismo da Igreja Católica: “O filho não é um direito, mas um dom” (CIC, 2378). Por isso, não raro, também se abrem à adoção — gesto nobre que é uma verdadeira troca de amor, como São João Paulo II afirmava: “Adotar é uma forma concreta de acolher o dom da vida e um ato de amor generoso” (Evangelium Vitae, 93).
As famílias numerosas são, hoje, verdadeiros sinais escatológicos da confiança no Pai que provê. Como ensina a Escritura: “Os filhos são herança do Senhor, uma recompensa que ele dá. Como flechas nas mãos do guerreiro, assim são os filhos de uma juventude” (Sl 127, 3-4). Em meio a um mundo que valoriza a produtividade e o consumo, esses lares mostram que a maior riqueza está nas pessoas, especialmente nos filhos.
O testemunho dessas famílias é também uma bênção para a Pastoral Familiar. São fermento na massa das paróquias, motivam outros casais, testemunham que é possível viver a castidade, a entrega, o sacrifício e a alegria, mesmo em meio às dificuldades. São sementes de vocações, escolas de humanidade e santuários domésticos onde se aprende a amar.
O Papa Francisco, que em certo momento falou da responsabilidade na paternidade, também se alegrou ao ver famílias numerosas, dizendo: “Ter muitos filhos é um dom de Deus, sinal da generosidade dos pais” (Audiência Geral, 21/01/2015). O equilíbrio está em discernir com sabedoria e fé, confiando na graça que sempre acompanha os que se abrem à vontade de Deus.
Essas famílias não são perfeitas, mas confiam. Não são isentas de dificuldades, mas não deixam de amar. Não acumulam bens, mas semeiam o que é eterno: almas. Elas são testemunhas vivas de que a Igreja é “família de famílias” (Amoris Laetitia, 87), e que a vida floresce onde há entrega, oração, sacrifício e fé.
A Pastoral Familiar tem o belo papel de apoiar, formar, sustentar e caminhar com essas famílias. Cabe a nós animar cada casal a ver no Matrimônio um caminho de santidade (cf. Gaudete et Exsultate), no filho um reflexo da ternura do Pai, e na cruz da rotina diária um altar de amor.
Confiamos à intercessão da Sagrada Família de Nazaré e de Santa Gianna Beretta Molla — padroeira do Serviço à Vida — todos os casais que, abertos à vida, testemunham com coragem que a família cristã é e sempre será o alicerce da sociedade.
Com fé e esperança,
Texto: Júlio José de Sousa Neto
Teólogo com extensão em Família e Matrimônio, discente em Direito Matrimonial.
Agente da Pastoral Familiar.
Formação: Teologia pela Faculdade Dehoniana, Extensão em Família e Matrimônio pela Faculdade Católica de Santa Catarina e cursando Direito Matrimonial pela Faculdade Católica do Mato Grosso.
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