Mons. Ruiz na Pascom: cultura digital, um desafio missionário para a Igreja

Iniciou o 8º Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação (PASCOM Brasil), que tem como tema “Pastoral da Comunicação em uma mudança de época: desafios e perspectivas”, reunindo mais de 900 pasconeiros e pasconeiras de todo o Brasil. A Conferência de Abertura contou a participação de Monsenhor Lucio Adrian Ruiz, secretário do Dicastério para a Comunicação.
 
O Centro de Eventos Padre Vitor Coelho de Almeida, em Aparecida (SP) acolhe de 12 a 14 de julho de 2024 o 8º Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação (PASCOM Brasil), que tem como tema “Pastoral da Comunicação em uma mudança de época: desafios e perspectivas”. Um encontro para que, segundo o bispo de Campo Limpo e presidente da Comissão Episcopal para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Valdir José de Castro, possamos “compartilhar nossas experiencias, alegrias, desafios, mas sobretudo que possamos renovar nosso compromisso com a Evangelho de Jesus, compromisso de sermos sinais da boa nova no mundo da comunicação, ser instrumentos de comunicação que constrói pontes e gera a cultura do encontro”.

Um grande dom para a Igreja

O Secretário do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé, Mons. Lucio Ruiz, definiu os participantes como “um grande dom para a Igreja”, reconhecendo que “o que fazem e como fazem, a dedicação, o empenho e a sabedoria com que percorrem o caminho da Evangelização através da Comunicação são uma riqueza, não só para a Igreja que peregrina no Brasil, mas para toda a Igreja”. Na conferência de abertura, em que refletiu sobre o tema central do encontro, pediu para “nos questionarmos sobre como transmitir a Mensagem que transforma a história em um momento em que a fé, em todo o mundo, está em discussão e, como se diz, as Igrejas estão se esvaziando”. Diante disso, ele propôs “responder com coragem e criatividade para proclamar, com entusiasmo ainda maior, o que mudou nossas vidas, o que deu sentido à nossa existência, o que mudou a história, porque, como os Apóstolos, ‘não podemos calar o que vimos e ouvimos'”.

Mudança de época

Baseando-se no Relatório Síntese da primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre Sinodalidade, ele enfatizou que “todo ser humano constrói sua identidade individual em um ambiente cultural que fornece a estrutura para a compreensão de si mesmo, de seu papel na sociedade, uma hierarquia de valores e um propósito desejável para o desenvolvimento de sua vida”, algo marcado hoje pela “imersão em processos digitais que afetam a maneira como as pessoas adquirem informações, formam seus pensamentos, trocam expressões de afeto, assumem valores e compartilham vários momentos”, o que é chamado de “cultura digital”, que molda vários elementos, criando um ecossistema cultural complexo, que o Papa Francisco chama de “mudança de época”.

Refletindo sobre a necessidade de inculturação do Evangelho, Mons. Lucio Ruiz lembrou que Francisco pede que “toda a Igreja ‘escute’, que tenhamos a coragem de descobrir a ‘carne sofredora de Cristo’ e que sejamos todos, em primeira pessoa, os ‘bons samaritanos’ que curam as feridas da história, com o amor salvador e redentor de Jesus”. Partindo da importância de Pentecostes, ressaltou que os apóstolos, com a presença do Espírito, pregam e o povo os entende, afirmando que “o ‘medo’ é contrariado pela coragem de ‘pregar’; o ‘estar fechado’ é contrariado pelo ‘sair’; o ser entendido somente entre eles, é contrariado pelo ‘ouvi-los falar em sua própria língua'”.

A partir daí, ele insistiu que “não basta pregar, precisamos ser compreendidos!”, considerando que ser compreendido é “um sinal da presença do Espírito”, para o qual é necessário “inculturar a pregação para que ela possa ser compreendida na língua do povo”. A partir dessa perspectiva, assinalou que “os processos de inculturação são necessários para estabelecer um diálogo efetivo com cada cultura e, assim, poder identificar as necessidades de cada ambiente”, algo que referiu à realidade digital, que “não é simplesmente um instrumento, mas uma cultura, a nossa”.

Desde o Concílio Vaticano II, com o decreto Inter Mirifica, a comunicação passou a ser considerada como um espaço, mostrando os passos dados pelo Magistério pontifício, que “seguindo a evolução cultural, também caminhou e aprofundou a encarnação da Mensagem na cultura comunicacional”. Isso o levou a questionar “se essa consciência de inculturação, para que a Mensagem seja ‘pregada e compreendida’, projeta estruturalmente nossas homilias, nossa catequese, nossas confissões, nossos ensinamentos, nossa pastoral e nosso currículo acadêmico…”.

Cultura digital, desafio missionário para a Igreja

Lucio Ruiz considera a cultura digital como um desafio missionário para a Igreja, ainda mais se levarmos em conta que 68% da população mundial está imersa na “cultura digital”, o que exige o envolvimento de toda a Igreja, o que apresenta desafios, dada a vertigem das mudanças. Isso exige uma mudança de perspectiva, e ver que “a comunicação não é uma atividade da Igreja, mas sua essência”, o que exige um retorno às origens, “à essência teológica do que é constitutivo para nós”, chamando a “passar da tecnologia ao querigma”, o que muda tudo.

“Por que a Igreja ainda não reconhece e aceita a cultura digital como um espaço de evangelização e missão?”, perguntou o secretário do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé. A isso ele respondeu que “esse fenômeno se deve ao fato de que ainda não foi superada a visão instrumental do digital”, considerado uma ameaça, algo superficial, um espaço de lazer, com linguagem frívola, leve, incapaz de gerar uma comunicação válida, de ir ao encontro da pessoa e transmitir a Mensagem. Isso requer, insistiu novamente Lucio Ruiz, “passar de um instrumento a uma cultura”, que seja compartilhada, que compreenda o espaço e o tempo e que evangelize.

A necessidade de passar do instrumento à cultura busca evitar “uma pastoral que usa o digital para fazer um caminho paralelo enquanto o mundo vive imerso em uma realidade diversa”. Não se trata apenas de “digitalizar a pastoral”, mas de uma “pastoral digital”, ou seja, “proclamar a Mensagem na linguagem, nos tempos, nas dinâmicas, na narrativa, na forma própria desta cultura, para que os homens e mulheres de hoje possam entendê-la e vivê-la”, sublinhou, relacionando-a com a missão, “porque se a cultura é nova, e essa cultura é habitada, então a cultura é missionária”. Para isso, é necessário usar o idioma nativo das pessoas, “para que elas conheçam, entendam e vivam a Mensagem que realmente responde às perguntas existenciais de cada homem e mulher, e que realmente muda o curso da história”.

Inteligência Artificial: o futuro no presente

Na reflexão sobre “Inteligência Artificial: o futuro no presente”, com a assessoria de Everthon de Souza Oliveira e Aline Amaro da Silva, que abordaram as Aplicações e Implicações Sociais da Inteligência Artificial e seu uso na Pastoral da Comunicação. O primeiro apresentou brevemente o que é a Inteligência Artificial, algumas das suas técnicas e tendências e até onde pode chegar, afirmando que “ao tentar unir Pastoral e Inteligência Artificial devemos avaliar se de fato temos uma Pastoral Inteligente ou uma Evangelização Artificial”.

Com relação ao segundo elemento, foi colocado que a Igreja é impactada de diversas maneiras com as plataformas tecnológicas. De fato, plataformas da IA são usadas na evangelização, mostrando seus benefícios e potencial, seus riscos e desafios e sua aplicação. Isso demanda pensar o futuro desde a necessidade de formação, a produção de conteúdo, o fortalecimento da articulação e a garantia da integração espiritual.

Padre Modino – Vatican News

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