40 Anos da Província Nossa Senhora da Piedade: A Presença dos Frades Capuchinhos Franceses e Italianos em Pernambuco e na Bahia
A experiência missionária dos capuchinhos franceses, da província de Bretanha no Brasil, aconteceu entre os anos de 1612 a 1615 e de 1642 a 1672. A chegada destes missionários não integrava os percursos coloniais portugueses, visto que estavam sujeitos à Sagrada Congregação de Propagação da Fé, e não ao Padroado Régio, além de serem súditos de El Rei Cristianíssimo, Luís XIII. Mesmo assim, estes religiosos puderam se estabelecer no Brasil, auxiliando na guerra da Restauração de Pernambuco. Vieram outros frades, também franceses, deportados da África pelos holandeses que já ocupavam aquele Estado. O trabalho missionário dos capuchinhos bretões entre os indígenas “tapuias”, no sertão do nordeste do Brasil, iniciou-se apenas em 1670, atuando no avanço da colonização para o interior do território brasileiro, juntamente com a atividade pecuária e a busca por minas de ouro, prata e salitre.
Esses Frades, se espalharam até a Bahia, em 1671, desde que começaram a catequese dos Indígenas Cariris na região do Rio São Francisco. De lá, eles quase sempre desciam o sertão em demanda da capital da Colônia, a BAHIA DE TODOS OS SANTOS. Por não terem casa própria se hospedavam no Mosteiro de São Sebastião dos Monges Beneditinos ou no Colégio dos Jesuítas.
Era por isso, muito natural que pensassem numa casa de hospedagem e cuidassem em ter também ali um hospício como tinham em Pernambuco, no Rio de Janeiro e até em Lisboa, e todos eles com o beneplácito real.
O primeiro missionário indicado e, depois, nomeado como Superior das Missões Capuchinhas, para além do Rio São Francisco, foi Frei Martinho de Nantes, o mentor da construção do Hospício da Piedade. O Padre Frei Martinho de Nantes em sua primeira vinda à Bahia, havia aceito na capital, um terreno que lhe fora oferecido para um hospício e escreveu nesse intento aos Capuchinhos de Lisboa, “pedindo que avançassem as práticas junto ao Rei”. Outro pedido foi dirigido a Câmara da Bahia, que por sua vez, encaminhou a Lisboa expondo as virtudes do requerente, o zelo, a prudência com que os Capuchinhos Franceses, tinham trabalhado incessantemente, pregando o Evangelho.
Ele inicia a habitação petite cellule com a liberação do alvará em 1679. Em 1687/1688, o convento foi construído, mas muito modesto: um quadrilátero, com um dos lados formados pela parede da Igreja e os três restantes constituindo o convento simples terraço.
Novos capuchinhos franceses, a partir de 1687, estiveram impedidos de entrar no Estado do Brasil e, em 1702, os últimos religiosos deixaram a Colônia porque esta Missão foi encerrada em 1701, devido a desavenças entre Portugal e França. A Missão foi retomada pelos frades italianos em 1705, por convite da Rainha de Portugal, Maria I.
Nesse caso, a Rainha de Portugal convidou frades italianos para assumir a Prefeitura Apostólica da Bahia a partir de 1705: “1ª Missão Italiana”, com o término da Missão Francesa na Bahia, a Missão Italiana logrou grande êxito, encarregando-se da catequese dos indígenas e do trabalho de evangelização no interior com as Missões Populares, ou chamadas Missões Ambulantes e assistência material e social ao povo, que já estava enfraquecendo no final do século XVIII. As causas eram as leis antirreligiosas do Marquez de Pombal, a partir de 1761, as agruras do campo de trabalho, o isolamento das estações missionárias, a falta de comunicação, as secas, a perseguição dos invejosos donos de terra, o peso do padroado – o direito concedido pelos papas aos reis de Portugal de administrar os assuntos religiosos nas terras além-mar, direito que começou a ser concedido no século XV quando Portugal começou a expansão ultramarina.
Em 1622, o Papa Gregório XV, fundou a Sagrada Congregação da “Propaganda Fidei”, como o órgão supremo para a propagação da fé, atribuindo-lhe um duplo propósito: promover a reunificação dos cristãos e difundir a fé entre os pagãos. Esse órgão defendeu uma política missionária que contrariou o exclusivismo do Padroado português que até então foi comandado pela Companhia de Jesus, segundo Leandro Nascimento de Souza. À Congregação também foi reconhecido o poder de decisão necessário para garantir rapidez e eficácia no grande compromisso de evangelização.
Mesmo com bom êxito do trabalho missionário, os frades capuchinhos necessitavam de uma casa ou um centro de acolhimento, por isso que os capuchinhos italianos obtiveram o hospício que na Bahia haviam construído os capuchinhos bretões; com o hospício passou para eles a igreja em anexo, dedicada à Nossa Senhora da Piedade. Um e outra foram melhorados pelos missionários italianos. As primeiras melhorias relevantes foram introduzidas pelo Padre Frei Anselmo de Adorno, que foi prefeito de 1722 a 1725 e mais tarde de 1747 a 1754.
Com a independência do Brasil, em 1822, os frades italianos foram considerados estrangeiros indesejáveis e as Missões dos Capuchinhos estavam suspensas até 1829. Nova fase começa em 1840 e se prolonga até os dias atuais, sem quebra de continuidade. No 2ª Império foi instituída a 2ª Missão italiana e foram reorganizadas as Prefeituras Apostólicas da Bahia.
Limites cronológicos da chegada dos Capuchinhos franceses na Bahia
Acontecimentos marcantes, com três períodos, de limites bem definidos:
1º. De caráter exclusivamente francês, com o apostolado sobretudo para a conversão do índígena (1642-1702);
2º. Caracterizado pela administração interprovincial italiana, com o apostolado indígena em declínio e crescimento do apostolado entre o povo (1705-1892);
3º. Distingue-se pela gestão exclusiva dos capuchinhos Picenos – Província das Marcas:
a) Saída dos capuchinhos franceses (1702);
b) chegada de Frei Martinho de Nantes, ao Brasil – Bahia (03 de agosto de 1671);
c) Entrega da Missão e Prefeitura da Bahia à Província das Marcas de Ancona – Frei Miguel de Cagli (1892-1983);
d) Custódia Provincial da Bahia e Sergipe (1937 – 1970);
e) Período de Passagem da Custodia à Vice Província (1971 – 1982);
f) – Elevação à Província, independente da Província das Marcas, tendo como 1º provincial dos frades capuchinhos da Bahia e Sergipe Frei Urbano Grigório de Souza (02/07/1983).
Regni, Vittorino. Capuchinhos na Bahia, vol. 1, p9. 35.
___________ cappuccini in Brasile, Ancona, 1991
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