Ter uma vida de caminhada, marcada pelos sacramentos, e deixar Deus falar ao coração. Esses são os primeiros sinais que um jovem deve observar para tentar compreender para qual vocação ele está sendo chamado. As possibilidades são inúmeras, mas, quando o rapaz sente o desejo de doar a própria vida pela salvação das almas, através do sacerdócio, surge um questionamento: “Quero ser padre, e agora?”.
“O primeiro passo deste jovem deve ser o de procurar o pároco da paróquia onde participa e expressar o desejo, falar da atração que sente pelo ministério sacerdotal. Então, o padre que está ali mais próximo irá orientá-lo, inicialmente, a fim de começar a perceber os sinais vocacionais. Se estes sinais parecerem ser mais sólidos, então é o pároco quem vai enviar esse rapaz para participar do grupo Bom Pastor”, afirma o reitor do Seminário Propedêutico Santa Teresinha do Menino Jesus, padre José Franklin Silveira.
O grupo Bom Pastor, organizado e realizado pelo Serviço de Animação Vocacional (SAV), tem como objetivo promover um caminho de discernimento para aqueles que se sentem chamados à vida sacerdotal. Desta forma, os rapazes participam de formações mensais, no Centro Vocacional Dom Lucas Moreira Neves (CVDL), em Salvador. “Neste período de um ano, o jovem vai ser acompanhado, com a presença dos padres formadores ou de sacerdotes convidados, sempre aos sábados. No turno oposto ao dos encontros formativos, o rapaz contará com o auxílio de uma psicóloga, a fim de que possa ir percebendo os sinais da maturidade humana”, esclarece o padre José Franklin.
Ao longo deste ano de formação no grupo Bom Pastor, o jovem vai poder dar início a um caminho que o leve a conseguir viver uma vida comunitária, mas também se conhecer para poder enfrentar os desafios próprios que o seminário pede ao candidato, entre eles a disciplina, a oração e os estudos.
“Algo que é muito importante para que os padres observem nos jovens que desejam ingressar no seminário: que eles tenham uma vida eclesial. Na maioria das vezes essas vocações são despertadas nos grupos de coroinhas, de acólitos, mas seria importante que eles fizessem experiências em outras pastorais, também para sentir um pouco o ritmo da vida da comunidade, até porque depois isso vai ser exigido dele. Então, quanto mais experiência ele traz, mais fácil será o caminho para desenvolver as habilidades que possui e, assim, colaborar também na construção das comunidades”, orienta o padre Franklin. Além de ter uma comunidade eclesial de referência e apresentar a carta do pároco, o jovem deve ter, no mínimo, 18 anos, boa saúde, ter concluído o Ensino Médio, ter maturidade vocacional e deve se sentir apto a dizer ‘sim’ neste caminho novo de renúncias e sacrifícios.
Aprofundamento na fé
Após o ano de acompanhamento no grupo Bom Pastor, é chegada a hora de dar os primeiros passos na etapa propedêutica. A partir deste momento, por um ano, o rapaz passa a morar no Centro Vocacional Dom Lucas Moreira Neves, onde tem início, de fato, o processo formativo. “A Igreja foi percebendo que havia uma demanda a ser sanada na maioria dos candidatos que ingressavam no seminário, seja no que diz respeito à formação, seja quanto ao catecismo. Então, viu-se a necessidade de se fazer esse ano para que ajustes pudessem acontecer, e para que os jovens pudessem ir discernindo, como se fosse um ano sabático, recebendo algumas instruções dentro do seminário. Temos uma gama maior de disciplinas voltadas para a espiritualidade, Bíblia e doutrina com o objetivo de dar esse substrato para que eles possam prosseguir”, diz o padre José Franklin.
O discipulado
Após a etapa Propedêutica, se aprovado no vestibular para cursar Filosofia, o jovem é enviado para o Seminário Maior, localizado no bairro da Federação, também em Salvador. “Nesse momento eles passam por uma avaliação do reitor do Propedêutico, que vai confirmar se eles podem passar para o Seminário Maior, para a etapa do Discipulado, que é a antiga etapa filosófica. Com a nova Ratio Fundamentalis da Congregação para o Clero, o Discipulado seria o lugar não só dos estudos filosóficos, mas também o lugar onde o jovem seminarista vai, a partir da sua humanidade, desenvolver a espiritualidade e a vocação para que, conhecendo quem é ele, possa então responder a Deus dentro das suas possibilidades. Esta etapa é muito exigente, pois é o momento no qual o seminarista trabalha a sua humanidade, para que possa escutar melhor a Deus e, ao escutá-lO, se colocar à disposição para segui-lO, adquirindo assim algumas qualidades para que na próxima etapa, que é a da Configuração, ele possa, então, começar a se configurar a Cristo Bom Pastor”, afirma o reitor do Seminário São João Maria Vianney, padre Alberto Montealegre Vieira Neves.
Na etapa do Discipulado o seminarista caminha durante três anos, sendo que o que define a passagem entre uma etapa e outra não é apenas o desempenho no curso de Filosofia, mas as quatro dimensões que são trabalhadas, segundo a Pastores Dabo Vobis, sendo acrescentada mais uma no Brasil: intelectual, espiritual, humana, pastoral e comunitária.
A Configuração
Ao ingressar na etapa da Configuração, que é a teológica, o seminarista é também avaliado na capacidade de discernir para poder se doar. “Este é o momento da entrega a Cristo, para que assim eu possa servir não por interesse e nem por conveniência pessoal, mas porque eu descobri Nele o meu tesouro, a minha riqueza, a minha vida. Para isso, a pessoa deve se conhecer, conhecer os seus limites, saber lidar com eles e, a partir de então, ser capaz de se doar gratuitamente a Cristo e à Igreja”, diz o padre Alberto.
É nesta etapa que acontece a admissão às Ordens Sacras e a instituição nos ministérios do leitorato e do acolitato. “Com a admissão às Ordens Sacras, a Igreja está reconhecendo que aquele seminarista tem sinais vocacionais, nas atitudes e no modo de ser, de que pode assumir o Sacramento da Ordem no ministério presbiteral. É bom deixar claro que a vocação tem o seu âmbito interno, que é a minha relação com Deus, internamente no meu coração, mas é preciso que a Igreja confirme a minha vocação ao sacerdócio; e vai confirmar isso a partir da constatação de sinais vocacionais, que fazem com que a Igreja vislumbre naquele jovem a capacidade dele assumir o ministério sacerdotal”, afirma o padre Alberto.
Já no segundo ano de Teologia, o seminarista recebe o ministério do leitorato. Neste momento é exigido que o jovem tenha a capacidade de ter relação íntima com a Palavra de Deus, conhecendo-a não apenas intelectualmente, mas, a partir da vida de oração, ter a capacidade de a transmitir não só com o falar, mas, sobretudo, com o testemunho de vida. Ao ser instituído neste ministério, o candidato ao sacerdócio passa a proclamar a Palavra de Deus, oficialmente, em nome da Igreja.
O acolitato é conferido ao seminarista ao final do terceiro ano de Teologia. “Este ministério é a identificação do seminarista com a Eucaristia, que está no centro da vida da Igreja, mas também no centro do ministério presbiteral. Então, vai ser exigido dele essa capacidade de uma doação maior. Ao receber o acolitato, o jovem vai poder distribuir a comunhão nas missas, levá-la aos enfermos, cuidar e expor o Santíssimo para adoração. Ele vai ter uma relação mais íntima com a Eucaristia. Uma relação que é de serviço, mas que é também de vida eucarística”, diz o padre Alberto.
Ao chegar ao fim do quarto ano de Teologia, o seminarista recebe o diaconato. Antes, porém, o jovem vive uma experiência de modo mais profundo na vida paroquial. “Na Ratio Fundamentalis pede que tenha essa etapa da síntese vocacional, que é estar em uma paróquia e exercitar o que ele aprendeu na formação. Porém, dentro da nossa realidade de Arquidiocese de Salvador, sobretudo na nossa realidade formativa, o seminarista já tem uma vida pastoral muito ativa, pois todo fim de semana os jovens já vão até uma paróquia e, além disso, temos um tempo de missão durante as férias de julho. Então, se tudo correr bem dentro do processo formativo, lembrando que cada seminarista é visto individualmente, no final da Teologia ele já pode ser ordenado diácono transitório, sendo já encaminhado para uma paróquia”, explica o padre Alberto.
“Eu digo sempre que não é necessário que o jovem tenha certeza de que quer ser padre para entrar no seminário. Basta que ele queira fazer um caminho de discernimento vocacional, e que ele se sinta atraído pela vocação sacerdotal. Muitos não se sentem dignos de serem padres, então eles querem uma certeza de Deus. Essa certeza a gente só vai ter na Ordenação. Deus não quer nada que eu não quero. Ele não vai me obrigar a seguir um caminho que eu não queira. É claro que, ao aceitar o candidato no seminário, percebemos que aquele jovem quer fazer o caminho de discernimento vocacional, que tem alguma coisa ali que incomoda o coração dele”, destaca o padre Alberto.
Mas, o que dizem os reitores aos jovens que estão sentindo o chamado para a vocação sacerdotal?
Para o padre Franklin é necessário dar ouvidos ao que incomoda o coração. “Digo ao jovem que ele se sinta desafiado a responder a esse apelo, a não deixar de lado quando sente que é chamado, a buscar investigar, a buscar pessoas preparadas nesse caminho de discernimento. Deus sempre fala ao coração, mas sempre há alguém que auxilia a dar uma resposta. Jovem, busque este lugar para dizer com inteireza ‘sim, Senhor!’. Para as famílias, eu digo que é o momento de apoiar. Quando o chamado é percebido e parte do próprio Deus, há algo de grandioso. Quando Deus chama, Ele não deixa um vazio. Ele vai completar com bênção para que a família seja modificada através da vocação desse jovem”, afirma.
O padre Alberto pede aos jovens que confiem em Deus. “Confiem no projeto que Deus tem para vocês, mesmo que pareça ser difícil ou, muitas vezes, impossível. Ao chamar, Deus dá a graça para que possamos responder à missão que Ele confia. Desejo que o jovem possa apenas se entregar a Deus e se permitir iniciar o caminho com Cristo, com a Sua Igreja e com aqueles que a Igreja coloca como responsáveis por conduzir o processo de discernimento vocacional”, diz.(Arquidiocese de Salvador)
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