Cardeal Dom Sergio da Rocha
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil
O dia 13 de março deste ano é uma data muito especial para todos os devotos e admiradores de Santa Dulce dos Pobres. Nós celebramos os 30 anos da passagem da amada Irmã Dulce para o céu, ocasião especial para fazer memória, expressar ação de graças e aprender com ela a amar e servir num mundo marcado por tantas situações de sofrimento. São 30 anos de saudade que se tornam 30 anos de gratidão e aprendizado.
A veneração a Santa Dulce dos Pobres, o “anjo bom da Bahia” e do Brasil, tem crescido de modo admirável. Seu testemunho de santidade através da caridade tem inspirado pessoas, comunidades e instituições, no serviço solidário aos pobres, aos enfermos, às crianças, aos idosos e a tantas outras pessoas fragilizadas. A “cultura do descarte”, tantas vezes, criticada pelo Papa Francisco, tende a excluir quem não interessa ao mercado, pela sua situação de fragilidade ou vulnerabilidade social. Santa Dulce dos Pobres acolhia generosamente os que eram descartados pela sociedade, ensinando que todos são amados por Deus e devem ser amados por nós, como verdadeiros irmãos.
Desde 13 de março de 1992, a querida Irmã Dulce deixou de estar fisicamente presente nas ruas de Salvador e nas suas obras sociais, passando para a casa do Pai celeste, mas não deixou de estar com aqueles a quem amou e serviu, intercedendo por todos como Santa Dulce dos Pobres e inspirando-nos com a sua vida. A memória e o testemunho de Irmã Dulce ultrapassam as fronteiras das comunidades católicas, tornando-se patrimônio de Salvador, da Bahia e do Brasil.
A celebração dos 30 anos da morte de Irmã Dulce ocorre neste tempo de angústia e desesperança marcado pelas duras consequências da pandemia, pela guerra na Ucrânia e por tantos outros conflitos armados, por inúmeros casos de violência que tendem a se instalar no cotidiano como algo natural. Santa Dulce tem muito a nos ensinar sobre a força transformadora do amor. Com ela, somos chamados a reafirmar a força do amor sobre o ódio, do perdão sobre a vingança e da solidariedade sobre o egoísmo. Diante dos obstáculos, ela não desistiu de percorrer o caminho do amor, da solidariedade e da paz. Diante dos desafios e dificuldades, não podemos desanimar de prosseguir no caminho da fraternidade e da paz.
O legado de Irmã Dulce inclui as obras sociais, pois não basta a vivência espontânea e pessoal do amor ao próximo sofredor. É preciso a vivência comunitária da caridade, com organização e parcerias. As Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) prolongam o coração generoso e os braços abertos de Santa Dulce dos Pobres, acolhendo e servindo com amor aos que mais sofrem, muitas vezes sem ter a quem recorrer. A celebração da passagem de Irmã Dulce seja também ocasião para renovar gratidão e apoio à OSID, preservando e valorizando o seu legado.
*Artigo publicado no jornal A Tarde no dia 13 de março de 2022.
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